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| Ilustração feita a partir de foto de arquivo |
O imperialismo
diz que durará
mais que as montanhas
mas sempre surge a nova juventude
de 20 anos
armada de fome, livros, corpos
e brigadas
e outro futuro
Che ainda planta cartas
que explodem no presente,
outros Cabrais se semeiam
e na terra minada da África
a palavra dignidade ainda resiste
2
conto os mortos…
mas conto
os vivos que insistem
do Vietnã vieram lições,
não manuais:
o napalm nos queima carne,
mas não derrete nossa vontade
(o medo me pede asilo
porque homem de meia idade
em meu temperamento temperado
posso disfarça-lo à juventude nova)
mas não acolho
e me recuso a morrer
a luta me ensinou a soberania,
mas compramos outra
discursiva
e esta
apenas seu discurso
não basta:
eu não como esta soberania,
eu não visto esta soberania,
eu não enterro meus mortos
apenas com esta soberania
a dignidade se cava em trincheiras
com mãos próprias
coletivas
suor e sangue
e outro futuro
Che ainda planta cartas
que explodem no presente,
outros Cabrais se semeiam
e na terra minada da África
a palavra dignidade ainda resiste
2
conto os mortos…
mas conto
os vivos que insistem
do Vietnã vieram lições,
não manuais:
o napalm nos queima carne,
mas não derrete nossa vontade
(o medo me pede asilo
porque homem de meia idade
em meu temperamento temperado
posso disfarça-lo à juventude nova)
mas não acolho
e me recuso a morrer
a luta me ensinou a soberania,
mas compramos outra
discursiva
e esta
apenas seu discurso
não basta:
eu não como esta soberania,
eu não visto esta soberania,
eu não enterro meus mortos
apenas com esta soberania
a dignidade se cava em trincheiras
com mãos próprias
coletivas
suor e sangue
sangue vermelho
porque não somos vermes
nem lagartos
nem polvos
nem insetos
3
bases militares brotam
parasitas metálicos
seus continentes cansam
o mapa do mundo virou
o tabuleiro de tiro ao povo
meu espírito permanece
como febre lenta
correndo nas minhas veias de Sul
enquanto Washington
distribui golpes como panfletos
tentam me ensinar a golpes
a galope,
que a paz precisa ser armada
e não amada
eu não calo um verbo
que já se tornou multidão
o socialismo não nasceu
de um sonho elegante
num gabinete europeu
nasceu da criança que trabalha,
da mulher que perde o filho,
do camponês que perde a terra,
do operário que perde o corpo
o império me prometeu progresso
mas eu nunca acreditei
quando me entregou sua embalagem
de fome estabelecida
seu network me prometeu democracia
e me entregou eleições sob mira de sniper
China ergue fábricas
Rússia ergue muralhas
África ergue perguntas
América Latina ergue dívidas
e meus punhos cerrados
não desejo revolução de flor rara
mas de erva daninha
no concreto do capitalismo
4
não morro em arquivos
muitos morreram em arquivos
moram em mim as periferias,
moram em mim os acampamentos,
moram em mim os campos sem nome,
moram em mim os becos
onde a polícia
aprendeu a ter medo de minhas ideias
não me dou o direito
de que morram em mim
5
não estou sozinho
milhões de gestos feios
de gente como eu
decidiram
não morrer em silêncio
5
não estou sozinho
milhões de gestos feios
de gente como eu
decidiram
não morrer em silêncio
não viver em silêncios

Um comentário:
Magnífico
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