a Paulo
a Rogério e toda a sua arte repleta de tempo presente
a Mauro.
1
A época do amor nunca existiu.
Antes torpor
anestesia temporária dos mais incautos
pantera escondida na mata
peixe de água profunda se fingindo de morto para presas inconsequentes.
2
A esta altura do campeonato
não adianta imolar cordeiros
reatravessar o deserto em busca de terra sagrada
idílica.
Já não jogamos crianças de cima de penhascos
as soterramos em desastres ambientais provocados por grandes empresas.
Depois, damos declarações sobre o desastre na sede da empresa
e esquecemos.
Não adianta apenas expulsar os hereges do templo.
3
Sem dialogismo
dogmáticos
pragmáticos perecemos.
Lemos os jornais e sabemos que nos apagam.
O que não convém não vira manchete
e mesmo assim, continuamos mais do mesmo.
E mesmo que sobrevivamos ao holocausto
sem reconhecimento
sem mãos dadas
com conluios à boca da noite
cedo ou tarde
mais cedo do que tarde
quando sonharmos com aurora
tudo se tornará frustração.
Como contra-ataque
ensandecidos de messianismo
nossos camaradas estarão adorando as migalhas de um bezerro de ouro
nos enterrando com o que nos resta de vida
planejando o nosso extermínio.
4
Os príncipes do agronegócio
da bancada da bala
da bancada da bíblia
com parte de apoio civil
pediram que se empossasse Barrabás.
Mas que mal fez ela?
- Crucifiquem-na!
Sequer lavaram-se as mãos.
Cabe aos soldados do laranja interino a repressão.
Nossos irmãos? Alguns se abstiveram.
Lavaram-se as mãos.
Cabe aos soldados do laranja interino a repressão.
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