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domingo, 5 de julho de 2020

Análise da Semana do Blog O Calçadão: onde estão os votos de esquerda e progressista em Ribeirão Preto?




ANÁLISE DA SEMANA COMPLETA 1 ANO NO AR PELO YOUTUBE

São 52 semanas no ar. No início com programas gravados e levados ao ar no mesmo dia, sempre às segundas-feiras (repercutindo o Resumo da Semana escrito no nosso www.ocalcadao.blogspot.com.br). Mas o trabalho foi rendendo frutos e acabamos superando a marca dos 1 mil inscritos no canal e iniciamos a fase dos "ao vivo". Hoje o canal do Blog se aproxima dos 2 mil inscritos e temos outros programas: Debate Político (aos sábados pela manhã), Mulheres em Movimento (com a Flávia Meziara às terças pela manhã), o Papo no Calçadão, o Pipoca no Calçadão e o Virando a Página (com Antônio Alberto Machado). Mas tudo começou com a Análise e seguiremos construindo.

CHEGAMOS AO 5º MÊS DE PANDEMIA E TUDO O QUE TEMÍAMOS ESTÁ ACONTECENDO

Lembramos que em março este Blog já alertava para o cenário catastrófico que se pronunciava caso o Brasil não adotasse medidas articuladas e verticalizadas para enfrentar a Covid-19. Nada foi feito, imperou a balbúrdia, liderada pelo próprio Presidente da República, e hoje estamos dentro do tal cenário temido. Medidas sanitárias foram boicotadas (o país não tem ministro da Saúde), medidas econômicas não foram tomadas (os bancos ganharam 1,3 trilhões logo de cara enquanto os trabalhadores penam para retirar seus 600 mensais e a ajuda prometida para micro e pequenos empresários gira em torno de 20% do que havia sido previsto, graças à burocracia neoliberal destinada ao setor produtivo). Hoje somos o país no mundo com maior taxa de contaminação e maior taxa de mortes diárias (temos mais de 1,5 milhão de infectados e quase 65 mil mortos, com a grave expectativa de mais um ou dois meses de manutenção do pico de casos e mortes) e o governo federal segue combatendo o uso de máscaras, produzindo medicamento de eficácia não comprovada cientificamente enquanto estados e municípios pressionados praticam uma reabertura bizarra e mórbida do setor de comércio (incluindo bares e shoppings). O baque econômico também é gigantesco pois a bagunça no enfrentamento à doença atrasa cada vez mais uma real retomada econômica, encolhe a arrecadação pública e contrai o consumo das famílias. Esse ano há a previsão de uma queda de até 10% no PIB, a maior da história. E com o "fica Paulo Guedes" costurado pelas elites após a prisão de Fabrício Queiroz, a corda vai arrebentando para o lado dos informais (que já perderam mais de 60% de sua renda), dos micro-empreendedores individuais (que não possuem mais renda), dos mais de 89 milhões de desempregados (2 milhões a mais do que o número de empregados) e, em futuro breve, vai arrebentar nas mãos do funcionalismo público pois o projeto neoliberal (apoiado inteiramente pela mídia) já tem a narrativa pronta para tentar transformar o funcionalismo público em vilão de uma crise que, na verdade, ele foi, é e poderá ser a solução.

INOPERANTE DESDE O INÍCIO, NOGUEIRA É SUBSTITUÍDO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ENQUANTO RIBEIRÃO SEGUE NO VERMELHO

Ribeirão Preto vai abrir a semana com quase 6 mil casos de Covid-19 e caminhando para as 200 mortes. A taxa de ocupação de leitos de CTI segue acima de 85%, o que faz Ribeirão Preto se manter na faixa vermelha do Plano São Paulo, do governo estadual. O Prefeito Nogueira, desde o início da pandemia, se especializou em fazer lives diárias, nada mais. Dias depois de reabrir parte das atividades, em 1 de junho, e já antevendo o que vinha, gravou um vídeo se dizendo "surpreso" com o volume de pessoas no comércio. Começava ali a tentativa de culpar a população pelo aumento que veio 15 dias depois (o vírus tem um ciclo de 14 dias, em média). Os recordes de contaminação semanal se seguiram, assim como no estado de São Paulo todo, que já conta com mais de 310 mil infectados e 16 mil mortes (comandado pelo demagogo, populista e incompetente João Dória). Semana passada o Conselho Municipal de Saúde sugeriu 'lockdown'. Na quinta o Prefeito descartou, mas assinará um decreto com 17 medidas restritivas ditadas pelo Ministério Público Estadual, na tentativa de mitigar as aglomerações. Um pacote tímido e insuficiente. Os próximos 14 dias podem ser tão trágicos quanto os últimos e a culpa não será da população. Enquanto isso a real retomada é postergada e a crise se avizinha: qual será a arrecadação real ao final desse ano? Dizem que o tombo poderá ser de 20%. Qual será a real situação de um município endividado, com uma arrecadação menor do que 10% do PIB (e ainda pode cair a números menores) e extremamente desigual socialmente, com problemas crônicos de financiamento da educação, saúde , moradia popular e expansão necessária do serviço público? É este o presente que está sendo preparado para o próximo Prefeito a ser eleito em 15 e 29 de novembro próximos (caso tenhamos dois turnos). E se o Prefeito for reeleito? Ah, aí nós já sabemos quem vai pagar a conta, não é?

