O blog O Calçadão reproduz o relato emocionado feito nas redes sociais pelo nosso amigo David Ranieri Bulgari.
O Cine Clube Cauim, que promove o projeto "Ribeirão Vai ao Cinema" há 13 anos nas dependências do histórico Cine Bristol em Ribeirão Preto, pode fechar as portas.
Voltado para estudantes de escolas públicas e pessoas que não possuem oportunidade de irem ao cinema, o projeto já chegou a receber 120 mil pessoas por mês, quando vigorava um convênio com a Secretaria Estadual da Educação, que durou até 2010.
Após uma árdua luta para buscar apoio financeiro para tocar o projeto e renovar o contrato de aluguel do imóvel, parece que o Caium vai perder a batalha.
O relato sentido do David podia soar como um alarme para os ribeirão-pretanos: nós vamos deixar isso acontecer?
Com data certa e profundo pesar, recebo do amigo Kaxassa a notícia menos desejada.
Já faz algum tempo que muitos têm lutado pela manutenção de um dos pilares da cultura ribeirão-pretana. Não é só um local, é mais do que isso, é uma ideia que resistiu por mais de 30 anos. O Cine Clube Cauim é sinônimo de resistência, de cultura e de inclusão social.
Este querido projeto, sonhado e tornado realidade por muitos, tem em Kaxassa seu mais fiel defensor. Tal como o cavaleiro da esperança, Kaxassa lutou ardorosamente pelos seus ideais, enfrentando toda sorte de oposição que no seu caminho passou.
Mas é chegado o tempo de chorarmos.
Hoje me é dito que a sua existência nesta nossa cidade se findará em 30 deste novembro de 2015, prazo dado pelo senhorio para desocupação do prédio que abriga o mais famoso cinema do interior de São Paulo e mais notório projeto de divulgação do cinema para todos do Brasil.
Naquele local, provavelmente, um ponto de culto religioso se instalará pela sua localização no centro da cidade, afastando de vez a sua destinação original de ser uma sala de espetáculos cinematográficos.
Luta de meses, de anos... A permanência do Cine Clube Cauim em nossa cidade é hoje questionável sem o seu ponto maior de existência: uma sala de cinema.
E a que se deve esta lamentável perda de um projeto tão importante para a cultura local?
Infelizmente falta o mais fundamental dos metais para a continuidade de tudo. O Cauim é uma ong sem fins lucrativos, mantém uma sala de espetáculos e outros projetos nada cobrando, ou quando o faz o valor é tão ínfimo que apenas cobriria parte das despesas.
Não está na bilheteria a sua riqueza, mas sim no produto que entrega para a sociedade.
Cada jovem que lá assiste a um filme, como mágica, abre os seus olhos para o mundo que o cerca, tornando-se outra pessoa, um cidadão.
É esta fábrica de cidadãos que está por fechar.
Mas somos sempre levados a perguntar, de quem é a culpa, por que isto irá acontecer?
E a resposta de tão simples, dá vergonha de falar, mas não se pode calar para sempre.
Fecha-se um ponto de cultura pela falta de apoio de quem mais deveria patrocinar atividades culturais. Fecha-se por conta das parcerias que não se sustentam, e dos recursos financeiros que não chegam, apesar do compromisso apalavrado e assinado.
Fecha-se um lugar de resistência, que nem a ditadura parou.
Seriam sinais dos tempos?
David Ranieri Bulgari é servidor público municipal e um amigo do Cauim
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