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domingo, 23 de abril de 2017

O Brasil na encruzilhada: ou resgata a democracia ou compromete seu futuro!


O golpe de 2016 mostrou uma realidade: o acordo político firmado na transição entre a ditadura militar e a redemocratização, que desaguou na Constituição de 1988, chegou ao fim.


O chamado 'presidencialismo de coalizão', que caracterizou os governos a partir do impeachment de Collor em 1992, implodiu em 2016 com o golpe.

Dentro desse 'presidencialismo de coalizão' se destacam as forças pragmáticas e fisiológicas do centro político brasileiro. Força vinda do período final da ditadura e consolidada no governo Sarney. E esse centro pragmático e fisiológico tem seu maior expoente no PMDB, uma coalizão de caciques nacionais e regionais que sobrevivem politicamente a partir da ocupação de espaços de poder em governos, nos três níveis, e, uma vez instalados, fazem do clientelismo e patrimonialismo o seu alimento.

Essa força centrista pragmática e fisiológica não é ideológica. Eles defendem tanto uma agenda neoliberal privatista quanto uma agenda social firmada no fortalecimento dos instrumentos de Estado, ou seja, são capazes de sustentar o governo FHC e o governo Lula na sequência sem conflitos de ordem político-ideológico.

E, mais, são capazes de eles próprios assumirem o poder uma vez que sejam sustentados por forças que pairam acima da política, como está sendo na atual conjuntura de golpe e instalação de um governo sem voto que tenta levar à força as pautas de uma agenda brutal contra a soberania nacional e os direitos históricos do povo trabalhador.

Mas o que motivou essas forças de centro a embarcarem num golpe? O que, de fato, conduziu ao esfacelamento do pacto político da chamada 'Nova República'?

Foi o sucesso de Lula!

O verdadeiro conservadorismo nacional, que paira acima da política, não contava com isso. A Carta ao Povo Brasileiro era, na visão dessa gente, a capitulação de Lula aos dogmas do 'mercado' e ao poder da elite conservadora. Seria um governo capenga, amarrado economicamente e fadado ao fracasso.

Mas não foi assim. Os governos Lula foram um sucesso estrondoso. O Brasil se desenvolveu, gerou empregos, diminuiu a desigualdade, cresceu diplomaticamente, incluiu os mais pobres, barrou a agenda neoliberal ( e a ALCA), descobriu e nacionalizou jazidas gigantescas de petróleo, unificou parte da América do Sul na agenda sul-sul e a figura de Lula alcançou patamares históricos no imaginário popular.

Mais, Lula elegeu e reelegeu sua sucessora. Quatro vitórias nacionais consecutivas e abrindo caminho para a volta de Lula ou a de quem ele indicasse em 2018.

E, mais, a sua sucessora buscou a princípio aprofundar uma agenda desenvolvimentista, reduzindo os juros, renegociando tarifas de energia elétrica, construindo moradias para pessoas de baixa renda.

Para destruir Lula e esse esboço de projeto nacional de desenvolvimento, que se sobressaiu a despeito da Carta ao Povo Brasileiro, e retomar a agenda neoliberal privatista e anti-popular, necessária aos interesses do capital especulativo, a elite conservadora nacional, mídia incluída, destruiu a 'Nova República' e solapou a democracia.

Para destruir a democracia e Lula, a elite lançou mão da mesma ferramenta histórica de sempre: o discurso histérico e seletivo do combate à corrupção, atrelado ao combate do fantasma do 'comunismo', no caso atual, a ameaça 'comunista' é o PT.

Aí se configura uma discordância entre este blog e uma parte da esquerda brasileira que consegue enxergar algo de bom na Lava Jato. Este blog tem pela tal investigação a opinião de que, da forma como ela foi montada e conduzida até hoje, ela é apenas mais um braço do golpe, braço que fez e faz o papel político de expor o inimigo escolhido aos olhos julgadores da opinião pública.

Ao mesmo tempo, protege os aliados políticos fazendo vista grossa aos desvios praticados.

O mensalão foi assim e o caso atual está sendo assim, até agora.

Todo o sistema político e de mídia sabiam há décadas da relação promíscua entre empresários e políticos, mas agora se fingem de indignados. Portanto, dentro dessa realidade e dos objetivos traçados, um triplex numa praia popular do Guarujá se torna muito mais importante do que uma reunião onde foram firmados acordos que destinaram 40 milhões de dólares em propina para o grupo político hoje no poder.

O importante é destruir a figura popular atualmente identificada com o projeto nacional e proteger a figura política que, a partir do golpe, conduz a imposição da agenda privatista e neoliberal.

De tudo, resta o discurso, espalhado à exaustão pela mídia: a adoção de um projeto desenvolvimentista, como o adotado pelo PT, com distribuição de renda e inclusão social, só traz prejuízos a longo prazo e que melhor é a agenda neoliberal, inclusive quando ela retira direitos históricos do povo e concentra renda, porque o faz pelo bem do país e para a boa avaliação do 'mercado'.

Aceitar e corroborar, mesmo que em parte, com esse discurso, é aceitar jogar no campo golpista e dar força para que as forças conservadoras possam enterrar mais uma vez a possibilidade de adoção de um projeto nacional de desenvolvimento, soberano, popular e inclusivo.

Assim, o Brasil se vê, mais uma vez, em uma encruzilhada histórica.

Ou avançamos para o resgate da democracia, que pressupõe resgatar um pacto constitucional, democrático e popular, com reformas política e de mídia amplas, com uma lei de abuso de poder que contenha os arroubos de setores dissidentes dentro do Estado, que proíba de vez o financiamento empresarial de campanhas, ou teremos o comprometimento do nosso futuro, observando um governo ilegítimo, protegido das investigações 'anti-corrupção', conduzir a toque de caixa uma agenda anti-nacional e anti-popular escrita pela elite conservadora obedecendo ordens dos interesses do capital especulativo internacional.

E, mais importante, o resgate da democracia tem de resgatar também um projeto nacional que una o povo do campo e da cidade, que una o setor produtivo, que una a intelectualidade e o setor de ciência e tecnologia, que una as forças vivas democráticas, desenvolvimentistas e nacionalistas. Um projeto que abranja o desenvolvimento, a sustentabilidade ambiental e a inclusão dos mais pobres.

É contra esse projeto, cuja semente foi plantada no Trabalhismo, nas reformas de base, que a elite conservadora luta e o qual ela odeia.

Como fazer tudo isso?

Um caminho imediato de reação: uma grande greve geral a partir do dia 28, derrotando totalmente a proposta de reforma da previdência do governo sem voto e progredindo para um movimento democrático que deságue em uma eleição geral e em uma constituinte para a reforma política.

À luta!

Blog O Calçadão

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