Conhecido e reconhecido
internacionalmente, recebeu diversas honrarias, entre as quais foi premiado
pela UNESCO e conta até então com 35 títulos de Doutor Honoris Causa (boa
parte deles fora do país) e é provável que esse número aumente em razão das comemorações
de seu centenário. Em 2012, recebeu o título de Patrono da Educação brasileira (Lei
Federal 12612), título este que tem sido constantemente atacado e contestado
por pessoas que nunca leram um livro do educador e, ao que parece, não fazem a
menor ideia do que ele disse.
Paulo Freire começa sua trajetória
em meados da década de 40: após se formar em direito, passou a lecionar língua portuguesa.
Mas foi no início da década de 60 que seus trabalhos com Educação de Jovens e
Adultos ganharam repercussão, trabalhando com aquilo que ele chamou de ‘círculos
de cultura’. A forma geométrica de círculo não é trivial, não há arestas! Ela faz
parte do método (ele não gostava de nomeá-lo assim!) e de toda fundamentação teórica
- quebra com a forma rígida e bancária da sala de aula onde professor em
pé a frente ensina alunos enfileirados devidamente sentados – no círculo, todos
se veem, todos se olham e se olhando se comunicam – dialogam, ensinam e
aprendem – educador-educando e educando-educador.
Cultura também não é nem um
pouco trivial. Paulo Freire ressignificou o currículo no processo de
alfabetização na educação de jovens e adultos, saindo da simples repetição e memorização
de fonemas (va – ve – vi – vo – vu) em contextos extremamente
artificiais quase sem sentido (Eva viu a uva.), bastante tradicional na alfabetização
de crianças trazendo a cultura dos alfabetizandos adultos para o centro das
discussões, pois:
“Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É
preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem
trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”.
É isso que ele chama de leitura
do mundo! E fica evidente que leitura do mundo precede a leitura da
palavra, em especial no caso dos adultos analfabetos que conhecem todas as amarguras
do analfabetismo: fome, pobreza, miséria, trabalho precário - sem saber
escrever qualquer uma dessas palavras, sabem bem seus significados, suas dores.
Após o golpe de 64, Paulo Freire
foi preso acusado de traição: ora, querer alfabetizar milhões de adultos
brasileiros é perigoso, ainda mais se durante esse processo de alfabetização é
desvelada a situação de opressão em que vivem – isso era perigoso demais ao
regime, não seria permitido. Paulo Freire é então exilado: Bolívia, Chile,
Estados Unidos, Suíça – 16 anos fora. Durante esse período, Freire escreve a
fundamentação de seu pensamento: primeiro Educação como Prática da Liberdade,
depois Pedagogia do Oprimido - muitos outros vieram depois. Ele volta ao
Brasil em 1980 após a anistia. Participa da elaboração e implementação de programas
de educação do Partido dos Trabalhadores, PT. Foi Secretário Municipal da Educação
de São Paulo, entre 1989 e 1991, na gestão Luiza Erundina.
Ao contrário do dizem os
incautos, o pensamento do educador Paulo Freire ainda é pouco conhecido e
difundido no Brasil – sabe-se quem ele é, mas não se sabe realmente qual seu
pensamento, pouco se estuda (fora da academia) o que ele escreveu e muito pouco
se pratica o que ele propõe nas escolas públicas Brasil afora...
É por isso que devemos, nesse
19 de setembro de 2021, comemorar o centenário de Paulo Freire, resgatar sua memória,
defender seu legado e, por fim, colocar em prática seus ensinamentos para que
possamos ter de fato uma educação como prática da liberdade!
Salve Paulo Freire!
Ailson Vasconcelos da Cunha
Editor do Blog O Calçadão
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