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Ato suprapartidário integrou a Marcha Global pela Palestina Livre Fotos: Filipe Augusto Peres |
Manifestantes criticaram ida de prefeito Ricardo Silva (PSD) à Israel e exigiram o rompimento imediato do Brasil com o Estadp de Israel
Organizado e convocado pelo Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, neste sábado (14), a Esquina Democrática, no centro de Ribeirão Preto, foi palco de um ato suprapartidário que integrou a Marcha Global pela Palestina Livre, realizada simultaneamente em dezenas de países. Com o lema “Basta de genocídio na Palestina! Lula, rompa com Israel, já!”, o protesto reuniu partidos, sindicatos, movimentos populares, organizações palestinas e entidades da sociedade civil. O principal objetivo foi exigir o rompimento imediato das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com o Estado de Israel, em resposta ao massacre em curso na Faixa de Gaza.
A abertura do ato foi marcada pela fala da militante Fátima Suleiman, presidenta do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina. Suelieman classificou a Palestina como uma luta de toda a humanidade e denunciou com veemência a ocupação israelense.
“A Palestina é uma causa de todos, de toda a humanidade. Nós estamos aqui por solidariedade ao povo palestino. Existe em Gaza e na Palestina um genocídio, uma limpeza étnica. E ninguém tem o direito de acabar e exterminar um povo, um povo que é o dono das suas terras.”
Fátima chamou atenção para as violações do direito internacional cometidas por Israel e denunciou o sequestro de ativistas da flotilha humanitária que levava insumos básicos à Faixa de Gaza.
“Essa ocupação nefasta não respeita nenhum tratado internacional. Nosso companheiro Tiago Ávila estava em águas internacionais, junto com mais 11 ativistas, levando remédios, água, próteses para as crianças em Gaza. Eles não foram detidos, foram sequestrados. Que isso fique muito claro.”
Segundo a militante,
“hoje temos mais de 18 mil mortes de mulheres e mil mortes de mulheres grávidas. Milhares de crianças estão órfãs, sequeladas, impossibilitadas pelos bombardeios de Gaza”.
Ela também fez um apelo às organizações feministas e movimentos sociais a se posicionarem em defesa da mulher palestina e da infância em sofrimento.
“Quem apoia a Palestina são professores, jornalistas, médicos, engenheiros, trabalhadores de todas as áreas. Quem defende a Palestina é quem tem caráter. Hoje em dia, a régua do caráter e da moral é apoiar a causa palestina.”
Fátima ainda conectou a luta do povo palestino a outras formas de opressão global:
“Não existe genocídio de direita ou de esquerda. Genocídio é genocídio e ninguém pode concordar com isso. Hoje é lá. Em breve será em outros países como aqui.”
Ao final, conclamou:
“A gente tem que respeitar a Palestina. A gente tem que respeitar os palestinos. Palestina livre, do Rio ao Mar.”
Parlamentares de Ribeirão Preto marcam posição no ato
Entre os destaques do ato, a participação de vereadoras da cidade reforçou a centralidade da causa palestina no debate político local.
A vereadora Duda Hidalgo (PT) apresentou um discurso firme e embasado, denunciando o genocídio em curso e a omissão internacional.
“A nossa solidariedade não pode ser restrita a uma fronteira. E o que tem acontecido dentro do território da Palestina, que é território da Palestina e que não é reconhecido hoje, que precisa ser reconhecido, é um genocídio. E um genocídio que tem matado, sobretudo, mulheres e crianças.”
Duda também denunciou o sequestro da flotilha humanitária, rechaçando qualquer tentativa de criminalizar a entrega de ajuda.
“Estava levando comida, água, fralda, prótese para crianças. É isso que tem sido considerado como um ataque a Israel, para justificar ações assassinas.”
A vereadora declarou:
“Qualquer atitude pró-Israel ou de silêncio é uma atitude de apoio ao que tem acontecido. Deslocar-se até Israel e apertar a mão dos que estão lá, fechando os olhos e sem se pronunciar sobre o genocídio que está acontecendo naquele território, é carregar dentro das suas mãos o mesmo sangue que hoje aqueles que matam dentro do território palestino carregam.”
A parlamentar também valorizou o crescimento da mobilização na cidade, parabenizando o Comitê da Causa Palestina de Ribeirão Preto pela persistência e continuidade da luta, com ações como cine-debates e distribuição de alimentos. Ao final de sua fala, relembrou a tradição histórica da cidade no apoio à Palestina.
“Fuçando em documentos da época da ditadura, encontrei registro de um congresso estudantil em Ribeirão onde já se discutia a causa palestina. Se não colocamos essa causa como prioridade, aí sim perdemos a nossa humanidade.”
A vereadora Judeti Zilli , do mandato Coletivo Popular Judeti Zilli (PT), também se posicionou com firmeza. Judeti iniciou sua fala lembrando os ataques recentes entre Israel e Irã, alertando para o risco de uma escalada bélica.
“Nós estamos à beira de uma terceira guerra mundial. Nós não podemos permitir. Nós não podemos duvidar que é mais que necessário, mais que justo, mais que humano defender e lutar pelo povo palestino.”
Citando os sequestros, a destruição de hospitais e a morte de civis, afirmou que
“fazer um ato em prol da Palestina é defender a vida de todos os povos e de todas as pessoas do planeta contra o imperialismo, contra o colonialismo”.
