Muito mais pelos erros cometidos no início do próprio governo do que pelo real poder dos golpistas, o segundo mandato de Dilma Roussef tem sido de acossamento e desorientação.
A nomeação de Joaquim Levy e sua condução inicial desastrosa do chamado "ajuste", deu todas as armas para os inimigos do governo montarem os palanques do golpe político. Incitando os movimentos extremistas (que defendem do golpe militar às demais bizarrices de sujeitos como Bolsonaro e Malafaia) e se aproveitando dos lamentáveis erros do governo, a aliança mídia-tucanato conseguiu engrossar as tais manifestações chegando no limite de colocar mais de um milhão de pessoas nas ruas no dia 15 de março último.
Em que pese essas pessoas serem majoritariamente eleitores do candidato derrotado Aécio Neves, esse movimento deu força não só para a oposição como, também, para uma ala do PMDB liderada por Eduardo Cunha, este um político ligado até a alma aos esquemas de financiamento de campanhas e interesses empresariais que envolvem o jogo político de grande parte do Congresso. Não à toa, a Globo e o PSDB deram todo apoio à sua eleição como presidente da Câmara, num movimento claro de apostar ainda mais no desgaste do governo e de interromper, via crise, o debate sobre a regulação da mídia e da proibição do financiamento empresarial de campanhas (por isso Gilmar não devolve!).
A aliança mídia-tucanato, que não se conforma em perder 4 eleições seguidas para o PT, conseguiu a tempestade "quase" perfeita contra o governo: pressionado pelas ruas (com transmissão ao vivo na Globo) e desestabilizado na sua base de apoio no Congresso. Com a midiática ascensão do juiz da lava-jato a substituto de Joaquim Barbosa e com a Petrobrás envolvida numa crise, não é exagero dizer que de janeiro a março desse ano o mandato de Dilma Roussef esteve seriamente em risco, incluindo também o PT, ameaçado até de cassação de seu registro.
Mas a política é algo bem mais complexo do que podemos imaginar. O enraizamento do PT nos movimentos sociais, as disputas internas no próprio PMDB, o telhado de vidro do PSDB, a força da Petrobrás no imaginário nacionalista da população e a sede ao pote com que o capital partiu para cima dos direitos trabalhistas podem ter virado o fio do jogo político.
A aprovação do projeto de terceirização do trabalho, ferindo os direitos trabalhistas da CLT, pode ser o começo dessa virada. Essa aprovação se deu majoritariamente com o apoio dos partidos de direita, principalmente o PMDB e o sempre oportunista e covarde PSDB. No limite da tramitação desse projeto (se passar pelo Senado), o veto presidencial será o maior trunfo de Dilma para se reabilitar com a classe trabalhadora e até com setores da classe média que podem ser atingidos pelo retrocesso trabalhista.
A construção do movimento Veta, Dilma! é uma obrigação do PT e dos movimentos sociais. E é isso mesmo: o veto precisa ser construído! Dilma precisa sentir que tem base e apoio para isso!
Essa bandeira, juntamente com o retorno da normalidade na Petrobrás, é o caminho de recuperação da popularidade do governo. Popularidade que só será reconstruída por completo quando o país voltar a crescer e gerar emprego e renda. E isso vai acontecer no médio prazo. Aliás, o próprio Levy parece que levou uma boa enquadrada na sua arrogância inicial e está mais comedido.
O debate sobre a terceirização, mostrando claramente quem é quem, pode isolar o movimento golpista ao pequeno grupo que eles na verdade são. Suas pautas que versam sobre golpe militar, orgulho hétero e demais bizarrices constrangem tanto a Globo quanto o PSDB. Reduzidos ao que realmente são, os extremistas serão abandonados pela aliança mídia-tucanato, assim como foram nas tais "manifestações de junho de 2013", quando a "onda protestadora" arrefeceu.
O fato é que a tentativa da mídia e, a reboque, do PSDB, de dar no Brasil um golpe tipo paraguaio, via parlamento (com apoio nas ruas), pode estar fazendo água. E Eduardo Cunha tem um telhado de vidro tão frágil quanto o do PSDB, e acredito que a ida de Michel Temer para a articulação política pode dar bons resultados no congresso.
O caminho ainda está turvo, o governo pode voltar a errar na condução política, mas acredito que vamos voltar a respirar tempos de democracia plena em breve. Até mesmo os arroubos totalitários de algumas figuras do judiciário, tomados de coragem pelo apoio e prêmios recebidos da Globo, começam a serem contestados pela sociedade civil e instituições importantes do país, como a OAB.
Seguir com a democracia é condição primeira para o país voltar a crescer, protegendo o emprego e a renda de quem mais necessita. E seguir com a democracia significa, também, retomar o debate político de maneira mais clara, recolocando na ordem do dia as pautas progressistas e recolocando nos seus devidos lugares figuras políticas profundamente anti-populares mas que se beneficiam do clima de confusão criado na crise.
Me refiro a José Serra ( que se elegeu senador para buscar concretizar a sua promessa de entregar o pré-sal à Chevron) e a FHC, o aspirante a substituto de Carlos Lacerda, aquele representante da elitista UDN que não tinha votos e por isso apelava ao mais baixo golpismo contra aqueles que eram eleitos com legitimidade ou contra quem tinha um prestígio popular inabalável, como o de Lula hoje.
O momento ainda é delicado, mas temos um caminho menos impedido para trilhar daqui para frente. É momento de seguir em frente na defesa de um projeto popular de pais com o qual tanto sonhamos e pelo qual tanto lutamos.
Ricardo Jimenez
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