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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Projeto da elite ribeirão-pretana para a juventude: toque de recolher! Por Leonardo Sacramento

Crédito do meme: Estevan Martins.
Para os caras do status qwuo ribeirão-pretano, lugar de jovem da periferia não é em shopping, nem em praças e nem em parques. Lugar de jovem pobre é trancafiado dentro de casa (O Calçadão).
Texto de Leonardo Sacramento
Os parques da cidade foram construídos na Zona Sul. Não existem parques na zona norte e há um na zona oeste (abandonado) . Outro que deveria ser construído, o Rubem Cione, foi esquecido pela prefeitura e construtoras, que não veem interesse em construir um parque e colocar a sua plaquinha para pobres. Como resposta à crise financeira, a prefeitura privatizou os parques e as praças, fazendo com que a elite, por meio de suas empresas, construíssem somente na zona sul, ou seja, para a própria elite.

O que resta à juventude? Ir para os shoppings, outra faceta do projeto conservador das elites. Contudo, em 2015, em um acordão entre Juizado da Infância e Shoppings Centers conseguiu-se uma portaria proibindo os jovens de irem ao shopping. Na prática, jovens pobres e negros (quem não se lembra da agressão a um jovem negro e homossexual no Santa Úrsula? E aqueles jovens que entraram no Ribeirão Shopping e foram expulsos por estarem descalços e maltrapilhos?).
Ah,mas os pais têm que ir. Não, não tem! Primeiro, os pais trabalham 10 horas por dia e têm direito ao descanso. Segundo, uma coisa é você, classe média, pegar o seu carrinho com ar condicionado e levar o seu filhote criado a leite ninho. Outra coisa é pegar um ônibus que não passa no final de semana (e isso é proposital, é outra faceta da política das elites sobre a cidade) e acompanhar o seu filho, sem qualquer faz-me-rir, inclusive para comer. Terceiro, ir com os pais não pega bem (quando fazia meu rolezinho no Ribeirão Shopping, lá pelos meus 15 anos, não iria com a minha mãe, lógico).
A Defensoria Pública derrubou a portaria.
E agora? Qual é a ideia mirabolante para que jovens pobres e negros fiquem trancafiados em suas casas de poucos cômodos, muito distintas das casas dos delatores da Lava-Jato que cumprem prisão domiciliar?
O vereador Zanferdini faz um projeto de lei proibindo de jovens ir às ruas depois das 23 horas. Quem morou ou mora nas periferias de Ribeirão Preto sabe que a única coisa que restou para a juventude pobre é ficar nas praças abandonadas das zonas norte, leste e oeste (aqueles locais públicos que foram construídos justamente para isso). Lógico, quando tem, pois em muitos bairros não existem, como, por exemplo, no Heitor Rigon (há uma promessa e um projeto de anos, mas nunca saiu do papel).
Mas isso não é novo. A história da cidade de Ribeirão Preto pode ser resumida como a história da fuga das elites dos trabalhadores, a fuga dos abastados dos "famélicos", "leprosos" e "iletrados". Fincaram-se primeiramente na Rui Barbosa. Quando os trabalhadores negros e imigrantes estabeleceram-se por lá, foram para o centro. Quando o centro ficou rodeado por pobres, foram para a 9 de julho. Quando os pobres chegaram por perto, aproveitaram a inauguração do... Ribeirão Shopping e foram para a Zona Sul. Exatamente por isso que existe essa cisão territorial em Ribeirão Preto: Zona Sul (ricos e classe média alta) x Zonas Norte e Oeste (trabalhadores pobres).
Vejo esse projeto de lei à luz da história de Ribeirão Preto, que nada mais é do que a história da dominação política, econômica e territorial das elites sobre os trabalhadores pobres. O projeto de lei é mais um capítulo dessa história, com o irônico nome de "toque de acolher".
Leonardo Sacramento é professor e Secretário-Geral da Aproferp

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