Do Diário do Centro do Mundo
No início do ano, o governador Geraldo Alckmin já tinha dado declarações que desmereciam a Fapesp (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo). Para o governador, o principal órgão de financiamento à ciência no Estado gasta muito e ‘vive numa bolha acadêmica desconectada da realidade’, que prioriza ‘estudos sem utilidade prática’.
Agora, no mesmo dia em que a NASA colocou a sonda Juno na órbita de Júpiter após longos cinco anos de viagem, ficamos sabendo que Alckmin pretende se desfazer de fazendas inteiras cuja finalidade é a pesquisa científica.
São pelo menos 13 delas, que serão vendidas para gerar uma ‘economia’ de aproximadamente R$ 500 mil por ano. Vamos lá: enquanto a NASA investe mais de 1,1 bilhão de dólares num projeto que o governador certamente não enxergaria nenhuma utilidade prática, por estas bandas ele gasta fortunas com caminhões blindados para a polícia e sucateia a ciência com esse papinho de economia.
Sim, sucateia. Naquele estilo já clássico do governador tucano, aos poucos ele foi precarizando esses espaços voltados à pesquisa. A fazenda de Ribeirão Preto (Polo Regional Centro Leste) que estava desenvolvendo um tipo de leite enriquecido e vitaminado cujos resultados iniciais já demonstravam uma melhora considerável em exames clínicos realizados com idosos (as taxas de colesterol, creatinina e ácido úrico haviam apresentado melhoras entre os que consumiram o leite), desde o ano passado já vinha tendo seu gado transferido para outras unidades. Hoje a fazenda é um amontoado de barracões vazios.
Alckmin repete com a comunidade científica o que vem fazendo com as escolas e o ensino público. Deteriora, precariza, cria um cenário de terra arrasada e de ‘mal uso’ que justifique passar nos cobres.
Quando expostas as dimensões, o total da área que abriga esses polos de pesquisa podem parecer um latifúndio ocioso aos olhos leigos. Juntos, equivalem a 1.877 campos de futebol. Não é disperdício. Uma fazenda em Jundiaí, que será prejudicada caso o plano vá adiante, abriga um centro de Engenharia e Automação. Ali testam-se tratores e outros veículos agrícolas para ensaios de colheitas mais produtivas. Isso demanda espaço, só a pista para testes tem 1 km de extensão. Na unidade de Brotas, os projetos são de avicultura e pastagem no cerrado. Vai simular isso onde? Numa sala?
As fazendas “têm utilidade, seja para pesquisa, seja em termos de preservação ambiental, sejam ambas”, afirmou Joaquim Azevedo Filho, presidente da Associação de Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, para quem o plano do governador é um retrocesso. Segundo ele, também “não houve debate do governo com as equipes das fazendas”. Qual a novidade, senhor Joaquim? Já viu Alckmin consultar alguém?
“Nenhum país é capaz de sustentar o desenvolvimento tecnológico a longo prazo sem pesquisa básica forte”, declarou Ana Lúcia Vitale Torkomian, diretora da Agência de Inovação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Para ela, essa dicotomia entre pesquisa aplicada, que ‘serve para alguma coisa’, e pesquisa ‘puramente acadêmica’ é falsa. Toda pesquisa serve.
Mas estamos num país recheado de cérebros como o de Alckmin que só vê cifrões. Por isso uma pesquisa recente da prestigiada revista Nature colocou o Brasil em 50º lugar num ranking de 53 países sobre eficiência no gasto com ciência. Estamos atrás de Irã e Paquistão.
Por que será que alguns governantes desejam tanto uma nação de cretinos subdesenvolvidos?
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