domingo, 4 de dezembro de 2016
Transmitido ao vivo, Partido do Moro sai às ruas! O que isso significa?
O Brasil está uma bagunça após o golpe do impeachment.
Como em toda a bagunça, é difícil de encontrar o caminho certo.
Vimos hoje, com transmissão da mídia, mais uma 'manifestação contra a corrupção'.
Diferente das outras, dessa vez foi majoritária a presença do Partido do Moro, da defesa da lava Jato.
Outdoors estratégicos foram espalhados pelo Brasil, mostrando que o Partido de Moro tem estrutura financeira.
A 'indignação' das manifestações chamadas pelo Vem Pra Rua e MBL, dentre outros, recai sobre o Congresso Nacional que modificou as tais 10 medidas contra a corrupção propostas pelos promotores da Lava Jato, incluindo uma lei que criminaliza o abuso de poder de autoridades.
O tom é de crítica e de desconstrução de todo o establishment político, mas, sintomaticamente, preserva Temer e o PSDB!
O que isso significa?
Significa que o Partido do Moro passa a romper com parte da base política que, quando unidos, promoveram o golpe do impeachment.
Nesse momentâneo rompimento, a mídia busca lucrar dos dois lados. Aposta na desinformação sobre as 10 medidas e na criação de uma verdadeira máquina de chantagem política, vestida com a camisa da CBF, como forma de mobilizar pessoas na busca de aprovar o que realmente interessa: o pacote de arrocho e de privatizações!
Na manifestação do Partido do Moro, encontramos faixas em defesa do Moro, da Lava Jato, de Bolsonaro e afins. Encontramos faixas em defesa das 10 medidas do MPF. Encontramos faixas em defesa da PEC do Teto (a PEC da morte, de acordo com a esquerda). Encontramos faixas contra Renan e o PMDB. Encontramos faixas em defesa da intervenção militar.
Só não encontramos faixas contra o PSDB ao mesmo tempo que se nota um esforço danado de parte da mídia para poupar Temer!
É, além de um recado claro ao ex-vice decorativo que está balançando no cargo, um recado ao Congresso. A intenção é enfraquecer o Congresso, onde passarão as medidas do ajuste sem enfraquecer o PSDB e Temer, parceiros no governo golpista.
Assim como o PT é o maior prejudicado eleitoralmente nesse ambiente conturbado da democracia, o PSDB é o maior favorecido.
Isso não é coincidência!
Já se constrói no horizonte um governo legitimamente do PSDB, seja com Temer como decorativo ou com um tucano legítimo eleito pelo Congresso.
Neste ambiente, parece que a esquerda como um todo está passando ao largo, sem conseguir encontrar um caminho de diálogo com o povo.
Há muita gente na esquerda, no círculo progressista, dentro e fora do PT, buscando entender esse fenômeno e buscando, até com certa ansiedade, romper esse isolamento.
É preciso ter calma.
É certo que a indignação com a política permeia toda a sociedade, mas isso não significa que toda a sociedade está filiada ao Partido do Moro, e nem que esteve filiada ao Partido do Golpe, que antes unia os moristas com os peemedebistas, os midiáticos e os peessedebistas contra o PT e pelo impeachment.
É preciso ter cuidado para não adentrarmos num discurso que só reforçará o posicionamento direitista e a confusão na cabeça das pessoas.
Já houve momentos na História em que a esquerda e o progressismo falaram para mais e para menos pessoas, isso é normal. O que não se pode é deixar de falar a verdade, tendo em mente que o alvo primordial é o povo trabalhador e o futuro político.
O povo trabalhador não está nem nunca esteve nas manifestações da direita, à despeito da insatisfação generalizada!
Sem relativizar os erros cometidos, é cada vez mais importante reafirmar que o impeachment de Dilma foi um golpe realizado por um consórcio político/midiático/judiciário para reimplantar o neoliberalismo no Brasil, cassar direitos trabalhistas e aplicar o arroxo sem precisar passar pelas urnas!
