Sim, queremos popularizar a Medicina: chega
de aprender nos pobres para
depois só cuidar dos ricos
Por Alexandre Padilha
Somos o único país com mais de
100 milhões de habitantes que tem o desafio de oferecer acesso gratuito e
universal de saúde através do SUS. Para que um estudante de medicina possa
exercer o preceito fundamental da profissão, que é a defesa da vida, ele passa
pela experiência de atendimento nos serviços públicos de saúde. Todos,
independente se estudaram em faculdade pública ou privada, se trabalham no
setor público ou consultório privado, só se tornaram médicos porque um dia
aprenderam no SUS.
Quando entrei na faculdade de
medicina, em 1989, primeiro ano pós-Constituição de 88, repetíamos uma frase
nos nossos encontros: “Chega de aprender nos pobres para depois só cuidar dos
ricos”. Essa frase segue comigo e a repeti nos embates acirrados do processo de
implementação do programa Mais Médicos instituído no governo Dilma Rousseff,
quando fui Ministro da Saúde.
Trago essa lembrança pois veio à
tona um vídeo do atual presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), que
circula nas redes sociais, onde ele afirma que eu e a presidenta Dilma
"Popularizamos a medicina" no Brasil com a abertura de novas
faculdades de medicina. Ora, para mim essa afirmação é um elogio às políticas
que implantamos.
O presidente do CFM se refere ao
Programa Mais Médicos implementado em 2013 e que buscou reduzir a carência de
profissionais médicos nos rincões do Brasil e também apresentar melhor
estrutura para resolver os problemas do futuro do país. Um dos seus eixos era
abrir mais oportunidades para jovens brasileiros, sobretudo negros, de bairros
periféricos e de cidades do interior para que pudessem se formar médicos e
fazer suas especialidades médicas no Brasil.
O Mais Médicos abriu de 2013 a
2017, 10.861 novas vagas para medicina, ampla maioria no interior do país,
65,4%.
O programa abriu também novas
oportunidades de especialização, aprovando nova orientação dos currículos
exigindo que os alunos tivessem mais experiência no SUS na sua formação e criou
uma prova nacional de avaliação dos alunos e das escolas, infelizmente
interrompida já no governo Temer.
Quando entrei na Unicamp, em
1989, dos quase 100 alunos da minha turma, apenas dois eram negros. Hoje
frequento a instituição, assistindo e ministrando aulas, e temos turmas com
mais de 30% negros. Muito ainda precisa ser feito para tornar a universidade
menos desigual, mas é inegável o avanço nos governos petistas.
Vamos falar de outros
significados deste esforço: a zona leste de São Paulo, região mais populosa da
nossa capital, não contava com faculdade de medicina e passou a ter depois da
implantação do programa. Outras cidades do estado - como Araçatuba, Araras,
Bauru, Cubatão, Guarulhos, Guarujá, Limeira, Jaú, Rio Claro, São José dos
Campos, Piracicaba, Osasco, Mauá, São Bernardo, entre outras - passaram a
contar com novas oportunidades para a realização do sonho dos nossos jovens de
se tornarem médicos.
Outro eixo do programa foi levar
médicos e mais estrutura de saúde onde não existia. Foram mais de 60 milhões de
brasileiros que passaram a ser atendidos perto de suas casas. Estudos
independentes mostraram que esses profissionais colaboraram na redução de
internações, mortalidade infantil e foram bem avaliados pela população. Os
médicos foram elogiados por se dedicarem a conhecer, ouvir e cuidar da
realidade do nosso povo.
Será que é essa popularização da
medicina que tanto assusta o atual presidente do CFM?
O Mais Médicos foi um passo corajoso para levar para mais
próximo dos jovens as faculdades de medicina e mais médicos para os
brasileiros, especialmente jovens pobres. Temos orgulho do que fizemos. Há
ainda muita caminhada pela frente, sabemos disso, mas seguimos acompanhando de
perto e dando oportunidade para o nosso povo.
*Alexandre
Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi
Ministro da Coordenação Política de Lula, Ministro da Saúde de Dilma e
Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.
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