A explicação filosófica, histórica e sociológica do porque do crescimento da aceitação popular de um discurso de extrema direita misturado ao mais rasteiro liberalismo de botequim será tarefa da academia. Talvez o fracasso do mundo pós-guerra, a partir do avanço neoliberal e sua brutal concentração de renda, explique alguma coisa.
Mas o fato é que o tal populismo de direita avança no mundo de maneira constante desde a crise do capitalismo de 2008 e está cada vez mais em aliança com os interesses do capital financeiro, inaugurando a fase do neoliberalismo autoritário.
O Brasil é, dentre outros exemplos mundo afora, um caso concreto de como a narrativa de extrema direita adquiriu enraizamento popular através de uma estratégia profissional de atuação nas mídias sociais aliada ao poder de persuasão das igrejas neo-pentecostais a partir de um ambiente de crise econômica e descrédito na política.
Apesar das grandes diferenças de estilo e objetivo, rapidamente a extrema direita se aninhou no colo do capitalismo financeiro em busca de poder político, por um lado, e de poder econômico, de outro. O alvo no mundo inteiro, e no Brasil especificamente, é o Estado de Bem-Estar Social, principalmente a poupança pública para investimentos em saúde, educação e aposentadoria.
Tanto isso é verdade no Brasil, que hoje estão todos juntos (mídia empresarial, bancos, latifundiários, rentistas, igrejeiros, extremistas e militares entreguistas) na defesa da reforma da previdência que busca entregar 700 bilhões anuais da previdência pública para o controle dos bancos.
Contra essa realidade o campo democrático e anti-neoliberal pouco tem conseguido fazer.
O PT, o principal partido de esquerda e popular do Brasil, que governou o país por 12 anos e foi o principal alvo do avanço reacionário e neoliberal dos últimos anos, se vê diante do desafio de sua reconstrução. Tenta ampliar os apoios à pauta (justa e necessária) do Lula livre em meio a um ambiente controverso e fragmentado do campo democrático e popular.
Os demais partidos de esquerda e centro-esquerda, além dos grupos democráticos e anti-neoliberais existentes em outros partidos, se veem também diante de um desafio entre aglutinar forças em torno do PT ou buscar o caminho próprio em meio à selva perigosa dominada hoje pela extrema direita em parceria com o grande capital.
Os movimentos sociais e os sindicatos também estão sob fogo cerrado, buscando uma forma de construir trincheiras que permitam a resistência diante da avalanche destruidora.
E as mídias alternativas, apesar de sua importância estratégica, também navegam sob o vento da extrema direita, repercutindo diariamente ora a destruição proposta pelo atual governo ora os disparates proferidos pela ala obscurantista do governo.
Os 47 milhões que votaram em Haddad no segundo turno de 2018 (ou seja, votaram contra a barbárie bolsonarista) estão cada vez mais aflitos e desorientados, vendo a popularidade de Bolsonaro despencar sem que isso reverta em apoio concreto das pessoas às pautas da oposição.
Os outros 30 milhões que não votaram e os outros milhões que já se arrependeram do voto (segundo as pesquisas de popularidade de Bolsonaro) estão apenas observando o cenário, bombardeados diariamente por um conjunto gigantesco e disforme de informações de todos os lados e tipos mas, basicamente, conduzidas pela narrativa da extrema direita.
Basta constatar que, até agora, a massa popular não tem aderido em grande número às manifestações contra o desmonte da previdência, assim como não aderiu ao desmonte das leis trabalhistas, que hoje condena 40% da força de trabalho nacional à informalidade.
A realidade é que a extrema direita tem conseguido pautar o debate, desde a eleição, e a oposição ainda não conseguiu encontrar a narrativa correta para se contrapor à altura.
Estamos apenas reativos diante dos desastres econômicos e sociais e dos desvarios obscurantistas, mas não conseguimos ainda sair das cordas para onde fomos empurrados desde 2013.
Como propor o debate? Como encontrar a narrativa certa? Como furar a bolha que a desmoralização da política criou e nos engoliu? Como enfrentar e superar o anti-petismo construído? Como fazer com que os cada vez mais revoltados e desiludidos brasileiros encampem uma pauta de lutas em defesa da democracia e dos direitos?
Essas respostas são difíceis de serem respondidas, mas a busca pelas respostas passa necessariamente pela unidade, e unidade pressupõe a definição de uma pauta comum a ser defendida em conjunto. A unidade é a chave da vitória e ela só é construída com esforço e vontade coletiva.
Este blog permanece defendendo que a unidade será construída em torno da defesa da Constituição de 1988, seu simbolismo político e seus preceitos fundamentais contidos nos artigos 5o e 6o. É dessa defesa, onde se engloba o "Lula Livre", que permitirá ao campo democrático e anti-neoliberal iniciar uma etapa propositiva de oposição e a construção de um programa mínimo de caráter popular, democrático e profundamente anti-neoliberal.
Porém, a continuar esse atual cenário, as eleições de 2020 tendem a serem conduzidas, mais uma vez, pela extrema direita, em um ambiente de confusão política e de narrativas, onde a predisposição por mudança do povo pode ser, de novo, manipulada pelo esquema de fake news ainda em funcionamento.
PS: a unidade na luta
Dia 15 de maio: paralisação nacional contra o desmonte da educação pública. É o momento de todos os profissionais da educação construírem o consenso em torno da defesa da educação pública como instrumento fundamental de inclusão social no Brasil. A educação pública é um direito constitucional inalienável.
PS: a unidade na luta
Dia 15 de maio: paralisação nacional contra o desmonte da educação pública. É o momento de todos os profissionais da educação construírem o consenso em torno da defesa da educação pública como instrumento fundamental de inclusão social no Brasil. A educação pública é um direito constitucional inalienável.
Blog O Calçadão
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