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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

MST realiza ato em defesa da reforma agrária popular em Ribeirão Preto


Ato em Defesa da Reforma Agrária Popular debateu a crise do capital.
Fotos: @filipeaugustoperes

Ato reúne militantes, lideranças políticas e movimentos sociais para debater justiça social, luta pela terra e preservação ambiental


Neste sábado, 1º de fevereiro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou o “Ato em Defesa da Reforma Agrária Popular”. A atividade fez parte do seu Encontro Regional, em Ribeirão Preto, São Paulo e aconteceu no CEAGESP Armazém, reunindo militantes, aliados e a comunidade local.

Exploração do trabalho da população negra pela cultura da cana-de-açúcar no interior paulista retratada pela artista visual Emaye Marques


A abertura do encontro foi marcada por uma mística conduzida pela artista visual e educadora Emaye Natalia Marques, com a performance intitulada A Rota do Podão de Ouro. Inspirada pela relação entre a população negra e a cultura da cana-de-açúcar no interior paulista, a performance revisitou as ferramentas e as vestimentas dos trabalhadores rurais, mesclando memória e denúncia sobre as condições de trabalho e a exploração histórica.

A mística também apresentou a leitura da Carta da Coordenação Nacional do MST, em que reafirmou a necessidade da Reforma Agrária Popular no país para superar a destruição ambiental, a concentração de riqueza e a desigualdade social. Além disso, prestou uma homenagem aos militantes Valdir do Nascimento e Gleison Barbosa de Carvalho, brutalmente assassinados no dia 11 de janeiro, no Assentamento Olga Benário, em Tremembé/SP, por grupo armado ligado à especulação imobiliária.

O ataque, que deixou outras seis pessoas feridas, revelou a vulnerabilidade das famílias assentadas diante da violência agrária e a omissão do Estado em garantir sua segurança.

Professora Doutora, Manuela Aquino abordou a crise do capital.


Em seguida, a professora Doutora, Manuela Aquino, da direção regional do MST, fez uma análise de conjuntura em que abordou as múltiplas crises que assolam o Brasil. Manu explicou como a crise estrutural do capital se manifesta em diferentes dimensões: econômica, social, ambiental e política. 

“Estamos diante de um modelo predatório que não apenas concentra riqueza, mas também destrói relações de trabalho, aprofunda a desigualdade e compromete o meio ambiente”.

A socióloga também destacou os impactos da crise ambiental, destacando os incêndios que devastaram milhões de hectares no Brasil em 2024. 

“O agronegócio avança sobre os biomas sem freios, explorando a terra até o limite, enquanto milhões de brasileiros sofrem com a fome. Precisamos massificar a luta pela reforma agrária e fortalecer a agroecologia como alternativas” .

A crise política também esteve no centro da análise, com Aquino criticando o desmonte das políticas públicas desde o golpe de 2016 e o fortalecimento da extrema-direita. 

“O governo pode ter mudado, mas o Estado continua sendo estruturado para beneficiar as elites. Precisamos continuar ocupando, resistindo e organizando a luta”.

Falas de aliadas e aliados fortalecem o ato

Vereadora Judeti Zilli, do Coletivo Popular Judeti Zilli (PT)


O evento contou com falas de diversas lideranças políticas e sociais. A vereadora Judete Zilli, do Coletivo Popular Judeti Zilli (PT) reafirmou seu compromisso com a luta pela reforma agrária e a agricultura familiar. 

“O MST representa a resistência e a construção de um projeto popular para o Brasil. Precisamos garantir terra para quem trabalha e combater a concentração fundiária que alimenta a desigualdade”.

João Brás (PSOL)

João Brás, liderança do PSOL e assessor do mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL) destacou a importância da organização coletiva para enfrentar o avanço do agronegócio e da especulação imobiliária. 

“O que estamos vivendo é um processo brutal de retirada de direitos e apropriação da terra pelo capital. A resistência tem que ser diária e incansável”.

Filho de assentado da Reforma Agrária, Murillo Miguel coordena projeto de reflorestamento no assentamento Mário Lago

Filho de assentado pela reforma agrária e integrante da direção regional do MST, Murillo Miguel destacou a necessidade de ampliar a mobilização popular contra o avanço da extrema-direita. “

“A luta do MST é a luta de todos que defendem um país mais justo. Precisamos unir campo e cidade para barrar os retrocessos e exigir políticas públicas que beneficiem o povo, não o lucro das grandes corporações.”

