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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

meu nome maria



À Feira Popular da Agricultura Familiar e Economia Solidária


me chamo maria, e caminho


me chamo maria,
tenho outros
não tenho ouro,
tenho morada,

já não tive

com as minhas companheiras
como as minhas companheiras
tenho os pés no chão, a mão na enxada,

o coletivo me abraça 
e carrego a esperança,
de fazer ouvir minha voz rouca
minha mão pesada
calejada

a cidade me atravessa como faca,
a vida me atravessa como faca 
os muros me dizem onde não posso pisar,
os prédios se erguem, 
frio, gigante
a especulação imobiliária quer me concretar

mas eu como faca se for preciso
derrubo o muro se for preciso
e precisa eu sigo,
nós seguimos
nos seguimos

porque sou eu quem levanta o dia,
sou eu quem faz girar o moinho da vida

me chamam maria, e muitos já chamaram,

o suor que deixamos no chão não se apaga,
cada rosto, cada passo, cada chama
um sol para cada uma de nós
Ilumina, lamina 
mas lâmina em terra seca
fazemos água 

nas feiras me reuno com outras marias,
minhas mães mãos Maria
da terra
de terra

trocamos nosso pão
trocamos nossas histórias,
sementes sem patrão, 
sem dono, sem mestre

a força que vem do alto, vem do chão,
e o chão para quem trabalha

vejo as máquinas, as fábricas, 
monarcas neoliberais…
latifúndios indo fundo com seu capataz

os homens que mandam e matam tentam fazer da vida um número, 
uma coisa,
mas somos pedra, somos raiz,
flor esta:
floresta

não passaremos despercebidas
em nossa mão solidária 
planta
árvore
linha e estrato 
alimentamos o mundo

nosso suor transforma
forma sulcos na terra
direções em autogestão coletiva 
atóxica

alinhada
desalienada
desalinhada do modus operandi capitalista
grão nesse campo duro
eu maria
grão
encontro encontros
marias
e como grão 
de grão em grão
me espalho
me espelho
em minhas marias

e marias
de grão em grão
espelhadas em amares
nos amamos
nos espalhamos
como grãos

e desatamos os nós
(e porque nos amamos)
as correntes que nos prendem
e germinamos em meio ao concreto,
contra toda a forma de fome que nos fazem 

além-comida amamos
à justiça, à liberdade real
socialista
ao pão nosso de cada dia
chão nosso de cada dia 

me chamo maria e caminho,
não somos mercadoria, nem números, 
nem sombras,

antes
faísca que informa,
árvore que renasce e rompe asfalto,
desgosto aos inimigos 
árvore que rompe incêndio 

mundo que insiste em florescer.


Filipe Augusto Peres


A Feira Popular da Reforma Agrária acontece todos os sábados, das 07 às 14 horas, no espaço do CEAGESP Armazéns, localizada na Rua Acre, 1300, Bairro Ipiranga, em Ribeirão Preto/SP.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns a nós produtoras guerreiras que todos os dias estamos de pé pra produzir alimentos saudáveis pra nossa família da cidade

Anônimo disse...

PARABÉNS A TODOS E TODAS GUERREIROS (A) ,,,PARABENS FELIPE SIMPLEMENTE LINDO AMEI ..GRATIDÃO SEMPRE PELA PARCERIA ...ABS

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