ONDE ESTARÁ O VOTO DE ESQUERDA E PROGRESSISTA EM RIBEIRÃO PRETO?

Muitos, assim como este Blog, acreditam que a saída para a superação das crises em que estamos inseridos está na derrota do projeto neoliberal (introduzido no país nos anos 1990, mitigado nos governos petistas e retomado radicalmente após 2016) e na construção de um outro projeto, que garanta direitos humanos a todos e todas, enfrente a desigualdade social criminosa do Brasil, recupere um ambiente de trabalho humanamente saudável e reconstrua a economia nacional com respeito ao meio ambiente. Um projeto à esquerda e progressista, afinal. Mas, como chegar a concretizar isso? Através da mobilização social, do acúmulo concreto de forças políticas, da crítica e autocrítica, do fortalecimento de movimentos sociais e partidos políticos e da eleição de representantes comprometidos com esse projeto social e humanista. Como dialogar com uma classe trabalhadora inserida em um ambiente de trabalho informal e não industrial? Como dialogar com um conjunto de servidores públicos muitos ainda duvidosos de seu real papel na sociedade? Como dialogar com uma gama de excluídos: sem teto, sem terra, sem trabalho, sem expectativas? Como dialogar com uma parte da classe média e da classe trabalhadora cujo tema da segurança pública é o principal problema a ser enfrentado? Como articular de maneira eficaz a necessidade de garantias de direitos difusos, das pautas identitárias, antirracistas com uma pauta política de mudança, inclusive econômica? Esses são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo campo de esquerda e progressista na busca de uma construção política de mudança. Entender o mundo do trabalho, entender as novas pautas da sociedade, entender o fenômeno da pós-verdade vinda à tona a partir do fracasso neoliberal pós-2008. Entender os fatores que conduziram a junho de 2013. Entender, refletir e retomar o combate eficaz ao fenômeno da extrema-direita advinda de todo o processo de desgaste político, econômico e social dos últimos 15 anos, pelo menos. Em Ribeirão Preto, por exemplo, cidade que chegou a colocar 40 mil pessoas nas ruas defendendo a queda da ex-Presidente Dilma e que votou em massa em Bolsonaro na última eleição, onde buscar os votos do campo de esquerda e progressita? Onde dialogar? Vejamos alguns dados: em 2014 Dilma (com 61 mil votos) e Luciana Genro (com 9 mil votos) tiveram menos da metade dos votos de Aécio Neves (150 mil). Mas foram 70 mil votos de esquerda no primeiro turno. No segundo turno de 2014 Dilma teve 94 mil votos contra 219 mil de Aécio. Em 2016 já é mais difícil medir porque o PT não apresentou candidato próprio e o candidato Wagner Rodrigues (na época no PCdoB) sofreu forte impacto da operação Sevandija no meio da campanha. Naquele ano o PSOL obteve quase 6 mil votos no primeiro turno enquanto o PCdoB teve pouco menos de 5,5mil. Em quem votou o eleitor de esquerda e progressista em 2016? Ricardo Silva (na época no PDT) teve 70 mil votos e João Gandini (na época no PSB) teve 36 mil. Em 2018 Ciro Gomes (PDT) e Haddad (PT) tiveram juntos 72 mil votos. No segundo turno Haddad teve 82 mil votos. Claro que nada disso é automático e uma eleição municipal e difernte de uma eleição nacional, mas os dados indicam que há, mesmo em um ambiente como o de 2018, vida à esquerda e progressista na cidade (pelo menos entre 70 e 80 mil eleitores). É o suficiente para eleger um Prefeito de esquerda? Não. Mas não é pouca coisa para começar uma construção política. Talvez seja este o momento de encontrar a narrativa certa de defesa dos direitos sociais, dos direitos trabalhistas, dos direitos humanos e do fortalecimento do papel do Estado diante da crise. Mãos à obra.



Blog O Calçadão (Equipe editorial: Aílson Vasconcelos, Filipe Peres, Paulo Honório, Ricardo Jimenez e Rilton Nogueira)

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