Já estavam ali expressas todas as cores, gritos e indicativos do que viria pela frente, a partir da vitória de Dilma Roussef com 54 milhões de votos, 3 milhões a mais que Aécio, e com vitórias importantes no Nordeste e em Minas Gerais.
Aécio e o PSDB já vinham sendo largamente favorecidos durante a campanha pela atuação conjunta entre a mídia e as investigações de Curitiba. Às vésperas da eleição, uma capa de revista trazia o que defendia ser uma possível delação bomba contra Lula e Dilma: "eles sabiam de tudo", lembram?
O clima de ódio anti-petista já estava disseminado em uma camada da classe média antes do pleito de 2014. Aécio e o PSDB contavam com isso para levar a eleição.
A derrota obrigou a mudança de planos.
"Não vamos nos dispersar", disse um Aécio vestido com a camiseta da CBF dias depois da eleição em um vídeo divulgado nas redes. Era a senha.
Todas as manifestações que vieram em 2015 e 2016, na esteira do golpe e puxadas por 'delações' vazadas em momentos políticos determinados, têm o layout da campanha de Aécio: verde e amarelo e o ódio ao PT.
A chamada 'República de Curitiba' atuou sempre politicamente em conjunto com os interesses do golpe. Atuou para enfraquecer Lula e Dilma em suas capacidades de articular contra o impeachment no Congresso. O vazamentos dos áudios de Lula com Dilma no dia da nomeação de Lula para a Casa Civil é o maior exemplo disso. Com essa cartada, o golpismo inviabilizou a última tentativa de Dilma de articular sua permanência na Presidência.
Hoje se sabe que vários dos maiores grupos que organizaram as 'manifestações' foram financiados e tinham ligação próxima com o golpismo.
O MBL tem participação efetiva no desgoverno Temer/PSDB.
Nunca foi contra a corrupção! Nem contra a corrupção e muito menos pela preocupação em manter a linha de inclusão social adotada nos últimos anos.
Por isso, não é de estranhar o silêncio das panelas da zona sul contra a corrupção e o descalabro administrativo no desgoverno Temer/PSDB.
Eles atuaram em conjunto para fazer de Temer o Presidente, criando uma 'pinguela', nas palavras de FHC, para a volta do PSDB ao poder.
Por que Temer traiu Dilma?
Simples. Dilma jamais atuou para interferir nas investigações. Ao contrário, Dilma defendia as investigações. E mais, Dilma, em 2012, havia cortado várias das vias de corrupção de Cunha na Petrobrás e em Furnas (dizem que ali em Furnas ela cortou as asas inclusive de Aécio), criando um perigoso inimigo.
As investigações da Lava Jato, anti-petistas por definição, poderiam se voltar contra o PMDB.
Ou seja, a traição foi na base da chantagem, o Congresso aprovou um impeachment sem provas, feriu a Constituição para salvar a própria pele e para entregar ao 'mercado', através do programa entreguista 'ponte para o futuro', a cabeça do trabalhador numa bandeja e as riquezas nacionais em uma taça.
O desgoverno Temer/PSDB é deles, foi construído com a contribuição deles, por isso o silêncio na Casa Grande e nas cercanias classe média.
E o povão, e os 54 milhões de eleitores de Dilma e as outras dezenas de milhões de brasileiros capazes de ter bom senso?
Estão anestesiados, sem saber que rumo tomar.
A bomba que explodiu no colo do PT, armada pela mídia golpista, fez brutais estragos e não há nenhum outro partido ou liderança capaz de tomar o lugar do PT e de Lula nesse momento.
Não há contra-narrativa capaz de reconstruir um discurso anti-golpista. Isso está sendo realizado aos poucos, as artimanhas do golpe se esclarecem aos poucos.
Lula ainda é o maior líder do país, o único capaz de peitar Moro e o golpe e o PT ainda é o maior partido de esquerda e o mais enraizado do país, mas isso não é suficiente. É preciso uma nova narrativa, novos compromissos, novas formas de diálogo com o povo. É preciso criar a unidade de forças.
Diante da realidade do desgoverno Temer/PSDB e seu brutal avanço contra os direitos sociais, trabalhistas e a riqueza nacional, o anti-golpismo ainda está na defensiva e o povo ainda está atônito.
E ainda há a ameaça da repressão, que espreita em silêncio.
Ricardo Jimenez
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