Foi aprovada no estado de Alagoas
esse ano a lei que proíbe os professores de opinar sobre ideologia, política e
religião, chamada de "Escola Livre", sob pena de punição e até mesmo
demissão.
Na condição de estudante secundarista e vice-presidente do grêmio
estudantil, considero essa lei uma afronta, pois fere a constituição brasileira
e me faz lembrar o período ditatorial no Brasil, onde havia censura e
perseguição à todas as vozes que se erguiam contra o regime.
Se a lei for aplicada na íntegra, não sobrará muito conteúdo para os
professores ensinarem. Várias disciplinas seriam alijadas porque sua essência
está na área da política e do comportamento social. Entendo que o verdadeiro
intuito dessa lei é de fragilizar quem tem mais poder para levar as pessoas a
pensarem. Quem mais sofre com essa lei são os docentes de história, geografia,
filosofia e sociologia.
A experiência que tive como aluno do ensino fundamental é a de ter tido
professores conservadores. Tínhamos aula de religião, mas sempre voltada ao cristianismo,
e nem estudava em uma escola confessional e sim do estado. Ao invés de tratarem
a religião num sentido mais amplo como, por exemplo, para ensinar a origem dos
conflitos entre vários povos, como os do Oriente Médio, tentavam nos
catequizar.
Acho interessante os políticos nunca se preocuparem com relação a isso.
Ou seja, esse tipo de doutrinação pode. Por que será? Acredito que seja pelo
fato dela nos tornar mais resignados. Curso agora o terceiro ano do ensino
médio em uma época em que as pessoas estão cada vez mais críticas. O Brasil
passa por uma ebulição social e é justamente nesse momento que os políticos
ligados às bancadas super-conservadoras, e representando acima de tudo a si
própria, começam a temer os professores mais críticos e bem preparados,
considerando estes como adversários.
Com tanto ativismo social surgido nos últimos tempos, esses políticos
estão com receio de perder seu poder. O discurso desses deputados é de que os
professores podem colocar os alunos em uma prisão mental, por estarem mais
alinhados à esquerda. Esquecem, no entanto, que o verdadeiro papel do professor
é ensinar os alunos a serem cidadãos mais críticos, questionadores. Ajudá-los a
ter olhos para ver além do que é imposto à sociedade pela mídia que aí está,
totalmente parcial e manipuladora. Questionar também os políticos, a escola, a
grade curricular, os abusos das empresas, mídia etc. Políticos dessa espécie
querem nos fazer pensar que querem aprisionar nossas mentes são os professores
mais atuantes e questionadores do modelo político e social brasileiro atual,
mas na verdade é justamente o contrário.
Querem calar a voz de quem tem muito a dizer e nos fazer crer que não
passam de esquerdistas ultrapassados a fazerem mal a comunidade escolar por
deixarem de ensinar para pregar suas ideologias políticas. No entanto, o que
esses professores têm a dizer deve ser muito levado em consideração, pois o que
ensinam é o que foi aprendido por meio de anos de estudos nos bancos das
universidades ao lerem, relerem, de debaterem e estudarem clássicos da
literatura das ciências sociais.
Termino esse artigo com uma famosa frase de Alejando Jodorowsky, que
serve para refletirmos a respeito do que esse tipo de político quer fazer
conosco: "Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma
doença".
Tico Mendes é estudante secundarista da Escola Cid de Oliveira Leite
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