1
quatro dólares por hectare
um café ruim numa esquina de Belém custa mais...
mas eles juram que é revolução
e eles juram que são verdes
quem não quiser ver que creia
neste novo começo
neste “futuro sustentável”,
insustentáveis
as palavras brilhantes sempre aparecem
quando alguém está prestes a tirar algo de alguém
quando alguém está prestes a desaparecer
os povos da floresta
2
ouçam,
respirem fundo
cheirem o ar
e reconheçam o cheiro de armadilha
e respondam o óbvio:
não
respondam trançados de cipó,
pulsemos junto com o tambor que avisa perigo,
carregados de séculos de invasões e extermínios
eles chegam sempre embalados
como “progresso”
3
O TFFF veio com roupa de gala
e bala
e eau de parfum
perfume de conferência internacional
embrulho do Banco Mundial
presente
prometeram dinheiro
80% para governos
20% para quem mantém a floresta viva com o corpo
a matemática do capital
sempre cabe no bolso dos mesmos...
a matemática capital
a pena capital
chamam de proteção
de quem?
dos investidores contra a floresta?
ou da floresta contra os investidores?
Sila Apurinã disse a verdade nua:
“colonização vestida de verde”
não é metáfora
pescadores do Marajó perguntam:
“chega para quem?”
a resposta está escrita nas marés
nunca para quem precisa
a floresta não é um ativo financeiro
e não está na bolsa de valores
e não cabe em planilha de Excel
mas está na bolsa de valores
mas está em planilhas de Excel
pistoleiros passam
a grilagem avança
o governo sorri às petroleiras
e finge ouvir os povos da Amazônia
3
em Genebra, Nova York ou Londres,
um homem de terno arruma a gravata
e diz que entende tudo sobre árvores tropicais
porque leu um relatório de 60 páginas
e ninguém ri
porque não é engraçado
os que moram dentro da vida
lembram que capital
não se come,
não se bebe,
não substitui território
não cura ferida de bala
o debate é simples:
a floresta será gente
ou será papel?
quem respira floresta sabe a resposta.
e ela ecoa forte,
de Belém para o mundo:
não ao TFFF
sim aos direitos da floresta
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