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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Cooperativa de mulheres, assentadas da reforma agrária e integrantes da sociedade civil se reúnem em mutirão de plantio

 

Mutirão realiza replantio de mudas.
Fotos: Filipe Augusto Peres 

Cooperativa Agroecológica Mãos da Terra promoveu “Café Agroecológico” e , integrou reflorestamento e debate sobre sustentabilidade no Assentamento Mário Lago

Organizado pela COMATER, neste sábado (19), o assentamento Mário Lago realizou uma ação de replantio da área atingida pelos incêndios criminosos ocorridos no mês de agosto nas áreas do assentamento e da Cooperativa Mãos da Terra.

O mutirão de plantio atraiu moradores, voluntários e ativistas da agroecologia. Iniciativa da Fundação Nestlé, voluntários do grupo “Voluntariar faz bem”, programa que se destaca por permitir que os próprios colaboradores escolham e coordenem ações voluntárias de modo a fortalecer o engajamento com a comunidade, também colaborou na atividade, contribuiu na ação de replantio com diversos participantes .

A Programação

A programação começou às 8h no barracão da COMATER, com uma breve fala da presidenta e integrante da Direção Estadual do MST, Nivalda Alves Jesus, a qual apresentou a importância das práticas agroecológicas e do reflorestamento.

Nivalda (ao centro) contou um pouco da história de formação da Cooperativa Agroecológica Mãos da Terra


Em seguida, coordenados pelas cooperadas da Mãos da Terra e pelos integrantes do Instituto Terroá, as e os participantes realizaram a ação de replantio da área de diversas espécies nativas e frutíferas.

Em torno de 50 pessoas participaram da ação de replantio

Proporcionando um momento de confraternização e troca de saberes sobre alimentação saudável, sobre um futuro sustentável, entre uma muda e outra, o tradicional cafezinho foi servido.

Uma das coordenadoras do projeto, a agrônoma, agrofloresteira, assentada da reforma agrária e militante do MST, Patrícia Joia, falou um pouco sobre o projeto, as parcerias e a necessidade de se desenvolver um modelo de produção alimentar que respeite a natureza e alimente a população com uma comida saudável, livre de agrotóxicos.

À esquerda, a agrônoma Patrícia Joia dialoga com os voluntários 


Nivalda Alves, Presidenta da Cooperativa Mãos da Terra (COMATER) destacou em sua fala a importância da ação de replantio.
“Estamos em Ribeirão Preto, capital do agronegócio, e falar de alimentação saudável e plantio de árvores é um ato de resistência”

Nivalda enfatizou que o compromisso da cooperativa sempre fora com a agroecologia e a produção orgânica, e explicou que o plantio de árvores faz parte de um acordo para garantir a área conquistada.
“A área que conquistamos é fruto da destruição ambiental causada pela monocultura da cana. Um dos compromissos para conquistarmos essa área foi o plantio de árvores.”

Nivalda também citou a Campanha Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, do MST.
“O plantio de árvores, frutíferas nativas e corrageiras, é para ir de encontro à demanda, o histórico e a uma das demandas grandes do movimento, que é, nesse prazo de 10 anos, plantar 100 milhões de árvores”

A dirigente estadual do MST contextualizou a trajetória da cooperativa, e explicou que esta surgiu como uma forma de resistência e empoderamento das mulheres no assentamento.

“Nós somos uma cooperativa de mulheres. Tem alguns homens que são bem-vindos, mas aqui quem manda é nós. (…) completamos agora, em junho, 12 anos de legalidade, de formalização, que a cooperativa agroecológica Mãos da Terra foi formalizada em 22 de junho de 2013. Nós começamos aqui com 22 mulheres, que eram um grupo de afinidade desde o tempo de acampamento. (…) Nós já tínhamos a história que contávamos no tempo do barraco, sobre como queríamos nos organizar e ter uma padaria. (…) No começo participamos de outra cooperativa, mas vimos que não era o que queríamos, então criamos a nossa. Hoje, somos 56 mulheres e temos 42 famílias diretamente envolvidas. Trabalhamos com agroecologia, certificação orgânica e produção de alimentos saudáveis”

Os desafios da produção agroflorestal e a importância do consumo de alimentos saudáveis

Agrônomo e agrofloresteiro, Tomás Alvarenga conversou com os voluntários


Durante a ação coletiva, com uma perspectiva crítica sobre as práticas convencionais, Tomás Alvarenga, agrônomo, militante do MST, dialogou com as pessoas presentes sobre os desafios da produção agroflorestal e a importância do consumo consciente.

Tomás falou sobre o impacto da agricultura moderna no meio ambiente e a dependência de fertilizantes químicos sintetizados, como o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio).

Em sua fala, Alvarenga relatou a conclusão histórica do químico alemão Justus von Liebig, o qual ajudou a desenvolver a síntese mineral para adubação. Tomás lembrou que o próprio químico percebeu que essa abordagem não sustentava a saúde fisiológica das plantas.
“A agricultura convencional e o agronegócio vende sintetizado, que é o NPK. Inclusive uma curiosidade rápida, quem desenvolveu a lei do mínimo na agricultura […] foi um alemão chamado Von Justus Lieb. Ele era um químico. […] Mas depois ele viu que a planta não fica com a sua fisiologia, ela não fica saudável”

O agrofloresteiro também citou Francis Chabousseau, que criticava o uso de agrotóxicos e destacava como a adubação sintética afeta negativamente as plantas, impedindo a produção de proteínas de resistência.

