Mortos na mesa

 

em Gaza,

a fome

e a bala 

estão postas no mesmo prato

o helicóptero canta seu salmo,

os drones distribuem a hóstia de chumbo

à multidão que estende as mãos

como se ainda coubesse esperança nos dedos

entrega o pão

como granadas

e balas de fuzis

disfarçada de Bíblia

a ajuda

vem fardada

com drone

com código militar

e holocausto palestino

neoevangélico

com a pólvora ainda acesa

na mão extrema

à direita

o pastor ora por Israel

falsifica a assinatura de Deus

e rasura os corpos nas doações

em fila

na porta do hospital da Cruz Vermelha

corpos jazem

cravados no discurso hipócrita como suspeitos

crivados

famintos deitam junto ao pão ensanguentados no chão

ungido pelo alto comando da morte humanitária

com o uniforme camuflado de pastor

o reverendo não revela as suas fontes de financiamento

a ONG anuncia:

“Foram distribuídas milhões de refeições.”

enquanto a mulher que perdeu o marido

(um dos 27 mortos do extermínio)

ainda segura a sacola

com o nome da Fundação bordado em azul.