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domingo, 31 de maio de 2015

Uma locomotiva em crise: 24 anos de tucanistão!


A elite paulista, cujo pensamento é reverberado por uma mídia monopolizada e aliada, sempre adorou se auto-proclamar a "locomotiva do Brasil". Mas, diferente do que a frase pode soar aos ouvidos ingênuos de quem a ouve, essa não é uma frase que demonstra amor ao país. Não. É uma frase arrogante de quem nunca se sentiu parte de um todo, ao contrário, a elite paulista sempre olhou o Brasil como um fardo.

Conduzidos por esse pensamento, grande parte dos trabalhadores acabou introjetando esse mesmo sentimento típico de sua elite e o resultado é que o povo paulista tem enorme dificuldade de olhar o país fora da órbita do seu próprio umbigo.

São Paulo se tornou o Estado mais rico e a capital paulista se tornou a megalópole que é a partir da segunda metade do século 19, quando o café deixou o vale do Paraíba fluminense e ganhou o oeste de São Paulo. Os ramais ferroviários e o porto de Santos foram parte de um esforço fiscal e de mão-de-obra feito por todo o país para sustentar o pilar central da economia nacional: a produção e exportação do café.

São Paulo ganhou poder econômico e político. Mandou na República Velha. Subjugou Hermes da Fonseca e fez uma guerra contra Vargas. E o que a elite paulista defendia? Uma economia agrária, mono-exportadora e uma visão política que ao longo de 36 anos não conseguiu dar para a população nem luz elétrica, nem saneamento, nem educação, nem saúde e nem um Estado organizado.

Vargas começou a construir o Brasil em 1930, sobre o "nada" deixado pelo "modo paulista de pensar" e salvando, às custas do dinheiro público e do esforço nacional, os cafezais dos seus coronéis endividados.

Mas nos anos do "nacional desenvolvimentismo" (entre as décadas de 40 e 50) São Paulo continuou crescendo às custas do esforço nacional. A mão-de-obra que construiu sua infraestrutura e os subsídios e incentivos que construíram seu parque industrial não foram endógenos, vieram de fora. A São Paulo "locomotiva" foi, antes de tudo, o resultado de um empenho nacional.

Mas a elite paulista jamais reconheceu isto. São Paulo chegou a representar 48% da economia do país e olhava com desdém para um nordeste em frangalhos e reclamava de ter que dividir receitas com o Sul e Centro-Oeste. O pensamento paulista nunca foi generoso e nunca alcançou uma amplitude de nação. O pensamento uspiano se uniu à arrogância "quatrocentona" e enquanto a figura do "bandeirante" ganhava um ar glorioso, Vargas ganhava a pecha de "populista".

Ribeirão Preto, por exemplo, era chamada de "califórnia" no período onde seus índices de favelização eram os maiores do país!

Apesar do verniz de "esquerda light" que os tucanos ostentaram na época da constituinte de 1988, eles representam apenas a continuidade do "pensamento paulista". Aliados à Fiesp, que sustentou o golpe militar de 1964 contra o legítimo presidente João Goulart e que agora lidera o projeto de terceirização geral e irrestrita, os tucanos só representam mais do mesmo. Não à toa, FHC, do alto da sua popularidade, proclamou "o fim da era Vargas" em 1995.

Enquanto o Brasil rompeu com o ciclo tucano em 2003 e adotou uma política de geração de emprego e renda, São Paulo seguiu firme e o "tucanistão" completará 24 anos no poder paulista. A indústria do Estado que representava 37% da nacional em 1995, hoje representa menos de 25%. Sua base agrícola é a cana e os alimentos são todos vindos de fora. O passivo ambiental do Estado é um dos maiores do Brasil e já está cobrando a fatura na crise da água. Os pedágios são os mais caros do país. Sua educação não figura nem entre as 10 melhores do ranking nacional. É aqui que o crime organizado é mais forte e atuante.

Em 2014 o Brasil cresceu pífios 0,1%, mas São Paulo recuou 1,6%. Neste ano, nos primeiros 3 meses, a economia paulista caiu 3,3%. E a crise hídrica bate às portas do palácio dos Bandeirantes.

O nordeste e o centro-oeste crescem mais do que São Paulo há mais de 8 anos seguidos.

Enquanto o Brasil faz um esforço para melhorar sua infraestrutura e monta todo um suporte para a exploração do pré-sal, os dois senadores por São Paulo defendem um projeto que destina as reservas nacionais de óleo para uma multi estadunidense.

Quem é capaz de dizer qual é o projeto tucano para o país? Voltar com as privatizações? Voltar com os juros de 40%? Duplicar o "ajuste fiscal"? Assinar um acordo de livre comércio com os EUA?

Quando a atual crise passar e o ambiente político se desanuviar, vai sobrar novamente no debate nacional o velho embate entre o desenvolvimentismo e o entreguismo neoliberal. O que será de São Paulo? Continuará odiando e se achando melhor que o resto do país? Continuará a eleger tucanos?

São Paulo precisa de um projeto que se integre a um projeto nacional. Precisa de um projeto gere emprego, renda e melhore a vida dos mais de 35 milhões de trabalhadores (10 milhões deles vivendo na extrema pobreza).

Nessas últimas eleições São Paulo se comportou de uma maneira bem estranha: reelegeu um governador que mentiu descaradamente sobre a crise hídrica e destinou seus votos para presidente num político mineiro-carioca que foi DERROTADO em sua própria terra!

Daqui a algum tempo, os mineiros da fronteira começarão a falar para os paulistas: por que vocês votaram no Aécio?

Ricardo Jimenez

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