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sábado, 13 de janeiro de 2024

Ribeirão Preto realiza ato em protesto ao feminicídio da artista Julieta Hernández

 

Ato à Julieta Hernandez realizado em Ribeirão Preto
Fotos e vídeos: Filipe Augusto Peres 


Nesta sexta-feira (12) aconteceu em todo o país manifestações em protesto ao assassinato da artista venezuelana, Julieta Hernández, bonequeira, palhaça e viajante de bicicleta. 

Realizado em várias partes do mundo por Circo de Soladies, Circo do Asfalto e Revermei, em Ribeirão Preto, o ato foi puxado pela APEOESP e por artistas independentes, e teve como ponto de partida a esplanada do Teatro Pedro II,  reunindo também representantes de partidos políticos, movimentos sociais, sociedade civil.

Retomando a memória de Julieta, o ato começou com a leitura da Carta para Julieta, elaborada pelo Coletivo Julieta Presente.




Em seguida, os manifestantes saíram em cortejo até o Sesc Ribeirão com cantos e palhaçarias, onde, no local, foi lida a carta da irmã de Julieta, Sofia lá Roja Hernandez.

Veja um clipe da música e, em seguida, leia a carta na íntegra :


À Julieta Hernandez: carta a uma irmã que deu a vida

Há alguns dias, recebemos a pior notícia, aquela que ninguém deveria nunca ouvir. A imprensa sensacionalista faz o seu trabalho, mostrando-nos informações e detalhes horríveis que fizeram muitos terem medo. Mas Julieta sempre rejeitou o medo, ela era uma ariana poderosa, nunca teve medo, pelo contrário, rebelava-se com o poder de uma tempestade. Hoje, devemos contar essa parte de sua história, que não é de forma alguma a mais importante nem a que queremos que seja lembrada, mas sua trágica morte é uma história de proeza inimaginável.

Julieta se imortalizou e essa é a maior expectativa de qualquer artista! E dói, claro, dói a todos nós porque sentimos que tínhamos muito a aprender com ela, tantos planos interrompidos pela realidade injusta. Mas Juli era assim, ela vivia o presente buscando sempre a expressão mais elevada de sua alma. Sua bondade e disposição para servir sempre foram sua forma de se relacionar. Julieta não acreditava em impossíveis, como acreditar neles se ela percorreu milhares de quilômetros com a força de suas pernas.

Num dia sombrio, em seu caminho ela encontrou cinco grandes razões para se martirizar, cinco crianças, crianças pobres. Os assassinos dela foram os monstruosos pais dessas criaturas. Com o último dinheiro que tinha, ela comprou leite para essas crianças e decidiu ir para a casa dessa família pobre e miserável. Possivelmente, pelo que as pessoas contam, ela percebeu o abuso contra elas. Não era a primeira vez que Julieta se comovia diante do sofrimento infantil e se disponibilizava para lhes levar ao menos um pouco de alegria e amor, e foi naquela casa que aconteceu tudo o que não conseguimos mencionar. O homem, bêbado, quis abusar de Juli, ela se defendeu com todas as suas forças, mas a mulher dele foi quem conseguiu deter nossa Julieta, agarrou-a cansada e muito machucada. 

Eles a enterraram com a sua bike, com os seus sonhos e os nossos corações. Hoje ambos estão e estarão presos pelo resto de suas vidas.

As crianças estão agora em um abrigo com um futuro, com outra oportunidade. Obrigada, Juli, por sua dedicação, pois nessa cena final você salvou cinco crianças de tantas misérias, e com isso gerou um movimento que não se apagará, porque aqueles que morrem pela vida não podem ser chamados de mortos. E você, irmã, foi isso, luz, amor e sorrisos que sempre ressoarão em todos nós que tivemos a sorte de conhecê-la, e em todos que ouvirem e conhecerem sua história.

Sophia la Roja Hernández e suas irmãs de alma e caminhos.


Falas

Presente no ato, Manuela Aquino, da Direção Estadual do MST pelo Setor de Gênero, destacou a importância de se denunciar todos os tipos de violência contra as mulheres




Já no SESC, a Atriz, palhaça e arte educadora, Gracyela Gitirana falou sobre feminicídio, o cortejo realizado em Ribeirão Preto e a resposta mundial espalhada em vários atos realizados em países da América Larina e Europa.




Entenda o caso

Em viagem pelo Brasil de bicicleta, o corpo de Julieta foi  encontrado em 5 de janeiro, no município de Presidente Figueiredo, Amazonas. A Polícia Civil afirma que a artista foi vítima de violência e assassinato por um casal local que havia cedido-lhe abrigo. Julieta estava desaparecida desde 23 de dezembro ao voltar ao país.

De acordo com relatos, a motivação para o crime foi Julieta ter percebido que as pessoas que a acolheu abusavam de 5 crianças. Julieta fora a casa dos assassinos após perceber a vulnerabilidade das jovens, tendo comprado-lhes leite com o dinheiro que lhe havia sobrado.

O homem, bêbado, ainda tentara abusar de Hernandez. 

Fotos

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