Mesmo a famosa "Carta ao Povo Brasileiro", formulada pelo núcleo paulista do petismo para agradar ao "deus mercado" e tentar suavizar com a mídia o caminho da campanha "Lulinha Paz e Amor", e a nomeação de Palocci (o homem do "mercado") para o Ministério da Fazenda não foram capazes de aplacar a sanha reacionária dos perdedores de 2002.
Lula não representou nenhuma ruptura com o modelo neoliberal imposto nos anos 90, até certo ponto muito de seu governo, e o de Dilma, foi e é mais pró-mercado. Mas seu governo, e o da Presidente Dilma, teve em alguns aspectos crédito por ter retomado o projeto nacional Trabalhista fundado por Vargas em 1950. Projeto que criou a Petrobrás, por exemplo.
Ter deslocado do poder central do país o núcleo do tucanato e, de quebra, a mídia hegemônica, foi um feito que trouxe para Lula e para o PT o ódio udenista que estava adormecido tanto nos anos 80 (de reconstrução democrática pós-ditadura), quanto nos anos 90 (os anos neoliberais e privatistas).
De repente, uma agenda progressista estava novamente colocada e grande parte do movimento social se viu com mais participação e voz no processo de implementação de políticas públicas pelo governo.
Surgiram as políticas afirmativas (que aumentaram em mais de 100% o acesso de negros e de pobres no ensino superior), as políticas de distribuição de renda, um viés nacionalista e mais voltado para uma agenda Sul-Sul na condução da política externa, um programa minimamente mais desenvolvimentista que colocou o BNDES na agenda da geração de empregos e da retomada da indústria naval, por exemplo, e a valorização sistemática do salário mínimo etc.
Sei que muitos companheiros valorosos têm duras críticas ao período atual, seja por insuficiência no aprofundamento da agenda progressista na sociedade, seja pela manutenção de uma política econômica voltada mais para os interesses do capital do que para os interesses nacionais. Mas aí fica a questão: qual país no mundo atual consegue ou conseguiu romper totalmente com a agenda do mercado financeiro?
O fato é que a disputa do poder central se tornou cada vez mais odiosa e golpista. O julgamento midiático foi claro nos processos do mensalão e estão de volta agora na crise da Petrobrás. Aliás, foi a nacionalização do pré-sal e as duas derrotas sofridas para Dilma que colocaram a dupla mídia e tucanato, sem cerimônias, na seara do golpismo.
Na resposta sobre o porque de o projeto nacional estar em xeque nesse momento político nacional, eu volto ao argumento de um governo em disputa.
O tempo todo os governos Lula e Dilma estiveram em disputa, e a agenda progressista adotada nesse período foi fruto de vitórias dentro desse ambiente. Mas foi e é ainda uma disputa inglória, porque o movimento popular é minoritário dentro do governo e não tem meios eficazes de comunicação com a sociedade. Interesses maiores ligados ao capital e aos conluios empresariais são mais fortes, impõem sua agenda mais facilmente e compõem o elo que deu margem para que os inimigos do projeto nacional passassem a ter força para questionar a legitimidade desse governo.
Agendas mais profundas de reformas não avançaram, como a regulação da mídia ou a tentativa de alteração da política de juros, tentada por Dilma e abortada em uma campanha violenta da mídia.
Esse período de retomada de uma agenda Trabalhista, iniciada por Lula e continuada por Dilma, sofre do mesmo mal que sofreram os governos Vargas e Jango. A aliança entre o grupo político conservador e a mídia. Vargas tentou equilibrar esse jogo, mas falhou. Os outros nem tentaram. A velha UDN foi trocada pelo PSDB e as estruturas de mídia se tornaram mais poderosas após a ditadura militar.
O jogo é bruto, as forças populares não tem instrumentos para falar ao povo, o discurso falso moralista da corrupção tem lastro em uma sociedade refém da distorção comunicativa e as burocracias partidárias estão atônitas diante desse processo todo.
O projeto nacional desenvolvimentista está em xeque, acossado por uma aliança que representa o entreguismo, os interesses externos e o reacionarismo interno de parte de uma sociedade acostumada ao Brasil de antes. E é nesses momentos que um concerto novo é exigido. De onde virá este concerto? Que papel jogará Lula?
