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terça-feira, 26 de maio de 2015

Francisco não vê TV e lê Paulo Freire: anti-coxinha por excelência!

A eleição de Francisco para o trono de Pedro em substituição ao demissionário cardeal Ratzinger visou a uma guinada no discurso e na política da Igreja Católica.

Muito mais do que os escândalos no banco do Vaticano ou um caso ou outro de acusação de pedofilia, o que pesou foi o esvaziamento das igrejas e a perda de fiéis tanto para o cristianismo protestante como para concepções mais heterodoxas ou new waves.

Francisco foi eleito para "trazer o povo de volta", e qual o discurso escolhido? O discurso de um padre que sabe falar ao povo e sabe do que o povo gosta: da perspectiva de justiça social e de enxergar o seu líder como um dos seus.

Básico.

Os anos sombrios que a Igreja passou sob o comando teológico de Ratzinger (mesmo nos tempos áureos de João paulo II) só causaram fuga de fiéis. Retomar o caráter popular da Doutrina Social e os princípios norteadores do Concílio Vaticano II foi a fórmula encontrada pela Igreja do século 21.

E nesses tempos bicudos, onde discursos minoritários mas estridentemente reacionários reverberam em nossa mídia monopolizada, vem da Santa Sé as golfadas de ar fresco.

Coxinhas saem às ruas com faixa "Abaixo Paulo Freire" e Francisco diz para a viúva do pedagogo que leu A Pedagogia do Oprimido. Reaças gritam contra a medalha da Inconfidência dada a João Pedro Stédile e Francisco o recebe com um abraço. Reaças gritam "vai pra Cuba" e Francisco abraça Raúl dizendo "bem-vinda, Cuba".

Francisco reconhece o Estado Palestino, se reaproxima de Leonardo Boff e beatifica Oscar Romero, um ícone da Teologia da Libertação.

Opção pelos pobres!

Ignorando o conceito estadunidense de meritocracia "winner or loser" (importado por aqui por governos tucanos), Francisco constrói banheiros e chuveiros públicos para moradores de rua na Piazza de São Pedro.

O que pensa Francisco sobre o Bolsa Família ou sobre as políticas de cotas?

O que Francisco prefere: receber os imigrantes haitianos ou bombardear barcos, como na costa mediterrânea da Europa?

Francisco não vê TV, mas se informa dos resultados do futebol perguntando para os membros da guarda suíça.

Francisco guarda o trono de Pedro, as chaves das portas da "esposa de Jesus", mas prefere se despir dos ritos e abraçar as pessoas formadas pelos mesmos ossos e nervos que ele.

Esse Francisco é mesmo um anti-coxinha por excelência!

Ricardo Jimenez

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