“Teve um francês que é o Francis Chabousseau, que ele escreveu […] uma teoria […] que fala assim: as plantas ficam doentes pelo uso de agrotóxicos.”

Tomás afirmou que a natureza pode ensinar formas mais sustentáveis de manejo agrícola e observou como as florestas tropicais mantêm um solo saudável por meio de processos naturais, como a decomposição da serapilheira e a mineralização por fungos e bactérias.

E criticou a agricultura capitalista, a qual replica artificialmente esses processos gerando impactos negativos sobre o meio ambiente.

“Você vai andar numa mata, quem já caminhou em mata? […] Você vê a terra nua? Só no trilheiro ali, né? Só onde você vai andar, porque o resto é serapilheira. Isso aqui, no solo, vai ter um monte de bicho aqui, vai ter fungos, bactérias, né? Que vão estar degradando isso aqui e mineralizando, transformando isso aqui em nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre.”

O Instituto Terroá

Quem também participou e colaborou com a ação de replantio, fornecendo mudas e apoio técnico, foi o Instituto Terroá, representado nas pessoas de Pedro Augusto Ferreira e Mariana Reis.

Pedro Augusto Ferreira e Mariana Reis durante a atividade de replantio

Para a atividade, o instituto forneceu o financiamento das ferramentas utilizadas na ação, o custeio do café da manhã e o apoio na organização do evento. O Instituto Terroá participou ativamente desde a fase de preparação até a realização da atividade e esteve presente com sua coordenação, diretoria e representantes de Ribeirão Preto.

Em fala realizada no evento, Pedro reforçou que o Instituto não busca coordenar as ações diretamente, mas apoiar as iniciativas já em andamento. Ele destacou a importância da parceria com a cooperativa local e a continuidade dos esforços regenerativos.
“Eu [...] vim aqui porque, na verdade, a gente teve aí, antes de ontem, um encontro anual do Terroá, e só fortaleceu o nosso sentimento de qual é o propósito do Terroá, né? Na verdade, é só facilitar e apoiar o que já está acontecendo. Então, a gente não tá aqui para coordenar, mas para apoiar o que já acontece e ajudar nesse processo. A proposta é gerar renda de forma sustentável e promover a regeneração ambiental. Estamos muito gratos e satisfeitos por estarmos aqui, porque sabemos que não é fácil. Às vezes, dá vontade de desistir, mas a força de iniciativas como essa nos inspira a continuar.”

Por sua vez, Mariana compartilhou sua conexão pessoal com a iniciativa.
“Eu [...] venho do Rio Grande do Sul. Desde que voltei para cá, em 2020, acompanho o Instituto com vocês [...] e desde aquela vez sentimos a potência dessa iniciativa. Isso ficou muito claro desde nosso primeiro encontro com vocês, quando o Daniel esteve aqui em 2010”.

O simbolismo do mutirão

Voluntários do “Voluntariar faz bem”


Após a atividade, Nivalda destacou o impacto que um coletivo de mulheres pode gerar quando se junta para tratar de temas como clima, meio ambiente, coletivo de mulheres e alimentação saudável.

“A ação [...] mostrou assim que [...] quando a gente se organiza para fazer uma ação voltada para falar de clima, para falar de meio ambiente, falar de alimentação saudável, coletivo de mulheres, isso tem um poder muito grande. [...] Tinha mais ou menos 50 envolvidas ontem, uma ação que a gente programou, organizou, a primeira ação que a gente fez desse nível”.

 A presidenta da COMATER ainda chamou atenção para a diversidade de participantes e adiantou que outras ações de replantio ocorrerão.

“Eu fiquei muito grata por ter comovido tanta gente, e ver a disponibilidade que as pessoas também têm, muita gente preocupada com a alimentação saudável, com o plantio de árvore, preocupada com a ação do tempo, a falta de chuva, tudo isso que envolve a monocultura. A gente viu que essa ação pôde receber no espaço [...] adolescentes, crianças, jovens, mulheres, homens... [...] foi muito significativa para uma cooperativa de mulheres assentadas”.

Alves ainda destacou saber estar trilhando o caminho correto, contrapondo à monocultura, as práticas agroflorestais; contrapondo ao latifúndio, a reforma agrária popular.

“A gente sabe que nós estamos no caminho certo, fazendo o que é certo e impactando muita gente na nossa sociedade, nessa cidade de monocultura, numa terra de latifúndio”.

E agradecendo aos parceiros envolvidos, a dirigente estadual do MST adiantou que um novo mutirão está sendo construído para janeiro de 2025, mas que, até lá, as cooperadas da Mãos da Terra seguirão o trabalho de replantio, com novo trabalho marcado já para esta quarta-feira (23).

“Nós [...] sabemos que temos parceiros também envolvidos. Estamos querendo fazer uma nova ação em janeiro, mas as ações coletivas no espaço de plantação continuam, já tem um marcado aqui com as cooperadas para quarta-feira. E, a partir de quarta-feira, vamos já programar outra. Então, a nossa próxima ação de plantio da cooperativa com as cooperadas será na quarta-feira (23), no período da tarde”.

Parte dos voluntários que colaboraram com a tarefa de replantio

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Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito, vou no próximo

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