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A usina está embargada pela Justiça Fotos: Coletivo de Comunicação do MST |
Movimento Sem Terra exige reforma agrária nas terras do Grupo Farias, responsáveis por contaminação que matou 250 mil peixes em SP e inviabilizou o trabalho de 130 famílias de pescadores
Ocupação denuncia crime ambiental em área embargada judicialmente
Na manhã de
7 de abril de 2025, cerca de 400 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) ocuparam a Usina São José, em Rio das Pedras (SP), como parte
da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária.
A ação
denunciava um dos maiores crimes ambientais já registrados no estado de São
Paulo. Em julho de 2024, um despejo irregular de melaço de cana-de-açúcar
atingiu o ribeirão Tijuco Preto, afluente do rio Piracicaba. A substância
percorreu 70 km até alcançar a Área de Proteção Ambiental do Tanquã, provocando
a morte de mais de 250 mil peixes e afetando diretamente a renda de comunidades
de pescadores e o ecossistema regional.
Além do dano
ambiental, a Usina São José — pertencente ao Grupo Farias — acumula dívidas
trabalhistas e está judicialmente impedida de produzir na área devido a embargo
ambiental e fiscal.
“Mais de 250
mil peixes foram mortos. A usina tem dívidas enormes e um monte de ações
trabalhistas. Deveria ser expropriada, como determina a Constituição em casos
de crimes ambientais ou uso de trabalho escravo”, afirmou Gilmar Mauro, da
Coordenação Nacional do MST, em entrevista à Rádio Brasil de Fato.
Uso de agrotóxicos perigosos reforça denúncia do MST
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Engiopreno chegou a ser proibido no Paraná |
“O
Engiopreno, anos atrás no Paraná, contaminou e matou uma quantidade absurda de
abelhas. A Anvisa determinou a queima de mais de um milhão de litros por conta
de uma fórmula incorreta”, explicou Alan Santos, diretor do Sindicato dos
Químicos Unificados de Campinas e Osasco.
O movimento
defende que as terras da usina sejam destinadas à reforma agrária, para que
nelas se desenvolva a produção de alimentos saudáveis e a recuperação ambiental
do território.
Repressão policial e ação sem mandado judicial
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Forças policiais descumpriram o acordo gratuitamente |
Apesar de um
acordo prévio para uma desocupação pacífica, a Polícia Militar do Estado de São
Paulo agiu com violência desproporcional. Poucos minutos após o
entendimento por uma saída pacífica, com os acampados já em retirada, cumprindo o acordo, o efetivo policial lançou bombas de gás lacrimogêneo contra os
acampados, sem nenhuma justificativa.
A operação
contou com a mobilização da Guarda Municipal de Campinas (GMC), da Polícia
Militar, do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (BAEP) e de um helicóptero
Águia — tudo sem apresentação de mandado judicial.
“É uma ação
ilegal. Isso se soma a uma prática recorrente no estado de São Paulo de
repressão violenta, não só contra o MST, mas contra diversos movimentos
sociais. É a defesa institucional de latifúndios criminosos”, denunciou Gilmar
Mauro ao Brasil de Fato.
Perseguição continuou em praça pública
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Deputada estadual Prof. Bebel (PT) foi autuada |
Após o
despejo, as famílias se deslocaram até a praça José Bonifácio, no centro de
Piracicaba, para seguir protestando de forma pacífica. Mesmo em um espaço
público, a Polícia Militar continuou agindo com truculência: tentou impedir
falas e autuou a deputada estadual Professora Bebel (PT), que esteve presente
em apoio ao movimento.
Durante o ato, Márcio Santos, da Direção Nacional do MST, anunciou que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra protocolou naquela mesma manhã o pedido desapropriação da Usina São João junto ao INCRA.
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Márcio Santos, da Direção Nacional do MST |
Reforma agrária e resistência
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A mobilização seguirá |
Segundo
Gilmar Mauro, a jornada de abril segue como forma de pressionar os governos a
cumprirem a Constituição:
“Temos mais
de 500 mil hectares de terras públicas devolutas em São Paulo. Com
reflorestamento e agroecologia, poderíamos assentar 100 mil famílias. Em vez
disso, essas terras estão sendo entregues a fazendeiros com até 90% de
desconto”, criticou.
O MST promete intensificar sua mobilização nas próximas semanas, exigindo não só o assentamento das 65 mil famílias acampadas no país, como também a reestruturação da política nacional de reforma agrária.
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A PM descumpriu o acordo, mesmo após ter desobstruído a passagem à usina e tendo negociado a saída pacífica. |
Saiba mais nos links:
PM de São Paulo faz despejo truculento de Sem Terra em ocupação da Usina São José, em Rio das Pedras
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