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sexta-feira, 27 de março de 2020

Só a unidade em torno de uma pauta única pode salvar o Brasil do vírus e do bolsonarismo


A crise brasileira, que já era grande e grave antes da pandemia, está se elevando em uma situação limite e exigirá das forças democráticas uma postura histórica para que o país não seja tragado ao abismo.

Apesar dos erros e insuficiências que precisam, sim, serem discutidos, o fato é que a perseguição ao PT produziu parte dessa crise ao unir o centro, a direita, parte dos órgãos institucionais, como justiça e PF, e a imprensa contra um partido, tanto na derrubada de uma presidente, sem que houvesse provas de crime, quanto na perseguição judicial aos ex-Presidente Lula.

O apontamento do PT como inimigo seletivo, e único, abriu espaço para o imponderável ao desacreditar o maior partido de esquerda do país, e defensor dos preceitos democráticos e de bem-estar social, com um vasto e histórico legado de ampliação de direitos, diante de uma grande parcela da população.

Outra situação que se somou nesse processo que nos levou na nossa situação atual foi a crise de 2008, decorrente do fracasso do neoliberalismo. Esse fracasso abriu caminho para o radicalismo e a extrema direita ocupou esse espaço levantando a bandeira do antissistema no mundo todo.

No Brasil, particularmente, a crise e o movimento antissistema chegaram enquanto a esquerda ocupava a Presidência. Os resultados práticos de 2013, com toda a sua complexidade, se somaram ao movimento anti-PT descrito acima e se criou aqui o neoliberalismo antissistema com viés autoritário.

E o que antes, em 2015, 2016, parecia o melhor dos mundos para PSDB, mídia, centrão e companhia, se tornou um redemoinho que tragou todo o campo político, as bases democráticas e até a imprensa tradicional.

Bolsonaro e o bolsonarismo, além do lavajatismo (força também de extrema direita criada nesse período e que ainda conta com um apoio velado da mídia), com cada vez mais apoio dos instrumentos ideológicos e propagandistas da máquina de guerra trumpista, navegaram por cima desse redemoinho e chegaram ao poder, contando com o voto bolsonarista e também com uma grande parcela do voto dos não-bolsonaristas mas anti-petistas e dos indiferentes.

E, como escrito no início desse texto, se esse fato já era por si só uma crise grave, a chegada da pandemia levou a crise ao ápice.

Hoje temos um governo, com a participação de mais de 5 mil militares, que se coloca frontalmente contrário às determinações da OMS e expõe o povo brasileiro à uma ameaça viral para fazer enfrentamento político-eleitoral a determinados governadores, para, a partir da imitação de Donald Trump, seguir com a pauta da desconstrução da República e para proteger os interesses de setores do capitalismo rentista brasileiro.

E, mais grave, apesar de não ser a força majoritária na sociedade, o bolsonarismo é a força mais coesa, mais disciplinada a obedecer ordens, mesmo as mais bizarras, com apoio de grupos armados militares e para-militares e com dinheiro e caneta para manter campanhas de impulsionamento de desinformações. Nenhuma outra força política no Brasil é capaz de , sozinha, enfrentar o bolsonarismo na atualidade.

As instituições não dão conta, também, de segurar essa situação sem ajuda de forças políticas e sociais.

A própria mídia tradicional, com todo seu poder de alcance, tem dificuldade nesse enfrentamento pela capacidade transgressora da propaganda bolsonarista.

Vidas de milhões de brasileiros estão ameaçadas pelo vírus, pela crise e por um possível novo golpe que pode destruir de vez a República e a democracia e concentrar o poder nas mãos de forças políticas que confrontam a vida como um bem absoluto.

A história mostra que só a unidade democrática em torno de uma pauta única é capaz de fazer esse enfrentamento. Mas, hoje, a possibilidade dessa unidade está dinamitada.

O PT, Lula, demais partidos de esquerda e movimentos sociais estão falando para dentro de uma bolha há algum tempo, são boicotados pela mídia tradicional e enfrentam dificuldades para buscar alguma liderança mais ampla em um processo de reação ao bolsonarismo.

O centro da política que ainda se mantém dentro dos padrões democráticos, por sua vez, evita aproximação com a esquerda e ainda está agarrado, no âmbito ideológico e político, à pauta neoliberal, fato que, hoje, o aproxima mais do bolsonarismo do que da esquerda.


A elite econômica, que apoiou todo o movimento anti-petista e a eleição de Bolsonaro em 2018, também está dividido e sem um caminho definido pela frente.

As Forças Armadas permanecem também no campo da penumbra.

A maior parte da sociedade também está no compasso de espera.

E as feridas políticas e sociais de 2016 ainda estão doendo e impedindo qualquer aproximação de todos esses campos.

O que fazer diante desse cenário? Como construir uma mínima unidade democrática a partir dessa situação complexa?

Segundo a Organização Mundial de Saúde, especialistas e a experiência recente, a doença Covid-19 vai se impor. A Itália, por exemplo, realizou o mesmo movimento que agora Bolsonaro, e o bolsonarismo, faz no Brasil. Há 45 dias a campanha "Milão não para" estava em plena atividade. Donald Trump também fez o mesmo movimento. Hoje a Itália e os EUA estão no centro da epidemia.

O avanço de uma epidemia, segundo a ciência, tem três passos básicos do ponto de vista da reação da sociedade: fase da negação, fase da confusão e fase do terror. Alguns países do mundo estão na transição da segunda para a terceira fase. O Brasil ainda está na transição da primeira para a segunda, com Bolsonaro ainda puxando para a negação.

Os dados e a experiência mostram que a crise vai se acentuar. O mundo já aponta na direção da unidade em torno da pauta do enfrentamento com isolamento social para conter o colapso sanitário e brutal investimento público para conter o colapso econômico.

O Brasil também chegará nessa conclusão em brevíssimo tempo, mas com um custo muito elevado. A campanha bolsonarista "O Brasil não pode parar" já nos atirou, dolorosamente, no olho da pandemia, assim como aconteceu na Itália, na Espanha e nos EUA.

Ou seja, a dor vai nos forçar a agir em unidade. A dor vai nos colocar nos mesmos trilhos que o mundo toma agora. Caberá às forças políticas e sociais responsáveis e democratas lidar com esse processo histórico. Um programa mínimo deve ser construído para o enfrentamento e para o porvir.

Após a passagem dessa crise, as coisas não serão como antes.

Mas o problema Bolsonaro, e bolsonarismo, persiste. De novo, hoje nenhuma força política e social sozinha tem condições de enfrentá-la. Mas num brevíssimo futuro a unidade de forças terá. O Brasil não vai suportar essa situação em meio a uma pandemia. Não haverá espaço para mais nada do que à luta pela vida e pelo futuro.

Parte da população já acordou e espontaneamente grita a palavra de luta "Fora Bolsonaro". Que este seja o primeiro passo da construção da unidade.

Que o futuro seja construído em bases mais justas, mais humanas e mais solidárias, enterrando o autoritarismo e o neoliberalismo na mesma vala.. Essa construção está em nossas mãos.

Blog O Calçadão




2 comentários:

FELICIA OLIVEIRA CORREIA disse...

Parabéns ao blog Calçadão por esse texto iluminado !!

elsa disse...

Em um momento tão conturbado da vida política do nosso País , o Blog " O calçadão"informa e analisa com clareza a situação , clareando as ideias e trazendo reflexões importantes sobre os fatos, sempre considerando que a vida humana é o bem mais valioso que temos.

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