O Brasil, assim como toda a América Latina, sempre foi considerado um local no canto do mundo. Sempre atraímos muito pouco respeito dos demais países, principalmente dos poderosos. Fomos colonizados, fomos palco de golpes militares e toda a sorte de artimanhas contra qualquer processo autônomo de desenvolvimento que por aqui surgisse.
O sonho de Bolívar de uma América Latina soberana, que ainda está em construção, tem como principal inimigo uma elite tacanha, míope, egoísta, atrasada, pobre (a maioria é um bando de novos ricos sonegadores) sempre disposta a se aliar a tudo aquilo que represente a continuidade de suas benesses e a manutenção da extrema desigualdade social, da qual ela (elite) retira seu poder e seu luxo brega.
De todas as construções autênticas latino-americanas, o Trabalhismo é, talvez, a melhor contribuição brasileira. Uma política voltada para a maioria trabalhadora, que se sustenta na ampliação da democracia, na ampliação da participação popular na política, no desenvolvimento com distribuição de renda e na ampliação de direitos e cidadania. No Trabalhismo, o Estado é o instrumento para se fazer o combate à desigualdade social e para planejar um crescimento que inclua as amplas massas populares na sociedade de consumo.
Não à toa, o Trabalhismo sempre foi odiado pela elite entreguista brasileira e amado pelo povo. As histórias de Vargas, Jango e Brizola mostram isso.
Após um longo período de refluxo, onde a ditadura militar e o neoliberalismo tucano (aliados com uma mídia monopolizada) tiveram, na palavra de um ex-presidente e ex-sociólogo, a intensão de "acabar com a era Vargas", a tradição Trabalhista foi parcialmente retomada com Lula (que aprendeu muito com Brizola) a partir de 2003. Mais do que Cháves, Kirchnner, Evo e outros, foi com Lula que o orgulho latino americano cresceu e foi respeitado lá fora.
Mas Lula retomou um Trabalhismo coxo, manquitola, pois é muito pouco politizado e extremamente conciliador, mesmo em seus momentos de maior apuro.
Lula é um comunicador nato, sabe falar para o povo e entendeu que somente com geração de emprego, renda e com políticas sociais que levem à diminuição das desigualdades é possível conduzir um país do tamanho do Brasil a um verdadeiro desenvolvimento.
E assim foi feito. Gerou-se emprego, renda e produziu-se uma gama de programas sociais que levaram o país a diminuir o emprego informal e a desigualdade social, coisa que não ocorria há décadas. Lula entregou o governo com 80% de popularidade e conseguiu por duas vezes eleger Dilma, na esperança que sua "gerente" pudesse levar adiante as obras de infraestrutura, completando o projeto de desenvolvimento iniciado em 2003.
O que deu errado, então?
O Trabalhismo coxo errou na política. Inebriado pelo carisma de Lula, o PT não enxergou a política e nem a história.
Apostando que tirar 40 milhões da miséria e colocar outros 30 milhões na classe média seria o suficiente para criar no Brasil um clima de harmonia e conciliação política, Lula e o PT não souberam colher os sinais claros de ódio que já pululavam na crise do chamado "mensalão" (o petista, porque o tucano...).
Lula e o PT acreditaram que podiam tourear a Globo e manter o PMDB quietinho nos seus sempre 5 ministérios. Acreditaram que o sucesso social do partido levaria naturalmente o PSDB para a irrelevância. Acreditaram que com a capacidade de comunicação de Lula já não era mais necessário investir em comunicação de massa, na disputa política pela comunicação. Acreditaram que um aumento relativo no orçamento social do Estado seria suficiente para manter o desenvolvimento sem a necessidade de se questionar de fato as amarras financeiras que sufocam o país há décadas e a estrutura tributária que pesa sobre o trabalhador e privilegia os ricos sonegadores.
Ledo e trágico engano.
Bastou que Lula nacionalizasse o pré-sal e que sua candidata derrotasse o representante da Chevron no Brasil em 2010 para que todo sonho conciliador petista se desfizesse no ar.
A tomada de assalto pela Globo das tais "jornadas de junho" em 2013 (insuflando os extremistas de direita), o apoio às manifestações anti-Copa (apesar dos lucros que a Globo ganhou na Copa), os ataques contra a Petrobrás, o ataque contra a política de Dilma de diminuir os juros e a energia elétrica já mostravam o rabo dos golpistas.
A vitória de Dilma em 2014, apesar da enxurrada de delações seletivas vindas de Curitiba direto para o Jornal Nacional, acionou o despertador do golpe na casa grande.
Aproveitando a vitória parcial na Câmara dos Deputados (dominada por um conjunto de deputados conservadores e clientelistas), um desarranjo no PMDB com a ascensão de Eduardo Cunha e uma investigação parcial da Petrobrás, a aliança mídia-tucanato investe no "sangramento" de Dilma e na criminalização do PT.
Com a figura de Eduardo Cunha à frente da Câmara e a sanha direitista batendo panela, todas as pautas progressistas são interrompidas e o trabalhador sofre derrotas sérias, como a ameaça da lei de terceirizações.
Com o governo do trabalhismo coxo enfraquecido, todo um projeto de país e todos os avanços dos últimos 12 anos estão sob ameaça. Ronda novamente a nação o espectro do neoliberalismo tucano, entreguista, falido, anti-popular e que tem seus expoentes nos governos de São Paulo e do Paraná.
Terá o PT forças para vencer esse desafio? Terá a sociedade condições de despertar desse aparente torpor odiento e separar o joio do trigo? Terão as lideranças políticas e populares progressistas condições de retomar um debate social e desenvolvimentista a tempo de recompor alianças políticas amplas e salvar o projeto nacional? Terá o Brasil condições de suportar o assédio sobre o pré-sal? Será o trabalhador capaz de enxergar quem é a que serve o atual presidente da Câmara, que quer retirar deles os diretos trabalhistas?
Só o tempo dirá. Mas há luz no fim do túnel.
O Brasil é composto de homens e mulheres lutadores. Homens e mulheres que já mostraram ao longo da História que são capazes de amar um projeto nacional de desenvolvimento. Os trabalhadores brasileiros demonstraram inúmeras vezes que são sensíveis às políticas econômicas e sociais que conduzam à diminuição de desigualdades.
Foi com um discurso politizado, nacionalista, anti-financista que Dilma ganhou as eleições contra a casa grande! Dilma venceu Aécio sendo Trabalhista e Lula sabe disso.
Lula sabe o que é o Trabalhismo!
Lula sabe o que é o Trabalhismo!
Eis o caminho. Eis a esperança
Ricardo Jimenez
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