Nascido
no interior da Bahia e no seio de uma família miserável, filho de um pai
desconhecido, segundo relatos da meia-irmã e do que consta na certidão de
nascimento, Assis Valente enfrentou muitas dificuldades para sobreviver e se
tornar um grande compositor na década de 1930.
Aos seis anos foi raptado por um certo
Laurindo que, achando injusto um menino tão perspicaz viver em extrema pobreza,
pediu para que a família Canna Brasil o criasse. Entretanto a família foi para
o Rio de Janeiro e abandonou o menino, que passou a viver em um hospital na
Bahia como lavador de frascos da farmácia.
Em
1917, Assis se mudou para Bonfim, mas atraído por um circo que passou pela
cidade, o menino a ele se uniu, como comediante. Chegando a Salvador, abandonou
o circo, se empregou como desenhista em uma revista e começou um curso de
prótese dentária.
No final dos anos 1920, Assis realizou o
sonho de todo menino do interior do Brasil, foi para o Rio de Janeiro e se
empregou como auxiliar protético e, em pouco tempo, montava consultório próprio
e desenhava para as revistas Shimmy e Fon-Fon, aproximando-se do meio
artístico.
Em 1932 conheceu o sambista e artista
plástico Heitor dos Prazeres, que ouvindo suas musicas o incentivou a compor.
No mesmo ano, Aracy Cortes, uma das mais famosas cantoras do Teatro de Revista
gravou a sua primeira música de sucesso “Tem Francesa no Morro”.
A década de 1930 foi o período de glória
do compositor, a partir da amizade com Carmem Miranda e o Bando da Lua que
faziam grande sucesso e passaram a gravar suas músicas, tais como “Etc”, “Uva
de Caminhão”, “Good Bye Boy” e “Brasil Pandeiro”, essa última exaltava o povo
brasileiro, dizendo assim: “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu
valor. Eu fui à Penha, fui pedir à padroeira para me ajudar. Salve o Morro do
Vintém, Pendura a Saia eu quero ver. Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para
o mundo sambar. Brasil, esquentai vossos pandeiros iluminai os terreiros que
nós queremos sambar”.
Além dos sambas, Assis Valente compôs
outros gêneros, como música junina e natalina. A música “Cai, Cai Balão” que é
sucesso nas festas juninas, foi composta pelo compositor e gravada por
Francisco Alves e Aurora Miranda. A música natalina “Boas Festas”, também de
sua autoria continua sendo a mais executada nos natais atuais, com aquele
refrão famoso, que todos nós aprendemos a cantar: “eu pensei que todo mundo
fosse filho de Papai Noel, bem assim felicidade, eu pensei que fosse uma
brincadeira de papel”.
Dentre os sambas mais famosos do
compositor, podemos afirmar com toda a certeza que “Camisa Listrada”, gravado
em 1939 por Carmem Miranda, antes de embarcar para os Estados Unidos foi o de
maior sucesso no carnaval daquele ano.
Em dezembro de 1939, o sambista se casou
com Nadyle, mas não foi feliz, pois o casamento só durara dois anos.
A partir da década de 1940, após a perda
da intérprete e do conjunto vocal favoritos que foram para os Estados Unidos,
suas músicas caíram no esquecimento. Atolado em dívidas e inseguro quanto ao
seu futuro, tenta o suicídio pulando do Corcovado, entretanto foi salvo por uma
árvore que impediu a sua queda. Esforça-se para recuperar a carreira, compondo
baiões, rancheiras, guarânias, que eram moda na época, mas não conseguiu
progressão e continuava vendendo alguns sambas para sobreviver.
Ao entrar em depressão no início da década
de 1950, procurou mais uma vez a morte, cortando os pulsos, sem conseguir o
intento. Foi se afastando de todos aos poucos e, exatamente às 17h55m, oito
dias antes de completar 47 anos, em um banco da Praia do Russel, junto de um
play-ground onde as crianças brincavam, tomou cianureto com guaraná. Em seus
bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o
retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco
cruzeiros. Na carta esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente
endividado, e fazia um apelo público para que comprasse seu novo disco
“Lamento”. Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas
residências, acrescentando a seguinte frase: “vou parar de escrever, pois estou
chorando de saudades de todos, e de tudo”.
Assis, você sempre foi um sambista
valente, lutando contra todas as adversidades que a vida colocou em seu
caminho. Compôs músicas maravilhosas em todos os gêneros e deixou seu nome na
história da música popular brasileira.
Salve o nosso sambista Assis, o valente!
Sandro Cunha é professor e amante do samba
Um comentário:
Sem dúvida um dos grandes nomes de nossa música.
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