USP QUER DEMOLIR PATRIMÔNIO HISTÓRICO DOS TRABALHADORES
por: Luis Ribeiro
Está nos planos da USP de Ribeirão Preto a demolição de um
conjunto de casas remanescentes da Fazenda Monte Alegre, atual área do campus
universitário na cidade.
As moradias foram erguidas entre a segunda metade do século
19 e os primeiros anos do século 20, para abrigar os imigrantes que vieram
trabalhar nas lavouras de café. O local, com 10 casas, é conhecido como Rua
Napolitana em referência à origem de seus primeiros moradores. Está localizada
há cerca de 150 metros da Escola de Educação Física e Esportes, a unidade de
ensino mais nova do Campus. O acesso é asfaltado e a rua servida por água,
esgoto e iluminação.
A intenção de demolir o patrimônio histórico veio à público
na reunião do Conselho Gestor do Campus, dia 19/10, quando foi apresentado o
“Plano de Ocupação e Recuperação das Moradias...”. Segundo o parecer a ideia é
encaminhar ao CONDEPHAAT um pedido para demolir 7 e preservar 3 das casas. A
justificativa apresentada é de que os imóveis apresentam “problemas estruturais
severos e com alto custo para sua recuperação”.
Os dois representantes dos funcionários no Conselho Gestor
(composto majoritariamente por docentes, principalmente diretores), foram contra
a medida e solicitaram um estudo mais detalhado para encontrar uma saída
diferente da demolição.
Ficou então acordado que será formada uma comissão para “em
curto prazo” tentar uma alternativa. Os trabalhadores serão representados nessa
comissão pelo jornalista Luís Ribeiro, que além membro do Conselho Gestor é
diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP. Para ele não se pode destruir um
patrimônio histórico que é referência para os trabalhadores com a justificativa
de que não há dinheiro para mantê-lo. “É como se alguém quisesse demolir
algumas das igrejas de Ouro Preto porque é muito caro manter todas elas”,
afirmou Ribeiro, apontando que a manutenção das casas foi negligenciada nas
últimas administrações, o que torna muito mais elevado o custo de restauro.
Nos próximos dias os representantes dos trabalhadores
pretendem entrar em contato com entidades que lutam pela preservação histórica
para traçar um plano de defesa da “Rua Napolitana”. Informações e contatos pelo
e-mail sintusprp@gmail.com.
O QUE FOI A FAZENDA MONTE ALEGRE
Conta a história que a Fazenda Monte Alegre foi formada 1874
destinada principalmente para a criação de gado e cultivos como algodão e café.
Em 1890 foi adquirida por Francisco Schmidt, um imigrante alemão que, apoiado
em capital de seu país de origem, se tornaria o maior produtor mundial de café
do início dos anos 1900. Além as colônias construídas para abrigar os
imigrantes, há outros imóveis remanescentes da época, como a sede da fazenda,
hoje Museu Histórico (sob responsabilidade da Prefeitura da cidade) e a Casa do
Administrador, que por muitos anos funcionou como “Restaurante dos Docentes da
USP”.
Com a derrocada do Café na década de 30 a Fazenda Monte
Alegre perdeu seu brilho e foi comprada pelo Estado nos anos 40, para ser a
sede de uma Escola Prática de Agricultura. São dessa época construções como o
Prédio Central posteriormente ocupado pela Faculdade de Medicina, e a atual
sede da FEARP, que foi moradia e depois biblioteca. Nos anos 50, com a
desativação da Escola de Agricultura a área da Monte Alegre foi repassada para
a USP para instalação da Faculdade de Medicina.
Por sua importância histórica, todo o conjunto arquitetônico
do Campus é tombado pelo CONDEPHAAT.
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