Ana Mielke questionou se cabe às big techs serem as determinadoras de nossa democracia. Foto: Filipe Augusto Peres |
Em fala realizada durante o 8º Blog Prog, jornalista do Intervozes destacou que desenvolver tecnologias públicas de IA é uma questão de soberania
Em uma fala na mesa de debates “Os desafios da inteligência artificial”, realizada durante o 8º Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais no último dia 5 de julho, organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Ana Mielke, do Coletivo Intervozes criticou a pouca representatividade de universidades e instituições públicas de pesquisa na produção de tecnologias de Inteligência Artificial.
A jornalista destacou
que a maioria das organizações que depositaram patentes no campo da IA são
empresas privadas.
“[...] apenas entre os anos de 2011 e 2017 o número de patentes no campo da Inteligência Artificial cresceu em uma proporção 6,5 vezes [...], só que a maior parte das organizações, entidades que depositaram patentes, 26 entre os 30, foram empresas privadas. Apenas 4 são universidades ou instituições de pesquisa e científica de caráter público”.
Ana chamou atenção
para a influência do projeto neoliberal nos países em desenvolvimento, o qual
contribuiu para a privatização de serviços essenciais e a diminuição do papel
do Estado na garantia de direitos fundamentais à população
“[...] a história da inserção do projeto neoliberal nos país em desenvolvimento, em especial no pós consenso de Washington, em 1989. No Brasil, a gente viveu isso com bastante vigor durante os governos FHC na década de 90, inclusive com a privatização da Telebrás e a concessão dos serviços de telefonia para a iniciativa privada. [...] O estado deixou de ser provedor de alguns direitos essenciais à população e passou a mediar interesses entre as empresas privadas, as quais passaram a operar e a prover estes serviços públicos e os consumidores”
E enfatizou a
importância de lutar contra a hegemonia das big techs, estas como únicas produtoras de
tecnologia e conhecimento. Neste sentido, Mielke ressaltou a importância de
promover a soberania e a construção tecnológica própria.
“[...] A gente precisa desnaturalizar a hegemonia intelectual das big techs como únicas e exclusivas produtoras de conhecimento e tecnologia. Este é um primeiro desafio que está colocada para a gente, tanto no debate da regulação das plataformas quanto no debate da Inteligência Artificial”.
“O segundo desafio [...] é a gente pensar as tecnologias também a partir desse lugar de produção. Nós não somos apenas consumidores de tecnologias. E se este é o lugar do Brasil, ele se reproduz quando a gente fala de uso de Inteligência Artificial.”
“[...]É pra gente pensar. Inteligência Artificial é só um nome fantasia, o que a gente está falando, na verdade, é de soberania, de construção tecnológica de disputa de poder num cenário internacional. E sendo as empresas de tecnologia as maiores, os maiores conglomerados, quem dominam a economia do mundo, é pra gente refletir se a gente quer, de fato, que sejam elas as mediadoras, por exemplo, da nossa esfera pública, que sejam elas, por exemplo, as determinadoras da nossa democracia, porque elas estão na Saúde coletando dados de usuários. Elas estão na Educação com a plataformização da Educação, estão na Segurança Pública. Ontem, o Smart Sampa foi inaugurado, aqui, pelo prefeito de São Paulo”.
A representante do Coletivo Intervozes destacou a presença das tecnologias de inteligência artificial em diversos setores, como educação, saúde e segurança pública, e alertou para os riscos de vigilância e violação da privacidade dos cidadãos. A jornalista também fez um chamamento para a mobilização em torno do Projeto de Lei 2338, que busca regulamentar o uso da inteligência artificial no Brasil, mas sofreu alterações que favorecem o lobby das empresas de tecnologia.
Entre os pontos preocupantes do PL 2338, Mielke mencionou a retirada da supervisão humana sobre as decisões da inteligência artificial, a inclusão do reconhecimento facial para fins de segurança pública e a possibilidade de uso da biometria a longa distância. Ana Mielke destacou a importância de proteger dados sensíveis da população e convocou para a assinatura de uma carta pública e um tuitaço em defesa dos pontos positivos e críticas aos pontos negativos do projeto.
Coalizão Direitos na Rede Lança Carta Aberta Defendendo uma Legislação Brasileira de IA que Proteja Direitos Fundamentais
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