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Ato em Defesa da Reforma Agrária Popular debateu a crise do capital. Fotos: @filipeaugustoperes |
Ato reúne militantes, lideranças políticas e movimentos sociais para debater justiça social, luta pela terra e preservação ambiental
Neste sábado, 1º de fevereiro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou o “Ato em Defesa da Reforma Agrária Popular”. A atividade fez parte do seu Encontro Regional, em Ribeirão Preto, São Paulo e aconteceu no CEAGESP Armazém, reunindo militantes, aliados e a comunidade local.
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Exploração do trabalho da população negra pela cultura da cana-de-açúcar no interior paulista retratada pela artista visual Emaye Marques |
A abertura do encontro foi marcada por uma mística conduzida pela artista visual e educadora Emaye Natalia Marques, com a performance intitulada A Rota do Podão de Ouro. Inspirada pela relação entre a população negra e a cultura da cana-de-açúcar no interior paulista, a performance revisitou as ferramentas e as vestimentas dos trabalhadores rurais, mesclando memória e denúncia sobre as condições de trabalho e a exploração histórica.
A mística também apresentou a leitura da Carta da Coordenação Nacional do MST, em que reafirmou a necessidade da Reforma Agrária Popular no país para superar a destruição ambiental, a concentração de riqueza e a desigualdade social. Além disso, prestou uma homenagem aos militantes Valdir do Nascimento e Gleison Barbosa de Carvalho, brutalmente assassinados no dia 11 de janeiro, no Assentamento Olga Benário, em Tremembé/SP, por grupo armado ligado à especulação imobiliária.
O ataque, que deixou outras seis pessoas feridas, revelou a vulnerabilidade das famílias assentadas diante da violência agrária e a omissão do Estado em garantir sua segurança.
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Professora Doutora, Manuela Aquino abordou a crise do capital. |
Em seguida, a professora Doutora, Manuela Aquino, da direção regional do MST, fez uma análise de conjuntura em que abordou as múltiplas crises que assolam o Brasil. Manu explicou como a crise estrutural do capital se manifesta em diferentes dimensões: econômica, social, ambiental e política.
“Estamos diante de um modelo predatório que não apenas concentra riqueza, mas também destrói relações de trabalho, aprofunda a desigualdade e compromete o meio ambiente”.
A socióloga também destacou os impactos da crise ambiental, destacando os incêndios que devastaram milhões de hectares no Brasil em 2024.
“O agronegócio avança sobre os biomas sem freios, explorando a terra até o limite, enquanto milhões de brasileiros sofrem com a fome. Precisamos massificar a luta pela reforma agrária e fortalecer a agroecologia como alternativas” .
A crise política também esteve no centro da análise, com Aquino criticando o desmonte das políticas públicas desde o golpe de 2016 e o fortalecimento da extrema-direita.
“O governo pode ter mudado, mas o Estado continua sendo estruturado para beneficiar as elites. Precisamos continuar ocupando, resistindo e organizando a luta”.
Falas de aliadas e aliados fortalecem o ato
O evento contou com falas de diversas lideranças políticas e sociais. A vereadora Judete Zilli, do Coletivo Popular Judeti Zilli (PT) reafirmou seu compromisso com a luta pela reforma agrária e a agricultura familiar.
“O MST representa a resistência e a construção de um projeto popular para o Brasil. Precisamos garantir terra para quem trabalha e combater a concentração fundiária que alimenta a desigualdade”.
João Brás, liderança do PSOL e assessor do mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL) destacou a importância da organização coletiva para enfrentar o avanço do agronegócio e da especulação imobiliária.
“O que estamos vivendo é um processo brutal de retirada de direitos e apropriação da terra pelo capital. A resistência tem que ser diária e incansável”.
Filho de assentado pela reforma agrária e integrante da direção regional do MST, Murillo Miguel destacou a necessidade de ampliar a mobilização popular contra o avanço da extrema-direita. “
“A luta do MST é a luta de todos que defendem um país mais justo. Precisamos unir campo e cidade para barrar os retrocessos e exigir políticas públicas que beneficiem o povo, não o lucro das grandes corporações.”
Douglas Marques, representante da Comissão de Direitos Humanos da 12ª Subseção da OAB, fez um alerta sobre a violência no campo e a impunidade em relação aos ataques contra assentados.
