Alexandre Frota não é o autor do Escola Sem Partido. Sua caricata figura apenas tornou a coisa mais visível. Inadvertidamente, prestou um favor para que o tema ganhasse repercussão.
Tampouco é de agora esse movimento. Vem de 2004, mas certamente que as ocupações dos secundaristas deixaram os defensores dessa aberração com os cabelos em pé e estejam aproveitando o período interino de Michel Temer e seus apaniguados para avançar com o projeto.
Então quem está por trás desse nefasto plano de criar analfabetos políticos?
Miguel Nagib é o pai da criatura. Em 2003, sua filha chegou da escola dizendo que o professor de história havia equiparado Che Guevara a São Francisco de Assis. Foi o bastante para que ele se mobilizasse. Nagib é advogado, procurador do Estado de São Paulo e estava indignado com a “doutrinação política e ideológica dos alunos por parte dos professores”, com a “usurpação dos direitos dos pais na educação moral e religiosa de seus filhos”, e seja lá o que ele quis dizer com isso, no ano seguinte nascia o Escola Sem Partido.
Para Nagib “os pais têm direito a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.” Em sua convicção tacanha, o advogado ignora que o papel da escola é exatamente o de mostrar o mundo que existe do outro lado do muro.
É autor também de um anteprojeto de lei que torna obrigatória a afixação de um cartaz (no formato 50X70 cm, ele especifíca) em todas as salas de aula com os “Deveres do Professor”. É um desfile de ‘não pode isso’, ‘não pode aquilo’. A quinta regra, entretanto, não traz uma proibição: “O Professor respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”. Ponha-se no lugar de um docente, leitor. Uma sala, 35 a 40 alunos, cada um com sua moral, suas crenças, seus costumes, suas convicções. Como se faz? É preciso estar com a mente muito confusa para propor algo assim.
Mas se a ideia brotou na cabeça retrógrada de um pai conservador, os deputados que encabeçam os projetos de lei para implantação do Escola Sem Partido nos estados são um show à parte.
Em Brasília, o autor é Izalci Lucas (PSDB). O deputado Izalci é, de fato, um nome ligado a educação. Proprietário de uma escola particular nos anos 80, o tucano invadiu um terreno que pertencia a uma escola pública. Invadir áreas públicas parece ser o fraco do deputado. Sua mansão no Lago Sul também ocupava ilegalmente e tornava privativa a orla do lago brasiliense.
Sempre no tema educação, em sua campanha eleitoral o deputado Izalci recebeu doações de empresas que depois foram agraciadas com recursos do Programa DF-Digital sem que precisassem se submeter a licitação pública. Como secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, Izalci Lucas destinou milhões de reais dos cofres públicos para que essas empresas fornecessem equipamentos de informática para cursos de capacitação profissional oferecidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP-DF), que era subordinada à sua pasta. Pelo esquema de subcontratações irregulares, Izalci está com seus sigilos fiscal e bancário quebrados a pedido do STF.
No Rio de Janeiro, quem assina o projeto de lei é Flavio Bolsonaro, da família que dispensa apresentações. Os Bolsonaro, como não poderia deixar de ser, também fazem imensa confusão com o termo ‘ideologia’ na cabeça de seus eleitores e o mais famoso deles, o patriarca Jair, no ano passado emitiu mais uma de suas pérolas ao comentar a prova do ENEM.
Numa questão de ciências humanas que abordava o tema das lutas feministas, foi citada uma frase da escritora e filósofa Simone de Beauvoir. Em reação, Jair Bolsonaro postou nas redes sociais: “O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do ENEM”, que ele define como ‘Exame Nacional do Ensino MARXISTA’.
Embora não causem mais espanto com absolutamente nada que venham a dizer ou fazer, os Bolsonaro são a representação dos graves prejuízos que a proposta provocará sobre as questões de gênero, caso seja aplicada.
Claro está que os políticos surfam na onda de apoiadores/incentivadores do tal movimento para tirar uma casquinha. Gente do gabarito de Alexandre Frota, de Marcelo Reis do Revoltados OnLine ou da inacreditável Beatriz Kicis, outra advogada e procuradora brasiliense que tem diversos vídeos no youtube nos quais está sempre ao lado da dupla dinâmica Frota & Reis ou então com seu ídolo maior, Olavo de Carvalho.
Aparvalhada, entrou de cabeça no Escola Sem Partido. “A doutrinação ideológica é feita desde o primário. Tem até banheiro com ideologia de gênero! O que é isso? Onde estamos? Estamos perto de virar uma Venezuela!” Estarmos nos tornando uma Venezuela tornou-se seu mantra obssessivo.
Beatriz Kicis é uma amostra fiel dos seguidores desse movimento. Declara ser defensora da “família” e ao mesmo tempo considera a Lei da Palmada um “abuso por tirar a autoridade dos pais”. Defende mas espanca, entendeu? Faz parte de uma turma que possui um lema de cunho ditatorial: “Meu filho, minhas regras”.
O Escola Sem Partido nasceu, segundo seu fundador, como “reação ao fenômeno da instrumentalização do ensino para fins político-ideológicos, partidários e eleitorais”. A partir daí tem ganhado volume e seguidores tão abilolados que defendem a exclusão de disciplinas como Filosofia e Sociologia. “Se História e Geografia já serviam de plataforma para a militância ideológica, imagine o que vai acontecer com a Filosofia e a Sociologia!”, afirmou o amedrontado Miguel Nagib.
Esse projeto que busca neutralizar o professor como agente de promoção da pluralidade, que visa formar idiotas completos, por vezes esbarra no cômico. É comum cairmos na risada quando nos deparamos com suas parvoices, mas na realidade trata-se de um perigo público alguém que difunda a ideia de que um professor pode transformar seu filho em um índio ou num gay.
Quando até o papa da igreja católica é mais progressista que um cara desses, a coisa tá feia.
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