Assim, é preciso dizer em alto e bom som que Moro, mídia, PMDB e PSDB faziam parte do mesmo time e são responsáveis pelo desgoverno Temer e pela crise!
O povo tem na memória a realidade de um país inclusivo e em desenvolvimento, e há líderes políticos importantes vislumbrando isso no horizonte, Lula é um deles.
Há que se ter coragem para dizer que combater a corrupção é algo que se faz dentro da democracia!
Criar um Estado acima do Estado, como quer a Lava jato, dando amplo poder para um grupo atuar acima da lei, acabará refletindo contra o próprio povo, realidade de exceção que grande parte dos trabalhadores já vive em seus bairros e comunidades. Portanto, parte das '10 medidas' do Moro e sua turma são ruins e precisam, sim, serem barradas!
É necessário reforçar a luta contra os desmandos da Lava Jato e de setores do Mp e da Justiça, e nisso a luta de Lula contra abusos de poder e cerceamento de defesa é fundamental.
Além disso, é preciso colar a PEC do Teto, a PEC da Morte, que congela por 20 anos saúde, educação e investimentos sociais, no PSDB!
Sim, o sucesso eleitoral atual do PSDB precisa ser compreendido pela esquerda, jamais temido! Já que ele se explica dentro do quadro conjuntural de massacre político midiático contra o PT, e as esquerdas, e de total proteção do próprio PSDB!
Muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte da bagunça do golpismo e o simples retorno ao neoliberalismo dos anos 90, como estão fazendo, só vai reforçar na cabeça do povo a tese de que o PSDB é o vilão do trabalhador.
E, do ponto de vista da corrupção, vem aí a delação da Odebrecht, criando instabilidade até para a própria Lava Jato, já que o PSDB todinho estará ali.
Ou seja, é perfeitamente possível para a esquerda entrar nesse debate, incluindo o debate sobre corrução, desde que não seja no tom da direita, raivoso e criminalizador da política.
Desde que não reforce o discurso de uma elite rentista para a qual crise é sinônimo de lucro. Desde que não seja para confundir ainda mais o trabalhador, fortalecendo a narrativa da mídia e desvalorizando avanços importantes conquistados recentemente e que não podem ser apagados da memória do povo.
Enfrentar a narrativa da mídia não é fácil, mas a missão número um dos progressistas é desmitificar o mantra da direita de que o Brasil é 'o país da corrupção'.
O Brasil é o país da desigualdade, onde reina o clientelismo e o patrimonialismo, braços por onde navegam a sonegação e a corrupção, práticas infinitamente mais ligadas à elite que, com grana, compra a política!
O discurso ' contra a corrupção' feito pela direita só serve como justificativa para o 'ajuste' econômico, para o arrocho.
Enfim.
Esse é o momento de unidade e não de criticismo.
Um novo ciclo de avanço econômico e inclusão social, dentro de um projeto de desenvolvimento nacional, só será possível com a viabilidade política do campo progressista, superando esse avanço momentâneo das forças conservadoras e esse golpe em marcha contra a democracia e o povo brasileiro.
Mas essa unidade deve somar, jamais subtrair. Imaginar que erguer o campo progressista e viabilizar um projeto nacional sem o PT será possível num cenário de golpe é ingenuidade e um erro de miopia política.
Dentro desse quadro de golpe, o PT é uma ferramenta importantíssima de luta, debate político, de defesa dos trabalhadores e da constituição de 1988, mesmo com todos os erros e ataques sofridos.
Hoje, o PT precisa mais de proteção do que de crítica, na opinião desse modestíssimo blogueiro e ativista político.
Não sabemos quanto tempo levará para o golpe ser superado, mas sem o PT esse tempo será bem maior e a própria democracia estará em risco.
Ricardo Jimenez
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