Veremos as respostas.
Ricardo Jimenez
Lula não representou nenhuma ruptura com o modelo neoliberal imposto nos anos 90, até certo ponto muito de seu governo, e o de Dilma, foi e é mais pró-mercado. Mas seu governo, e o da Presidente Dilma, teve em alguns aspectos crédito por ter retomado o projeto nacional Trabalhista fundado por Vargas em 1950. Projeto que criou a Petrobrás, por exemplo.
Ter deslocado do poder central do país o núcleo do tucanato e, de quebra, a mídia hegemônica, foi um feito que trouxe para Lula e para o PT o ódio udenista que estava adormecido tanto nos anos 80 (de reconstrução democrática pós-ditadura), quanto nos anos 90 (os anos neoliberais e privatistas).
De repente, uma agenda progressista estava novamente colocada e grande parte do movimento social se viu com mais participação e voz no processo de implementação de políticas públicas pelo governo.
Surgiram as políticas afirmativas (que aumentaram em mais de 100% o acesso de negros e de pobres no ensino superior), as políticas de distribuição de renda, um viés nacionalista e mais voltado para uma agenda Sul-Sul na condução da política externa, um programa minimamente mais desenvolvimentista que colocou o BNDES na agenda da geração de empregos e da retomada da indústria naval, por exemplo, e a valorização sistemática do salário mínimo etc.
Sei que muitos companheiros valorosos têm duras críticas ao período atual, seja por insuficiência no aprofundamento da agenda progressista na sociedade, seja pela manutenção de uma política econômica voltada mais para os interesses do capital do que para os interesses nacionais. Mas aí fica a questão: qual país no mundo atual consegue ou conseguiu romper totalmente com a agenda do mercado financeiro?
O fato é que a disputa do poder central se tornou cada vez mais odiosa e golpista. O julgamento midiático foi claro nos processos do mensalão e estão de volta agora na crise da Petrobrás. Aliás, foi a nacionalização do pré-sal e as duas derrotas sofridas para Dilma que colocaram a dupla mídia e tucanato, sem cerimônias, na seara do golpismo.
Na resposta sobre o porque de o projeto nacional estar em xeque nesse momento político nacional, eu volto ao argumento de um governo em disputa.
O tempo todo os governos Lula e Dilma estiveram em disputa, e a agenda progressista adotada nesse período foi fruto de vitórias dentro desse ambiente. Mas foi e é ainda uma disputa inglória, porque o movimento popular é minoritário dentro do governo e não tem meios eficazes de comunicação com a sociedade. Interesses maiores ligados ao capital e aos conluios empresariais são mais fortes, impõem sua agenda mais facilmente e compõem o elo que deu margem para que os inimigos do projeto nacional passassem a ter força para questionar a legitimidade desse governo.
Agendas mais profundas de reformas não avançaram, como a regulação da mídia ou a tentativa de alteração da política de juros, tentada por Dilma e abortada em uma campanha violenta da mídia.
Esse período de retomada de uma agenda Trabalhista, iniciada por Lula e continuada por Dilma, sofre do mesmo mal que sofreram os governos Vargas e Jango. A aliança entre o grupo político conservador e a mídia. Vargas tentou equilibrar esse jogo, mas falhou. Os outros nem tentaram. A velha UDN foi trocada pelo PSDB e as estruturas de mídia se tornaram mais poderosas após a ditadura militar.
O jogo é bruto, as forças populares não tem instrumentos para falar ao povo, o discurso falso moralista da corrupção tem lastro em uma sociedade refém da distorção comunicativa e as burocracias partidárias estão atônitas diante desse processo todo.
O projeto nacional desenvolvimentista está em xeque, acossado por uma aliança que representa o entreguismo, os interesses externos e o reacionarismo interno de parte de uma sociedade acostumada ao Brasil de antes. E é nesses momentos que um concerto novo é exigido. De onde virá este concerto? Que papel jogará Lula?
Veremos as respostas.
Ricardo Jimenez
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