Semanalmente o Blog O Calçadão publica um resumo comentado das principais notícias que agitaram Ribeirão Preto.
1. A saúde terceirizada
A tendência de Estados e municípios é repassar o gerenciamento da saúde pública para Organizações Sociais (OS's), em um processo de terceirização da saúde. O poder público repassa o dinheiro (vindo do SUS) e as OS's gerenciam hospitais e unidades de saúde, inclusive terceirizando a mão-de-obra (médicos, enfermeiros e auxiliares). A lógica é a do 'mercado', com o objetivo de diminuir gastos e agilizar o atendimento. Ribeirão Preto não foge à regra. Essa semana a Fundação Santa Lydia anunciou uma economia de 5,6 milhões de reais no gerenciamento da UBDS Quintino, UBDS Central, a UPA Treze de Maio e o Hospital Santa Lydia. A economia, segundo a Secretaria da Saúde, servirá para reinvestimento nas próprias unidades. Dá a impressão de bom andamento, e pode até ser, dentro do atual sistema, mas esconde a realidade de diminuição dos recursos do SUS, que inviabiliza um atendimento satisfatório a uma população crescente usuária da saúde pública. O fato é que o atendimento, os exames e as internações estão aquém do necessário por cortes de recursos vindos do SUS e temos movimentações desde o governo Temer de um processo de diminuição do SUS. O 'mercado' e nem as terceirizações irão resolver problemas estruturais que só o setor público pode enfrentar. Enquanto isso a população de Ribeirão Preto espera as duas outras UPA's e as três AME's.
2. Corredores de ônibus na mira da Câmara
O PAC Mobilidade Urbana, um projeto financiado pelo governo federal desde 2013 e que pretende investir 310 milhões de reais, está em andamento em Ribeirão Preto (pontes, viadutos, corredores de ônibus, ciclovias e a duplicação da avenida Antônia Mugnato Marincek, no Ribeirão Verde). A próxima etapa são os corredores de ônibus nas avenidas D. Pedro (Ipiranga), Saudade (Campos Elíseos) e na rua São Paulo. Os comerciantes dos locais estão preocupados com as vagas de estacionamentos e o acesso de clientes e buscaram a Câmara de Vereadores, que pode instalar uma CEE (Comissão Especial de Estudos) para acompanhar os projetos. O problema é sempre o carro em uma cidade feita para o carro. Os próprios comerciantes não acreditam na valorização do transporte coletivo em uma cidade onde ele é caro, ruim e baseado no ônibus a diesel.
PS: uma parceria entre Transerp e o Detran vai trazer para RP 1 milhão de reais destinados a investimento em semáforos e faixas de pedestres iluminadas em locais de maior risco no trânsito. Ótimo.
3. 42% inadimplentes com a CPFL em Ribeirão Preto
130 mil residências em Ribeirão Preto estão inadimplentes com a conta de luz. 2 mil residências já tiveram a luz cortada pela CPFL. O dado reflete a realidade nacional, onde o desemprego de 14%, a informalidade de 40% e a perda da garantia de renda mensal de 30% das famílias brasileiras tem levado 40% da população adulta do país (62 milhões de pessoas) a se tornarem inadimplentes, aprofundando ainda mais a crise, já que parte do PIB depende do consumo das famílias. Em Ribeirão Preto a inadimplência atinge 38% da população adulta, com uma dívida média de 3 mil reais por pessoa, segundo dados da CERASA. 42% dos inadimplentes no Brasil são idosos, muitos deles responsáveis pela renda familiar através de seus benefícios previdenciários, que estão ameaçados de deixarem de ter reajuste pela inflação de acordo com as propostas de reformas do atual governo.
4. A transparência pública como combate à corrupção
O combate à corrupção, quando não é feito de maneira seletiva e criminosa como estamos podendo acompanhar no recente noticiário, é um instrumento importante para a melhoria da gestão pública. Um dos mecanismos mais eficazes de combater a corrupção é a transparência na administração pública. Visando isso, ACIRP, OAB, AARP, Sindicato dos Contabilistas, CIESP e o Instituto Ribeirão 2030 criaram o Comitê de Transparência Pública, visando incentivar posturas de transparência da administração municipal e se alinhando a uma orientação da ONU. Louvável. Esse Blog só sentiu falta de movimentos sociais. Também reparamos que algumas das entidades são as mesmas que defendem a redução do número de vereadores (este Blog defende a manutenção de 27 vereadores em nome da representação política da sociedade). Pois bem, defender a transparência é ótimo, desde que não signifique substituir a política por uma espécie de gerenciamento empresarial e nem rebaixar ou elitizar a prática política. Ribeirão Preto necessita de transparência na administração pública, sim, mas também precisa de mais participação popular no controle social, nas decisões orçamentárias e na formulação de políticas públicas. A transparência deve vir junto com a necessária descentralização administrativa, o fortalecimento dos conselhos populares e o restabelecimento do orçamento participativo. Mais política, mais povo e menos burocracia.
5. Ribeirão Preto sem contrato de lixo