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sábado, 28 de setembro de 2019

Os critérios são pobreza e raça - Por Leonardo Sacramento



"Olá. Trabalho na Secretaria Municipal de Educação. Sou um cara de classe média, branco e faço as minhas doações. Eu pretendo colocar polícia nas escolas onde há mais alunos e famílias negras e pobres, que, como diria Caetano Veloso, de tão pobres são pretos. Nunca trabalhei na periferia. Evito colocar meu sapato lá. Lá fede.

Vou falar que o critério é o IDEB, sem levar em consideração que a pobreza é um dos condicionantes reais do IDEB. Mas eu não ligo. Colocar polícia na periferia é comigo mesmo. Dá mídia. Dentro da escola, melhor ainda, já que não consigo gerir a máquina para tentar diminuir a desigualdade. 

Aliás, mais desigualdade, melhor. Mais empregadas e faxineira mais baratas. Quem sabe volte os tempos das meninas de família, aquelas menininhas negras que "viravam da familia" em troca de "serviços"?

Sei que tanto escola 'militarizada' quanto trabalho precoce nunca acontecerão com membros da minha família. Mas faço doações e, de vez em quando, jogo algumas moedas no farol".
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Quem nunca trabalhou na periferia e não teve um aluno agredido por policiais, mais ou menos como os que mataram Agatha? 

Mas, para o secretário e prefeito, classe média, brancos, que vivem em condomínios da zona zul, os capitães do mato, os comissionados de cabelo loiro (parece ser pré-requisito para ser comissionado na SME) e pseudoprogressistas do CAAF, pobres pretos, que de tão pobres são pretos, não devem ter professores nem na escola. Sempre é caso de polícia.

Não vale brincar de progressista, hein?!

Na lei do sexagenário, em 1885, um artigo específico definia que negros libertos sem trabalho deveriam ser presos em prisões agrícolas com "disciplina militar". No código criminal de 1890, foi transformado em crime de capoeiras e vadios. 

Sempre a disciplina militar aos pretos pobres que, de tão pobres, são pretos. 

A SME e o Nogueira, pelo menos, seguem a tradição. As três escolas com mais pobres e pretos, tal qual a Lei do Sexagenário, com "disciplina militar".

Quer chamar comissão para o PME para quê, cara pálida?

E sim. Os critérios são pobreza e raça.


Leonardo Sacramento é professor

3 comentários:

Fafá Barboza disse...

Perfeito Léo, obrigada pela reflexão

elsa disse...

A comunidade participou desta escolha ou ela foi imposta ?Só pra saber.

elsa disse...

A comunidade participou da tomada de decisão ou ela foi imposta ?Onde estão os estudos que levaram a esta escolha ?Estão publicados em algum documento ?O CME opinou sobre isto ?

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