Páginas

terça-feira, 24 de junho de 2025

Migalhas e esmigalhados

 

Centros de ajuda humanitária em Gaza contabilizam
centenas de mortes causadas pelo Estado de Israel

1

há muitos estômagos no escuro
e balas que comem primeiro
o pão não cai do céu
cai chumbo,
bala perfurada com discurso de paz

gente se empurra
gente se engasga
gente se espalha
feito migalha
o centro de distribuição da morte
possui selo de ajuda internacional

um menino morde o vento
com os dentes de leite da fome
a mãe tenta alcançá-lo
mas tropeça na perna que já não tem

há um grito dentro de uma tenda
há um eco em Genebra
mas não chega
não chega

2


um tumulto com perfuração
com entrada e saída
com sangue quente no saco de trigo
com olhos abertos ao pó

como se fosse ajuda
como se fosse vida
como se fosse digno morrer por arroz
com bandeira azul tremendo ao longe
bandeira que não estanca hemorragias

“crime de guerra”
sussurra o porta-voz
num microfone lavado
enquanto alguém deita sobre uma criança esmagada
e reza
por justiça
por farinha

3

as Nações têm nome,
as mortes, também,

algumas irreconhecíveis

se somam às várias pessoas-não


na imprensa cristã

fala-se de "operações"
como quem desliga um ventilador


mas o que se apaga

é o pulmão 
e o corpo vira dado
e o dado, frio, não chora

nem no frio de gaza


e o poema?


sem rima
sem chão
refugiado sem pátria
sem verso que dê conta


porque a verdade

vem
debaixo
do entulho

e ainda pulsa

ao contrário dos mortos


Poema escrito a partir da notícia Pelo menos 410 palestinos morrem em busca de alimentos


Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente !Retrato da realidade em Gaza.

O povo brasileiro encontrou a pauta de 2026? Por Ricardo Jimenez

 Se o Jornal Nacional da Globo se deu ao trabalho de investir 10 minutos para criticar a campanha #congressdamamata é porque o movimento est...