Judeti destacou o compromisso do seu mandato com os direitos humanos e com as pautas em defesa dos pobres, das minorias e do planeta. Criticou, também ,duramente o prefeito Ricardo Silva (PSD), cuja ida a Israel pode ser interpretado como
um ato visível de apoio ao sionismo,.
Para Zilli, a viagem representa o alinhamento da cidade a um projeto que nega a vida e a soberania dos povos. Encerrando sua fala, deixou um apelo:
“Vamos cada vez mais investir nosso tempo, nossa mente e nosso dinheiro também sempre que necessário pela causa palestina. Parabéns a quem tem sensibilidade e vamos juntos dividir essa dor que hoje toma nosso coração.”
Outras falas destacaram a relação direta entre a política brasileira e o genocídio palestino.
Sônia, do PSOL, reiterou a necessidade de rompimento imediato do governo brasileiro com o Estado de Israel e classificou como inaceitável que o prefeito de Ribeirão tenha viajado ao país em meio ao genocídio,
“atrás das mesmas armas israelenses que hoje matam crianças e mulheres palestinas”.
André, militante do PCR, enfatizou a crítica às relações comerciais entre Brasil e Israel, denunciando especialmente a exportação de aço e a compra de armamentos usados na repressão. Segundo ele, a manutenção dessas trocas significa cumplicidade direta com os crimes cometidos por Israel contra o povo palestino.
Maurício, do PCO, saudou a República Islâmica do Irã por sua postura de enfrentamento a Israel e defendeu apoio ao eixo de resistência composto por Hamas, Hezbollah e o próprio Irã. Lembrou que Israel já enfrenta uma grave crise interna, que segundo ele, é fruto direto de sua política genocida e representa um sinal de esgotamento do projeto imperialista sionista.
Annie Hsiou, professora e militante da ANDES e do PSOL, afirmou que o governo Lula precisa “ir além do discurso” e romper imediatamente com o Estado israelense. Conectou a luta palestina às pautas ambientais e dos direitos das mulheres, afirmando que
“quem defende o futuro do planeta, das minorias e das mulheres deve estar ao lado da Palestina”.
Annie ainda denunciou o PL da Devastação no Congresso e lembrou que a flotilha internacional levava também reivindicações ambientais.
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Foto: Estevan Martins de Campos |
Filipe Augusto Peres, da direção estadual do MST, contextualizou o ato dentro da jornada internacional de solidariedade com a Palestina. Ele destacou que 54 países organizaram uma caravana que partiu do Egito rumo a Rafah, no sul da Faixa de Gaza, com apoio jurídico internacional e que, apesar da tentativa de bloqueio por parte das autoridades egípcias, os manifestantes seguem em protesto no Cairo e tentam avançar até al-Arish.
Filipe também chamou atenção àsprincipais exigências como o rompimento diplomático e comercial do Brasil com Israel, a abertura imediata de corredores humanitários em Gaza, o fim do cerco econômico e militar à Faixa, e uma solução política duradoura para o conflito israel-palestino.
João Aguiar, da torcida Resistente Caipira, lembrou que o mesmo prefeito que viaja a Israel também reprime moradores de rua em Ribeirão Preto.
Davi, do PCBR, reforçou a denúncia de que Ricardo Silva foi ao país para comprar tecnologias de reconhecimento facial, destinadas a aumentar o controle sobre a população das periferias.
Vivian Mendes, presidenta estadual da UP, conectou a causa palestina à luta contra o genocídio da juventude negra no Brasil, enquanto que Leopoldo Paulino criticou o histórico diplomático do Brasil com Israel desde o governo Vargas.
Reinaldo Romero, ativista ambiental, ressaltou os impactos ecológicos da guerra em Gaza e convidou para o ato do dia 28 de junho, em defesa das árvores de Ribeirão Preto.
Clóvis, dirigente do PT, apontou o sionismo como um projeto fascista e alertou que quase metade da população israelense apoia o extermínio dos palestinos.
Já Estevan Martins dos Campos, do MES/PSOL, defendeu a unificação entre as pautas sociais e internacionais, criticou a passividade do governo Lula e convocou os presentes à construção de uma sociedade ecossocialista.
Ronaldo Barbosa, do Juntos/PSOL e
Do DCE da USP, fez duras críticas à mídia burguesa e às postagens emotivas sem ação concreta: “Gaza é hoje um campo de concentração a céu aberto. Curtir e compartilhar não é suficiente. É preciso lutar”
Caio Cristiano, presidente do Diretório Municipal do PSOL, vice-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis, reafirmou o repúdio à visita de prefeitos a Israel e propôs mais unidade nas lutas, com autocrítica e construção coletiva como pilares do fortalecimento popular.
Figura histórica de Ribeirão Preto, um dos símbolos da luta contra a ditadora civil-militar no município, Leopoldo Paulino (ex-vereador), lembrou da relação de Israel com o imperialismo estadunidense; lembrou a ajuda de Vargas na criação do Estado de Israel e criticou o governo Lula por não romper relações diplomáticas e manter relações comerciais com Israell
Além de Ribeirão Preto, o país terá atos públicos em pelo menos 15 cidades: Ilhéus (BA), Natal (RN), Caxias do Sul (RS), Recife (PE), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Goiânia (GO), Rio Grande (RS), Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE). As manifestações, organizadas entre os dias 13 e 15 de junho.
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