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domingo, 16 de março de 2025

Jornada

 



Mulheres

amanhã haverá justiça

por seus passos firmes sobre a terra.

Vocês acordam antes do sol,
o corpo, seus pés firmes na estrada vermelha,
a vida

à vida

às mãos que tecem a luta!

 

Na lona do acampamento,

ventos contrários tenta lhes soprar pedras desde priscas eras.

 

Flexíveis

seus passos ultrapassam as pedras

a polícia o dia cinzento

e sobre as perdas

seus caminhos

nos levam juntos

aos lenços de xita em seus pescoços


Seus punhos, suas enxadas

suas foices erguidas no ar

rompem o ar rarefeito

tóxico 

e a terra arada

não nos deixa no esquecimento

nem esquecer.

 

Os incêndios criminosos do agrobusiness
veneno destes trópicos

patriarcal 

escorre em seus corpos e territórios
rios que insistem em lhes matar

em matar-lhes mortas persistentemente mortas

(mater morta terra)
fazer-lhes fome colhida

vida tolhida

 

porém, suas raízes perpassam o presente

o passado e fundam nossa esperança de futuro vislumbrado

como raízes, tronco, galhos, folhagens e frutos.

 

O tronco, o grito à luta e esperança que a todos sustentam

se inicia e segue em vocês

se inicia e segue com vocês.


As folhas ressoam o vento de suas revoltas

e a cerca que insiste em bloquear o horizonte

não as segura.

 

Inseguros somos nós.


Anticapitalistas

vocês marcham sobre o concreto seco,

sob o sol

sobre coturnos e jagunços do agronegócios
e onde pisam, nasce chão fértil.


A voz de uma se soma a tantas

que plantas, mato da esperança,
se espalham nestes ventos de março


que plantas matos da esperança

os quais se espalham nestes ventos de março


e fundam nova terra 

que não poderá ser vendida

e nem rendida.


O capital veste sua máscara brilhante de morte.

Por ele, crescem latifúndios de injustiça..


Ultraprocessados, ustras

mentem que a supressão realizará o progresso e a fartura.

Entretanto, vocês sabem,

pois já nascem exploradas sob as máquinas e o aço frio

sabem sobre os corpos de todas as mortes.

 

Mulheres,

o campo lhes pertence,

sem cerca, sem medo,
sem grades, sem patrão, sem patriarcas

sem os venenos

e os dias, 

sem o  envenenamento do dia a dia

e as tardes, e as noites e madrugadas de morte.


Cada grão de terra
cada gota d’água lhes pertence

 

Abril está fundamentado


Suas lutas constantes
suas feridas abertas em nossa memória

suas veias latino-americanas

são jornadas, punhos e sementes

ultrapassaram o gesto da luta

e gestaram novas mulheres


com o rosto coberto pelo lenço de xita que lhes reveste contra este mundo machista

e seus tronos de vento capitalista

prestes a desmoronar pela realidade, terra e direção de seus passos


e o suor

as noites culturais 

os dias de formação 

e a estratégia 

a conspiração 

que só vocês conseguem fazer brotar


Amanhã haverá justiça

e seus passos firmes sobre a terra

por seus passos firmes sobre a terra

intermitentes.


Imagem gerada por IA a partir de trecho do poema 






2 comentários:

Alessandro Turtero disse...

Sensacional meu amigo Filipe!!!

Anônimo disse...

Valeu, Lê.

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