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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Fernando Haddad: A "ascensão dos de baixo incomoda algumas pessoas"

Fernando Haddad (PT) deu palestra na USP, na última terça-feira, 31.
Fotos: Filipe Peres
Com um auditório lotado, Fernando Haddad (PT/SP) esteve ontem, 31, na Universidade de São Paulo, na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, para dar uma palestra sobre Crise e Conjuntura Política Nacional.

"Eu começo a me preocupar com o Brasil quando [...] eu era Ministro da Educação e começo a perceber um certo mal-estar entre as pessoas que eu frequento. Eu sou branco, universitário, professor da USP e frequento alguns ambientes. No mesmo ambiente que eu frequentava eu via uma certa indisposição  com o que vinha acontecendo no Brasil. E era pelas piores razões: Era um certo incômodo com a ascensão dos de baixo. A chegada dos de baixo parecia incomodar algumas pessoas". Esta foi uma das primeiras falas de Haddad no anfiteatro da Faculdade de Direito da USP/Ribeirão Preto. Mais adiante, o ex-prefeito completou o pensamento: "O fato é que tanto no mercado de trabalho quanto nos serviços públicos as coisas estavam se alterando e causando incômodo".
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto.

Fernando Haddad também falou sobre Temer e o atual programa de reformas antissociais: "E nessa condição (de Vice-Presidente) que ele interessa ao establishment [...] porque é uma pessoa que está disposta a qualquer programa de governo para se alçar na condição de Presidente da República. E o programa de governo do Governo Temer não foi escrito pela populaçao e nem pelo partido dele, porque o PMDB jamais escreveria o programa que está sendo imposto ao país. Aquele programa veio pronto do mercado financeiro, redigido pelo mercado financeiro [...] de como deverá a crise, impondo sobre a população como  um todo o ônus de todo o ajuste que deve ser feito".

Veja o vídeo na íntegra:


Fernando chamou a atenção para o sujeito indeterminado destas reformas: "Ninguém assina [...] mas elas já vêm redigidas, muito bem redigidas, mas com um endereço certo: privar a população de direitos recebidos". E emendou falando sobre o incômodo que a Constituição de 1988 causou nos primeiros governos pós-ditadura civil-militar: "Porque a Carta Constitucional é de 1988 mas a consequência  da Carta de 1988 só aconteceu agora. Tanto isto é verdade que por 3 mandatos (Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso - 2 mandatos), estes dois Presidentes não fizeram outra coisa senão reformar a Carta recém promulgada [...] Imaginem vocês, a gente sai de uma ditadura militar, elege uma assembleia nacional constituinte, redige uma carta constitucional e ato contínuo: em 1989, 94 e 98 elege presidentes que tentam com todos os esforços possíveis desfigurar a Carta Constitucional. Então, só a partir dos anos 2000 é que começamos a dar consequência  a carta constitucional de 88".

Fernando Haddad, depois, fez a separação de projetos de Brasil entre aqueles que querem desfigurar a Constituição de 1988 e os que desejam, de fato, aplicá-la: "E essa crise tem muito a ver com essas duas divisões de Brasil porque este pacote de reformas são verdadeiros Atos Institucionais que estão sendo perpretados para a população. Eles não passam por nenhum critério de legitimação. Não passou pelas urnas e não passa pela consulta popular".

O anfiteatro da Faculdade de Ribeirão Preto foi tomado pelos estudantes.

O ex-prefeito de São Paulo diz que o motivo da crise nunca foi econômmica, mas de projeto de país: "Já se anuncia que a crise ficou para trás e, na minha opinião, não. E por que razão? Porque essa crise se apresentou como uma crise econômica sem ser uma crise econômica. Na verdade, é uma crise que tem a ver com a maneira de enxergar  o Brasil, com a maneira de governar o Brasil, com quem governar e para quem governar o Brasil. É uma pergunta que tem que estar na cabeça das pessoas em 2018, para que elas possam decidir o rumo a tomar: Se nós vamos fazer estes ajustes pretendidos para voltarmos a ser aquele país que não se incomoda, minimamente, com a desigualdade e toca a vida com a riqueza para muito poucos, exportando commodities e deixando a ciência, cultura, tecnologia e educação prá lá ou se nós vamos nos assumir como Estado-Nação, com um projeto de desenvolvimento que seja inclusivo, que seja nacional, que seja social, simultaneamente".

No final, Haddad, dissertou sobre a crise: "Veja a que ponto nós chegamos. Há um ano atrás eu dizia que parece que nós estamos vivendo uma situação da República Velha, pré-Getúlio Vargas porque nós estamos acabando com a CLT, com algumas estatais, com isso, com aquilo. Mas não contentes com isso, resolvemos regredir um pouco mais, passamos a discutir conceito de trabalho escravo, discutir a alimentação dos pobres,se pode ser granulado ou se vai ser comida de verdade. Nós passamos a discutir essas coisas no Brasil". 

Mais fotos:



Haddad é observado pela docente da Faculdade de Direito da USP, Cintia Carneiro, enquanto fala.


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