Vejam como são as coisas. O governador de São Paulo convocou a imprensa em uma entrevista festiva, que rendeu longas e acríticas reportagens, para dizer que, ao longo de 3 anos, seu governo atingiu a façanha de economizar, ao todo, 997 milhões de reais. O fato foi alardeado como grande conquista, supostamente atingida por meio de um comportamento austero com o dinheiro público. Numa evidente ação de marketing eleitoral, Alckmin se apresentou como um governante zeloso de seu povo, e apelou para a frase da ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher: "Não há dinheiro público,
há dinheiro das famílias".
Um verdadeiro espetáculo de escárnio.
Para começar, o Orçamento paulista supera os 200 bilhões por ano, ou seja, mais de
600 bi entre 2015 e 2017, período apresentado por Alckmin aos jornalistas. Portanto,
a grande festa está se dando por conta de uma (suposta) economia de 0,16%. Só a estimativa do CADE do montante desviado pelo cartel dos trens é bem superior a isso, mas, para este debate, vamos ignorar o que se esvai pelos ralos da materialmente comprovada corrupção tucana. Vamos nos ater à jocosa ideia de que trata-se de uma administração que zela pelo "dinheiro das famílias".
Como está o dinheiro das famílias dos professores, dos policiais, enfermeiros, médicos, enfim, dos servidores do Estado que há pelo menos três anos não recebem SEQUER a reposição da inflação em seus salários? É com este dinheiro que está sendo feita a economia de 0,16%? Como está o dinheiro das famílias dos agentes de organização escolar, categoria que ganha MENOS que o salário mínimo? Ou dos professores temporários que a partir de 2019 voltam a ser obrigados a aguardar DUZENTOS DIAS entre contratos de trabalho? Contratos que serão cumpridos em um número
cada vez menor de salas de aula, já que segue tranquilamente o projeto de fechamento de salas por todo o Estado.
Para não falar da recente aprovação do PL 920, que congela os gastos sociais primários por dois anos, achatando ainda mais salários e recursos.
Austeridade no bolso dos outros é refresco.
Só existe economia quando as obrigações estão cumpridas. Isso está muito longe de
ser o caso do Estado de São Paulo.
Não foi à toa que Alckmin escolheu justamente uma fala de Margareth Thatcher, a
pessoa responsável pelo desmonte do estado de bem-estar social britânico e pelo massacre da classe trabalhadora daquela nação. Pelo menos foi coerente.
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