“Os assassinatos de Valdir e Gleison não podem cair no esquecimento. Precisamos cobrar investigações rigorosas e responsabilização dos criminosos. A violência agrária é uma estratégia de intimidação, e não podemos permitir que ela vença.”
A representante do coletivo Juntas/PSOL, Priscilla Pedrosa, reforçou a necessidade de interligar a luta pela reforma agrária com a defesa dos direitos das mulheres e das populações marginalizadas.
“As mulheres são protagonistas nas ocupações, na produção agroecológica e na organização da luta. O feminismo e a luta pela terra caminham juntos, porque falamos de justiça, de dignidade e de direitos básicos que ainda nos são negados.”
Rosana Gaspar, presidenta do CONSEA, trouxe dados sobre a insegurança alimentar e a urgência de fortalecer políticas públicas que incentivem a produção da agricultura familiar.
“O Brasil produz alimentos em abundância, mas milhões de pessoas passam fome. O problema não é a falta de comida, mas a lógica perversa do agronegócio e do mercado, que prioriza a exportação e deixa o povo sem acesso ao que é produzido.”
Matheus Morais Cândido, representante da Unidade Popular, reforçou a defesa da nacionalização da terra como instrumento para a soberania alimentar e o desenvolvimento popular.
“O Brasil produz alimentos mais do que suficientes para garantir que ninguém passe fome, mas o sistema capitalista impede que essa riqueza seja distribuída de forma justa,” criticou. Ele também alertou para o aumento da insegurança alimentar e chamou os presentes a fortalecerem a luta conjunta entre trabalhadores do campo e da cidade”.
Fátima Suleiman, presidenta do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina fez uma intervenção emocionada, traçando paralelos entre a luta do MST e a resistência do povo palestino.
“Assim como nós resistimos à ocupação de nossas terras, vocês também enfrentam a violência do latifúndio e da especulação imobiliária. A luta pela terra é uma luta pela vida.”
Suleiman pediu solidariedade internacional e destacou a necessidade de ampliar a visibilidade da causa palestina no Brasil .
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Marina Pereira (Coletivo Baixada) |
Marina Pereira, do coletivo Armazém da Baixada, trouxe reflexões sobre a necessidade de superar o individualismo imposto pelo neoliberalismo.
“O sistema nos ensinou a competir, mas o caminho para um futuro justo é a cooperação. Precisamos aprender com outras experiências, como a China, que enfrentou o neoliberalismo construindo um modelo coletivo de desenvolvimento”.
Marina destacou que a resistência deve ser acompanhada da construção de alternativas concretas ao modelo vigente.
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Militantes histórico do MST, Pedro Xapuri destacou a importância da resistência e da organização popular |
Encerrando o ato, Pedro Xapuri, da direção regional do MST, militante histórico e assentado há 26 anos, fez uma fala inspiradora sobre a importância da resistência e da organização popular.
“A luta do MST não é só por terra, é por dignidade, por educação, por comida de verdade. O agronegócio planta veneno, nós plantamos vida. E não vamos parar enquanto houver um trabalhador sem-terra neste país,” afirmou. Ele também ressaltou a necessidade de investir na formação de novas lideranças. “Precisamos preparar nossos jovens para continuarem essa luta, porque ela ainda está longe de acabar.”
Após o ato, a militância do MST seguiu para a segunda parte do Encontro Regional no Centro de Formação Sócio-Agrícola Dom Helder Câmara, localizado no assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto. O Emcontro durou dois dias e se findou no domingo (2).
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Um dos organizadores do ato, Luciano Botelho, já no assentamento Mário Lago, após o ato, realiza análise de conjuntura durante o Encontro Regional |
O ato foi organizado pelos dirigentes estaduais Nivalda Alves, Joaquim Lauro Sando e por Luciano Botelho e Manuela Aquino, ambos da direção regional do MST. A coordenação da mesa ficou por conta de Nivalda Alves e Joaquim Lauro Sando.
Mais fotos
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Nivalda Alves, da direção estadual do MST |
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PCBR montou quiosque |
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Resistência Caipira, torcida do Botafogo de Ribeirão Preto, esteve presente no ato |
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Edson Carlos Fedelino, Diretor Regional/SINDSAÚDE/SP |
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