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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Por ocasião do Fórum dos Movimentos Populares de Ribeirão Preto-SP: em Defesa da Democracia e dos Direitos.


Ocupação do MST no interior de São Paulo.
Foto: Arquivo


Por Frederico Daia Firmiano
da Direção Estadual do MST de São Paulo

No último dia 26 de outubro ocorreu mais um encontro do Fórum dos Movimentos Populares de Ribeirão Preto-SP, na sede do Sindicato dos Químicos, reunindo mais de 30 entidades, movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda. Legatário de uma experiência de mais de 30 anos, entre continuidades e descontinuidades, o Fórum foi rearticulado em 2016 e chega a 2019 com a tarefa urgente de se colocar como alternativa de esquerda contra o avanço das forças mais conservantistas da sociedade brasileira e seu programa ultraneoliberal. Mas para tanto, algumas questões (de diferentes níveis e alcance) carecem ser enfrentadas, como as que estão, entre tantas, sumariamente indicadas (e ausentes de seu devido desenvolvimento teórico, em razão do espaço desta brevíssima intervenção).  


1 – Precisamos reconhecer que a rearticulação do Fórum se deu, sobretudo, em razão do golpe contra Dilma Rousseff que, em 2018, nos levou à derrota representada pela eleição de Jair Bolsonaro. Não apenas uma derrota eleitoral, mas uma derrota política de grandes proporções. Isto, num quadro de profunda crise dos instrumentos organizativos da classe trabalhadora vis-à-vis à reestruturação produtiva do capital – com sério impacto sobre a morfologia da classe trabalhadora – e aprofundamento da ofensiva neoliberal, que remonta ao contexto de surgimento deste Fórum. Deste modo, a derrota é o terreno em que nos movemos agora;

2 – Carecemos de uma profunda auto-crítica e um salto rumo à uma nova estratégia, pois derrota significa, pois, reconhecer a historicidade, por um lado, do avanço das forças do capital e, por outro lado, do conjunto de equívocos por nós cometidos até aqui, pelo menos, desde a primeira eleição de Lula da Silva;  

3 - Temos que nos desvencilhar do discurso segundo o qual “se nada fizermos agora, chegaremos à barbárie”, pois já estamos mergulhados nela – vide os números (que não cabem no breve espaço que dispomos, mas que podem ser checados nas páginas diárias dos jornais – para não dizer junto aos institutos de pesquisa), da violência urbana e rural, contra os grupos LGBT, contra as mulheres, mas também os dados acerca do desemprego no país, no déficit de moradia, na concentração fundiária, entre tantos outros. Se nada fizermos agora, o estado de barbárie da sociabilidade irá se aprofundar. Não há no horizonte do capital qualquer tempo histórico futuro. Sua temporalidade é a temporalidade da acumulação/expansão/valorização, de modo que o capital só pode tentar resolver os obstáculos que eventualmente o impedem de avançar;

4 – Precisamos ter presente que as forças mais conservantistas da sociedade brasileira estão se capilarizando, por meio da guerra de posições, disputando e vencendo, dia a dia, todos os espaços da sociedade. Isto exige que o Fórum também opere neste terreno, da disputa política, ideológica, social. 

5 – Não podemos esquecer que, ainda que as eleições de 2020 ocupem lugar destacado na conjuntura política, elas são apenas um momento da luta de classes. Deste modo, a estratégia deve incorporá-la somente como tática. Nesse sentido, o Fórum de Movimentos Populares deve dispor de estratégia para além das eleições, compreendendo a guerra de posições como importante momento da disputa pela hegemonia, como a conquista do conjunto da classe trabalhadora para nosso projeto – eventualmente subsidiando, do ponto de vista organizativo e programático, a constituição de uma Frente Popular que poderá atuar nas eleições municipais de 2020;

6 – Não devemos perder de vista a crise interna da direita – que ora se manifesta sob a crise do PSL, mas não apenas isto. Partidos de direita, como por exemplo PSDB, já sofreram importantes mutações no sentido da regressão ideológica, o que vem tornando o campo da disputa mais aberto, menos dissimulado. Cabe às esquerdas se afirmar no seu terreno histórico, de defesa dos interesses da classe trabalhadora, sem margem para concessões ou conciliações de classe; 

7 – Precisamos ter clareza que a premissa de que a Frente deverá organizar a luta social daqui por diante é falsa. Lutas acontecem todo dia, encampadas de diferentes modos pelas distintas entidades, movimentos sociais, partidos, sindicatos que a compõem. Ao Fórum cabe articulá-las, conectar as partes ao todo, potencializá-las em direção à elaboração de uma nova estratégia, sem hegemonismos (que é um desvio da esquerda);

8 – Por fim, a construção da unidade de esquerda não pode se dar por “carta de intenções” ou por eventos políticos. Como disse certa vez um violeiro popular, evento é vento, passa. Carecemos, pois, de uma efetiva agenda de lutas, a partir das contradições que mais se explicitam em nosso município e região. É na luta concreta que seremos capazes de construir um programa efetivamente alternativo ao mundo do capital e compensador do ponto de vista humano.  





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