Páginas

terça-feira, 8 de abril de 2025

Ocupação do MST na Usina São José denuncia crime ambiental e reforça a necessidade de reforma agrária no país

 

A usina está embargada pela Justiça 
Fotos: Coletivo de Comunicação do MST

Movimento Sem Terra exige reforma agrária nas terras do Grupo Farias, responsáveis por contaminação que matou 250 mil peixes em SP e inviabilizou o trabalho de 130 famílias de pescadores

Ocupação denuncia crime ambiental em área embargada judicialmente

Na manhã de 7 de abril de 2025, cerca de 400 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Usina São José, em Rio das Pedras (SP), como parte da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária.

A ação denunciava um dos maiores crimes ambientais já registrados no estado de São Paulo. Em julho de 2024, um despejo irregular de melaço de cana-de-açúcar atingiu o ribeirão Tijuco Preto, afluente do rio Piracicaba. A substância percorreu 70 km até alcançar a Área de Proteção Ambiental do Tanquã, provocando a morte de mais de 250 mil peixes e afetando diretamente a renda de comunidades de pescadores e o ecossistema regional.

Além do dano ambiental, a Usina São José — pertencente ao Grupo Farias — acumula dívidas trabalhistas e está judicialmente impedida de produzir na área devido a embargo ambiental e fiscal.

“Mais de 250 mil peixes foram mortos. A usina tem dívidas enormes e um monte de ações trabalhistas. Deveria ser expropriada, como determina a Constituição em casos de crimes ambientais ou uso de trabalho escravo”, afirmou Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do MST, em entrevista à Rádio Brasil de Fato.

Uso de agrotóxicos perigosos reforça denúncia do MST

Engiopreno chegou a ser proibido no Paraná


Durante a ocupação, o MST também denunciou o modelo químico-agroindustrial empregado pela usina, destacando o uso de substâncias como o inseticida fipronil, o fungicida Poderos e o agrotóxico Engiopreno.

“O Engiopreno, anos atrás no Paraná, contaminou e matou uma quantidade absurda de abelhas. A Anvisa determinou a queima de mais de um milhão de litros por conta de uma fórmula incorreta”, explicou Alan Santos, diretor do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas e Osasco.

O movimento defende que as terras da usina sejam destinadas à reforma agrária, para que nelas se desenvolva a produção de alimentos saudáveis e a recuperação ambiental do território.

Repressão policial e ação sem mandado judicial

Forças policiais descumpriram o acordo gratuitamente 


Apesar de um acordo prévio para uma desocupação pacífica, a Polícia Militar do Estado de São Paulo agiu com violência desproporcional. Poucos minutos após o entendimento por uma saída pacífica, com os acampados já em retirada, cumprindo o acordo, o efetivo policial lançou bombas de gás lacrimogêneo contra os acampados, sem nenhuma justificativa.

A operação contou com a mobilização da Guarda Municipal de Campinas (GMC), da Polícia Militar, do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP) e de um helicóptero Águia — tudo sem apresentação de mandado judicial.

“É uma ação ilegal. Isso se soma a uma prática recorrente no estado de São Paulo de repressão violenta, não só contra o MST, mas contra diversos movimentos sociais. É a defesa institucional de latifúndios criminosos”, denunciou Gilmar Mauro ao Brasil de Fato.

Perseguição continuou em praça pública

Deputada estadual Prof. Bebel (PT) foi autuada

Após o despejo, as famílias se deslocaram até a praça José Bonifácio, no centro de Piracicaba, para seguir protestando de forma pacífica. Mesmo em um espaço público, a Polícia Militar continuou agindo com truculência: tentou impedir falas e autuou a deputada estadual Professora Bebel (PT), que esteve presente em apoio ao movimento.

Durante o ato, Márcio Santos, da Direção Nacional do MST, anunciou que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra protocolou naquela mesma manhã o pedido desapropriação da Usina São João junto ao INCRA. 

Márcio Santos, da Direção Nacional do MST


Reforma agrária e resistência

A mobilização seguirá


Segundo Gilmar Mauro, a jornada de abril segue como forma de pressionar os governos a cumprirem a Constituição:

“Temos mais de 500 mil hectares de terras públicas devolutas em São Paulo. Com reflorestamento e agroecologia, poderíamos assentar 100 mil famílias. Em vez disso, essas terras estão sendo entregues a fazendeiros com até 90% de desconto”, criticou.

O MST promete intensificar sua mobilização nas próximas semanas, exigindo não só o assentamento das 65 mil famílias acampadas no país, como também a reestruturação da política nacional de reforma agrária.


A PM descumpriu o acordo, mesmo após ter desobstruído a passagem à usina e tendo negociado a saída pacífica.


Saiba mais nos links:

Jornada por reforma agrária expõe conflito entre MST e governos: ‘Não vamos parar enquanto as famílias não forem assentadas’, diz coordenador

MST ocupa a Usina São José, em Rio das Pedras (SP), responsável por crime ambiental que matou 250 mil peixes

PM de São Paulo faz despejo truculento de Sem Terra em ocupação da Usina São José, em Rio das Pedras

Nenhum comentário:

Câmara Municipal vota projeto que ajusta jornada de professores e cria compensação salarial

PLC 15/2025 propõe adequação à decisão judicial que reduziu carga horária de docentes e institui verba transitória para evitar perdas salari...