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sábado, 28 de setembro de 2024

Memorial Sebastião Leme realiza Encontro de Saúde Mental Maria das Dores

 

Equipe de trabalho do Memorial, docentes e discentes da USP 

Parceria do Departamento de Psicologia da USP/Ribeirão Preto com o Memorial Sebastião Leme conta com a participação da comunidade, docentes, alunos de pós-graduação e graduação para a realização de encontros no Assentamento Mário Lago


Nesta sexta-feira (27), o Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto, recebeu mais um Encontro de Saúde Mental Maria das Dores. Intitulado de “Replantar o Assentamento”, o encontro aconteceu na unidade de saúde Memorial Sebastião Leme. 


A atividade faz parte do programa de Psicologia Territorializada e Cuidado Integral em Comunidade, o qual conta com a participação de docentes ligados ao departamento de Psicologia da USP/Ribeirão Preto, estudantes e pesquisadores do mestrado desta universidade. O trabalho acontece de forma colaborativa com as equipes de saúde do assentamento.


O Encontro começou às 9h da manhã e teve duas ações que aconteciam simultaneamente. Enquanto um grupo atendia crianças, por meio de atividades lúdicas, coordenadas pela professora Ana Paula Soares da Silva, Coordenadora do Laboratório de Psicologia Socioambiental e Práticas Educativas - LAPSAP. 


A ludicidade é a primeira forma da criança se expressar como sujeito

A importância da ludicidade e da brincadeira 


Ana Paula destaca que a brincadeira é a principal forma de a criança expressar seus medos e anseios, e que o grupo lúdico tem sido uma ferramenta valiosa para fortalecer o vínculo entre as crianças e a equipe de estagiários .


“A ludicidade é a primeira forma da criança se expressar como sujeito, de trazer seus medos e viver suas experiências. É essencial para sua constituição como sujeito. […] “Então, a gente pensou, não, vamos construir esses grupos que são anti-sala, enquanto espera para ser atendido na odontologia. Em vez de ficar aqui, entende? Vem com a mãe, porque a mãe precisa ser atendida no médico. Ao invés dessa criança entrar junto com a mãe, sabe? A gente cria esse espaço lúdico, e, com o tempo, as crianças foram criando vínculos com os estagiários. A gente começou a fazer o que chamamos de acolhimento infantil, e muitas crianças agora querem participar do grupo” .


O outro grupo foi formado por assentados, agregados, moradores locais. A ideia foi resgatar, por meio do diálogo coletivo, das histórias e reflexões coletivizadas, as memórias do assentamento. 


Em seguida, às 10h, uma roda de conversa trouxe Dr. Nélio Domingos, médico da unidade. O objetivo da conversa foi levar orientações sobre saúde mental e ouvir as demandas da comunidade.  


Dr. Nélio e as profissionais da equipe de saúde do Memorial Sebastião Leme


Após as duas rodas de conversa, estagiárias, estagiário, docentes e comunidade saíram para o horário de almoço. Na volta, uma oficina de arte foi oferecida e, logo depois, às 14h30, uma nova roda de conversa reuniu assistentes sociais, a Defensoria Pública e o Núcleo Jurídico. O objetivo foi conversar sobre direitos, violências e acessibilidade aos serviços públicos.


O que é o Encontro de Saúde Mental Maria das Dores


O Encontro de Saúde Mental Maria das Dores faz parte de um projeto, o qual se iniciou em 2021. O nome é uma homenagem à agente comunitária de saúde Maria das Dores. Maria faleceu após uma reunião que discutiu casos de saúde mental. 


O encontro acontece todo mês, sempre no terceiro sábado do mês. Além da participação de estagiários e docentes da USP, as atividades do Memorial sempre são acompanhadas pela presença dos profissionais de saúde do território. 


A mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da USP-RP, Sarah Magela Morais, explicou que o coletivo foi estruturado com o objetivo de proporcionar um cuidado ampliado e contínuo à população. Morais ressaltou que nos encontros o coletivo não aborda, apenas, questões de saúde mental, mas também violências diversas, além das necessidades de assistência social.


Coletivo de Saúde Mental 

Situações de violência


A professora Dra. Laura Vilela de Souza, uma das coordenadoras, falou sobre os casos de violência,: 

“Temos presenciado muitas situações complexas no território, como violência sexual e doméstica, além de luto e tentativas de suicídio. Nosso objetivo é acolher essas demandas, mas também valorizar a vida e fortalecer os vínculos comunitários”. 


Especialista em Psicologia e ações de co-gestão em serviços públicos de saúde, a Profa. Dra. Marina Simões Flório Ferreira Bertagnoli atua na gestão do projeto. Bertagnoli destacou a importância de integrar as diferentes áreas para o sucesso do trabalho. A docente Carla Guanaes Lorenz também integra a coordenação do projeto, sendo responsável pelos atendimentos familiares e visitas domiciliares.


A importãcia da participação dos movimentos sociais


Durante o evento, Sara Magela Morais, mestranda e uma das organizadoras, destacou a importância da parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): 


“Sempre temos algum representante do MST acompanhando nossas reuniões, e isso é essencial para o desenvolvimento do projeto. Sem a articulação com o movimento não conseguiríamos realizar muitas das ações que fazemos aqui”. 


Luciano Botelho, da Direção Estadual do MST destacou a importância do Memorial e do coletivo para a valorização do ser humano.


"Este espaço tem uma grande importância na valorização do ser humano, trazendo o esperançar em meio as dificuldades enfrentadas no cotidiano, tendo a vida como centro de discussão. Possibilita ainda, trazer para cada sujeito a percepção de que é um protagonista de um processo histórico de luta, uma luta contínua e cotidiana, de resistência contra uma sociedade capitalista doente, que valoriza o dinheiro acima da vida."


Sara também comentou que as atividades procuram resgatar as histórias do assentamento, permitindo que os moradores se reconheçam como parte de um coletivo histórico e político.


Os danos dos incêndios na população 


As estudantes de psicologia destacaram que os incêndios causaram  danos à saúde da população, principalmente nas crianças. 


“Elas brincam na fuligem e isso agrava os problemas respiratórios. Estamos vendo um aumento de tosse e outras complicações entre os menores”. 


Outro ponto tocado pela equipe, foi a sobrecarga de trabalho a qual a brigada de incêndio (brigada Fênix) , sofreu com as constantes queimadas. 


O grupo ainda relatou que, quando consultado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em orientação conjunta, recomendou que o replantio das árvores fosse adiado para a época das chuvas. A ideia é evitar a perda das mudas devido a seca. 


Setembro Amarelo


Com o objetivo de reforçar a valorização da vida e o fortalecimento das memórias e identidades do assentamento, o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, foi lembrado em várias falas. 





Além das professoras doutoras, estiveram presentes na atividade desta sexta-feira, atendendo a população:


Mestrandas/os do Programa de Pós-Graduação em Psicologia USP-RP


Sarah Magela Morais;

Marcela Albuquerque Ruero;

Júlia de Morais Silva;

Paula Neves Tannous Dib


Discentes


Juliana Roxo Ferreira;

José Eugênio Valério Pereira

Beatriz Emídio Moreno


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