Ilustração: @matheusriboficial |
Por Karina Rodrigues Pereira
As tragédias da Vale e da Samarco causam dores invisíveis a maioria da população. Choros que ecoam nas matas e rios devastados. Animais, plantas e pessoas agonizam no descaso governamental e no descaso empresarial. Essas mortes não se resumem a 62 mortos e 292 desaparecidos.
São números pequenos, velados, manipulados para não causar muito impacto sobre a opinião pública. Nossas perdas são avaliadas em milhares!
Milhares de vidas da fauna e da flora. Milhares de vidas humanas afetadas pela lama e contaminação tóxica da barragem.
Esta barragem já causava impacto ambiental extremo onde se encontrava, em Feijão. Após sua implosão por descaso das autoridades e da própria mineradora, a Vale, que poderia ter evitado tal catástrofe se assim o quisesse, causa danos que poderão levar de 200 a 400 anos para o sistema ambiental local se reequilibrar e se desintoxicar de seus dejetos.
As comunidades indígenas a beira dos Rios Paraopeba e Watu(Rio Doce),da aldeia Naõ Xohã de nação Pataxó Hã-hã-hãe, situada no município mineiro de São Joaquim de Bicas, beira do Paraopeba e os Krenak que fica a beira do Rio Doce no município de Resplendor, sofrem o descaso e abandono das autoridades que deveriam preservar e cuidar de nosso patrimônio cultural indígena.
Município de São João das Bicas |
Neste momento os índios de Naõ Xohã passam por privação de água potável e futuramente terão problemas em colher seus cultivos, caçar e coletar frutas, pois o envenenamento do solo da região, além de sua água se fazem iminentes. Os Krenak sofrem desde a destruição da barragem da Samarco, sem ter recebido nenhuma ajuda da empresa.
A Funai, com seus limitados recursos e hoje, como uma das autarquias odiadas pela atual governante assim como o Ibama, não possuem estrutura adequada para apoiar as vítimas de tais desastres. (Enquanto escrevia este artigo, entrei em contato com a Funai para conseguir os contatos para direcionar ajuda aos mesmos).
Represa Retiro Baixo |
O voluntariado mais do que nunca se faz presente no Brasil. A necessidade de intervenção civil sobre os órgãos públicos e as empresas, exigir responsabilidades, tomadas de atitudes e encontrar pessoal para ajudar a quem precisa se faz iminente no Brasil. Com uma mentalidade que ultrapassa o atraso em séculos, empresários e demais setores econômicos chegaram ao poder neste pais e atrasam todos setores socioambientais de desenvolvimento.
Fazem vistas grossas ao necessário, e ignoram a necessidade do mínimo a toda a população brasileira. Permitem que os níveis de agrotóxicos que já são alarmantes no Brasil se tornem 5 mil vezes mais envenenantes, permitem que desastres ambientais sem precedentes e que claramente poderiam ser evitados se tornem reais, causando prejuízos ao erário público (diga-se governos em extensão de anos e diga-se décadas a fio), empresas e empresários que nada tem a ver com o setor ambiental e sofrem por estas calamidades pré-evidentes. Permitem que comunidades indígenas, sua cultura, seu conhecimento e sua existência sejam genocida-dos, extinguidos e suprimidos da realidade brasileira e humana. Um descalabro para a constituição federal e de quem o escreveu com a mais genuína das intensões benevolentes.
Não estamos sós. O mundo olha pra nós, mas não olha por nós se não gritarmos, chorarmos e protestarmos. Como já dizia o provérbio: “Quem tem boca vai a Roma”. É necessário que a consciência cidadã nos brasileiros se faça presente e se construía a ideia de que o próximo nosso está dentro do território brasileiro e que somos uma nação sul-americana, indígena em sua maioria seja por descendência ou por afinidade, que se não socorrermos aos nossos, outro país não o fará. Não existem salvadores da pátria a não ser nós mesmo por nós mesmos.
É necessário sair da zona conforto e exercer nossa ação cidadã. Seja em nossa comunidade, em nossa casa, em nossa cidade ou em nosso pais. É necessário exigir que a diretoria da Vale seja devidamente responsabilizada pelo crime que cometeu, consciente, e que sejam presos e processados pelo crime contra a humanidade e contra a vida.
ilustração:@matheusriboficial |
Se nada for feito, os dejetos da Tragédia da Vale chegarão até o Rio São Francisco, se fossemos conscientes e as autoridades também, estes dejetos ficariam parados na represa de Retiro baixo, antes da de 3 marias. Assim, menos populações seriam afetadas. Mas nossas autoridades são responsáveis, ou só assistem a tudo no Brasil como meros espectadores da vida alheia?
Referências:
A Vale continua a ver índios como um entrave econômico
Funai envia servidores para aldeia atingida pelo rompimento da barragem, em Brumadinho
Rompimento de Barragens deixa índios com pouca oferta de água potável, diz FUNAI
Karina Rodrigues Pereira é bióloga, mestranda em Gestão e Auditoria Ambiental pela Universidad Europea del Atlantico, diretora da Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil.
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