Marx e Engels sempre grafaram 'Lutas [no plural] de classes' porém, a expressão no singular tomou corpo e os holofotes miraram, com muita ênfase, naquela luta entre burguesia e proletariado, entre a classe que detém a propriedade dos meios de produção e a que possui apenas a sua força de trabalho, respectivamente.
Porém, os mesmos autores apontaram a opressão do homem sobre a mulher como sendo a primeira dessas lutas. Valendo-se do seu biótipo, o macho da espécie humana subjugou a fêmea desde os primórdios de sua existência, impondo uma condição cultural que hoje identificamos por machismo.
Mas para além dessas lutas, existe uma terceira que, considerando o tempo e o espaço, chamamos de libertação nacional. Na verdade, essa luta é uma ampliação da luta anticolonial travada no século passado em busca da autonomia política das colônias. Hoje a luta de libertação nacional se dá, majoritariamente, no campo econômico. No final dos anos 30, com muita clareza, o comunista Mao Tsé-Tung alertou que, frente às circunstâncias dadas, a luta de classes coincidia com a luta de libertação nacional.
Na América Latina, Chefes de Estado, alguns deles identificados pejorativamente como populistas, a exemplo de Perón, na Argentina ou Allende, no Chile, atuavam no sentido da autodeterminação de seus países. No Brasil, de uma forma muito particular, a vulgata marxista eurocêntrica, apesar de minoritária, mas ruidosa, se opunha ao governo nacionalista de Vargas que assumia a defesa irrestrita dos interesses nacionais com matizes socializantes.
Fruto de nosso triste passado colonial, o 'complexo de vira lata' ofuscou até a análise concreta da esquerda comunista brasileira. Líderes latino-americanos como Leonel Brizola, apelavam para a luta popular de libertação nacional de maneira com que o Estado se apropriasse das riquezas nacionais, defendendo as chamadas 'reformas de base', enfatizando o distributivismo, o direito da extensa participação política e um desenvolvimentismo repleto de noções socialistas.
Em sua luta foram depositadas esperanças e atenções nacionais e internacionais, contando com poemas de Neruda, a simpatia de Castro e , mais tarde, uma vaga na Internacional Socialista, além dos milhares de votos para o governo do Estado do Rio de janeiro.
No Brasil atual, como em tantas partes do mundo, as três formas de lutas de classes estão em curso. Não existe aqui apenas a forma tão propalada entre trabalhadores e capitalistas ou proletários e burgueses. Cada período histórico se caracteriza pelo emaranhado das três e, dependendo da conjuntura, é determinada a supremacia de uma forma de luta sobre as demais.
Mesmo tendo sepultado a Doutrina Monroe, a América Latina e Caribe continuam travando a luta internacional pela sua libertação econômica e o seu desenvolvimento autônomo.
Já internamente, no norte da América, Canadá e Estados Unidos, como em outros países desenvolvidos, a distância abissal entre pobres e ricos cresce progressivamente. A renda vem sendo redistribuída atendendo, sobretudo, as classes privilegiadas que , não raras vezes, transcendem as fronteiras nacionais. A luta de classes, mais do que nunca, tem as suas vísceras expostas para quem quiser ver.
A apropriação das últimas reservas energéticas do mundo por potências capitalistas, na lei ou na marra, demonstra esse movimento classista.
Marcelo Botosso é historiador, Mestre, Bacharel e Licenciado em História (Cultura e política) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e autor do livro 'FALN, a guerrilha em Ribeirão Preto- Holos Editora.
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