Douglas Marques (OAB)

Douglas Marques, representante da Comissão de Direitos Humanos da 12ª Subseção da OAB, fez um alerta sobre a violência no campo e a impunidade em relação aos ataques contra assentados. 

“Os assassinatos de Valdir e Gleison não podem cair no esquecimento. Precisamos cobrar investigações rigorosas e responsabilização dos criminosos. A violência agrária é uma estratégia de intimidação, e não podemos permitir que ela vença.”

Priscilla Pedrosa (JUNTAS)

A representante do coletivo Juntas/PSOL, Priscilla Pedrosa, reforçou a necessidade de interligar a luta pela reforma agrária com a defesa dos direitos das mulheres e das populações marginalizadas. 

“As mulheres são protagonistas nas ocupações, na produção agroecológica e na organização da luta. O feminismo e a luta pela terra caminham juntos, porque falamos de justiça, de dignidade e de direitos básicos que ainda nos são negados.”

Rosana Gaspar (CONSEA)

Rosana Gaspar, presidenta do CONSEA, trouxe dados sobre a insegurança alimentar e a urgência de fortalecer políticas públicas que incentivem a produção da agricultura familiar. 

“O Brasil produz alimentos em abundância, mas milhões de pessoas passam fome. O problema não é a falta de comida, mas a lógica perversa do agronegócio e do mercado, que prioriza a exportação e deixa o povo sem acesso ao que é produzido.”

Matheus Morais Cândido (UP)

Matheus Morais Cândido, representante da Unidade Popular, reforçou a defesa da nacionalização da terra como instrumento para a soberania alimentar e o desenvolvimento popular. 

“O Brasil produz alimentos mais do que suficientes para garantir que ninguém passe fome, mas o sistema capitalista impede que essa riqueza seja distribuída de forma justa,” criticou. Ele também alertou para o aumento da insegurança alimentar e chamou os presentes a fortalecerem a luta conjunta entre trabalhadores do campo e da cidade”.

Fátima Suleiman

Fátima Suleiman, presidenta do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina fez uma intervenção emocionada, traçando paralelos entre a luta do MST e a resistência do povo palestino. 

“Assim como nós resistimos à ocupação de nossas terras, vocês também enfrentam a violência do latifúndio e da especulação imobiliária. A luta pela terra é uma luta pela vida.”

Suleiman pediu solidariedade internacional e destacou a necessidade de ampliar a visibilidade da causa palestina no Brasil .

Marina  Pereira (Coletivo Baixada)


Marina Pereira, do coletivo Armazém da Baixada, trouxe reflexões sobre a necessidade de superar o individualismo imposto pelo neoliberalismo. 

“O sistema nos ensinou a competir, mas o caminho para um futuro justo é a cooperação. Precisamos aprender com outras experiências, como a China, que enfrentou o neoliberalismo construindo um modelo coletivo de desenvolvimento”. 

Marina destacou que a resistência deve ser acompanhada da construção de alternativas concretas ao modelo vigente.

Militantes histórico do MST, Pedro Xapuri destacou a importância da resistência e da organização popular

Encerrando o ato, Pedro Xapuri, da direção regional do MST, militante histórico e assentado há 26 anos, fez uma fala inspiradora sobre a importância da resistência e da organização popular. 

“A luta do MST não é só por terra, é por dignidade, por educação, por comida de verdade. O agronegócio planta veneno, nós plantamos vida. E não vamos parar enquanto houver um trabalhador sem-terra neste país,” afirmou. Ele também ressaltou a necessidade de investir na formação de novas lideranças. “Precisamos preparar nossos jovens para continuarem essa luta, porque ela ainda está longe de acabar.”

Após o ato, a militância do MST seguiu para a segunda parte do Encontro Regional no Centro de Formação Sócio-Agrícola Dom Helder Câmara, localizado no assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto. O Emcontro durou dois dias e se findou no domingo (2).

Um dos organizadores do ato, Luciano Botelho, já no assentamento Mário Lago, após o ato, realiza análise de conjuntura durante o Encontro Regional

O ato foi organizado pelos dirigentes estaduais Nivalda Alves, Joaquim Lauro Sando e por Luciano Botelho e Manuela Aquino, ambos da direção regional do MST. A coordenação da mesa ficou por conta de Nivalda Alves e Joaquim Lauro Sando.

Mais fotos






Nivalda Alves, da direção estadual do MST

PCBR montou quiosque

Resistência Caipira, torcida do Botafogo de Ribeirão Preto, esteve presente no ato

Edson Carlos Fedelino, Diretor Regional/SINDSAÚDE/SP

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