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terça-feira, 1 de junho de 2021

Caro, ruim, obsoleto: transporte coletivo de Ribeirão


Apenas 22% da população usa o transporte coletivo em Ribeirão
Foto: Filipe Peres


Em abril de 2012 um consórcio empresarial chamado Pró Urbano, composto pelas empresas Rápido D'Oeste, Transcorp e Turb, venceu a licitação para operar o transporte coletivo de Ribeirão Preto por 20 anos 

Por contrato, o consórcio deveria investir 130 milhões de reais em melhorias: criar sete novas linhas, aumentar a frota, modernizar a frota, construir 500 pontos cobertos, dois terminais centrais, 8 estações de integração, tarifa zero para estudantes e recompor pelo menos 90 cobradores de ônibus.

Tudo era festa. O superintendente da Transerp à época dizia que o plano era ter um transporte convidativo à população para ajudar a diminuir o fluxo de carros na cidade.

Não se passou muito tempo e em 2013 uma CPI na Câmara já investigava e denunciava irregularidades no cumprimento do contrato.

Ano após ano as tarifas foram subindo (por contrato, a Pró Urbano pode solicitar adequação anual de tarifa mediante estudo técnico da Prefeitura) e os investimentos esperando.

Em 2019 a justiça impediu o reajuste para 4,40

A cada solicitação de reajuste de tarifa, solicitado e acatado pela Prefeitura, uma batalha na Justiça. Como aumentar tarifa se os investimentos prometidos não aconteciam?

VEJAM


Dados: Ritmo Ribeirão

Sem contar as questões judiciais por conta da taxa de gerenciamento de 2% embutida na tarifa. Por contrato, a Pró Urbano deveria repassar o valor arrecadado para a Transerp mas em 2016 conseguiu na Justiça a interrupção alegando que a Prefeitura não cumpria a sua parte no subsídio da tarifa zero estudantil. Em 2019 esse valor era de 7,7 milhões de reais.

Falta ritmo para o transporte coletivo de Ribeirão
Foto: o Calçadão



Caro, ruim, obsoleto e ineficiente

O transporte coletivo em Ribeirão Preto é caro, ruim, ineficiente, capaz de transportar apenas 22% da população (segundo dados da Transerp) e feito por um único modal, ônibus circulares a diesel, a maioria tendo que passar pela região central e em terminais urbanisticamente problemáticos. 

O modelo ribeirão-pretano de hoje segue os moldes da maioria dos municípios paulistas e brasileiros do mesmo porte ou maiores, onde as linhas são exploradas por consórcios da iniciativa privada com tarifas caras e serviços ruins. 

Lembrando que Ribeirão Preto, através da Transerp, já operou um sistema público através dos Trólebus, entre 1982 e 1999. Um sistema lucrativo, ambientalmente sustentável e operacionalmente melhor que o atual. A extinção dos Trólebus e a entrega das melhores linhas para os consórcios privados foi muito mais uma questão ideológica de um governo tucano do final dos anos 1990 do que por fator econômico.

No mundo, em cidades da Europa, Ásia e Estados Unidos, o modelo de transporte coletivo está se tornando novamente público, após o fracasso do modelo privado imposto pelo neoliberalismo. Em 86 cidades de 24 países, o transporte é 100 % gratuito, subsidiado e fiscalizado pelo poder público.

Nas principais cidades da Europa e Ásia o transporte é um misto de público e privado, subsidiado e multimodal (trens, metrô, VLT, BRT, vans, ciclovias e espaços para pedestres) pois se entende que a mobilidade urbana é um fator de desenvolvimento econômico, ambiental e de qualidade de vida e o amplo acesso e procura da população pelo transporte coletivo, evitando o automóvel, é fundamental. 

Ribeirão Preto está, como se vê, há anos-luz disso. Por aqui, necessitaríamos de um transporte rápido ligando as várias regiões da cidade (como no projeto Fundo de Vales do urbanista Mauro Freitas) harmonizado com um transporte regional (bairro a bairro e no centro) feito com veículos mais leves e com ciclovias. 

Criar uma cidade que incentive o transporte coletivo e desincentive o automóvel conduzido por apenas uma pessoa, o motorista, como ocorre nas principais capitais e cidades grandes e médias do mundo.

Não nos opomos ao modelo de transporte subsidiado, desde que ele sirva à população e a um projeto de desenvolvimento da cidade. Nos opomos a esse modelo de subsídio que tem o intuito de manter o lucro empresarial em detrimento da população e do interesse público.

PAC Mobilidade

Ribeirão Preto tem recebido obras desse projeto do governo federal aprovado em 2013 e colocado em execução a partir de 2016. São pontes, viadutos, corredores de ônibus e ciclofaixas instalados por toda a cidade.

Mas as obras estão paralisadas porque a empreiteira pede uma readequação do contrato. E há sérias dúvidas quanto à real contribuição dessas obras para incentivar o transporte coletivo ao invés do automóvel.

A votação na Câmara

Os vereadores não podem dar um cheque de 17 milhões de reais como auxílio emergencial empresarial sem uma discussão profunda da atual situação do contrato de concessão. Cadê a auditoria que estava prevista? Quais os compromissos que serão assumidos pelo consórcio? Acompanharemos e publicaremos os debates e o resultado da votação.

Blog O Calçadão




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