Centros de ajuda humanitária em Gaza contabilizam centenas de mortes causadas pelo Estado de Israel |
1
há muitos estômagos no escuro
e balas que comem primeiro
o pão não cai do céu
cai chumbo,
bala perfurada com discurso de paz
gente se empurra
gente se engasga
gente se espalha
feito migalha
o centro de distribuição da morte
possui selo de ajuda internacional
um menino morde o vento
com os dentes de leite da fome
a mãe tenta alcançá-lo
mas tropeça na perna que já não tem
há um grito dentro de uma tenda
há um eco em Genebra
mas não chega
não chega
2
um tumulto com perfuração
com entrada e saída
com sangue quente no saco de trigo
com olhos abertos ao pó
como se fosse ajuda
como se fosse vida
como se fosse digno morrer por arroz
com bandeira azul tremendo ao longe
bandeira que não estanca hemorragias
“crime de guerra”
sussurra o porta-voz
num microfone lavado
enquanto alguém deita sobre uma criança esmagada
e reza
por justiça
por farinha
3
as Nações têm nome,
as mortes, também,
algumas irreconhecíveis
se somam às várias pessoas-não
na imprensa cristã
fala-se
de "operações"
como quem desliga um ventilador
mas o que se apaga
é o pulmão
e o corpo vira dado
e o dado, frio, não chora
nem no frio de gaza
e o
poema?
sem rima
sem chão
refugiado sem pátria
sem verso que dê conta
porque a verdade
vem
debaixo
do entulho
e ainda pulsa
ao contrário dos mortos
Poema escrito a partir da notícia Pelo menos 410 palestinos morrem em busca de alimentos
Um comentário:
Excelente !Retrato da realidade em Gaza.
Postar um comentário