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sábado, 1 de abril de 2017

1o de abril, o golpe civil-militar! Por Marcelo Botosso



Marcelo Botosso*


“Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!”
(Do Editorial do CORREIO DA MANHÃ, de 01 de abril de 1964)


Em 31 de março de 1964, o general Mourão Filho, então comandante da IV Região Militar, apoiado pelo II e IV Exércitos e vários governadores de Estado, entre eles o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, mobilizava as tropas de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro onde se encontrava o Presidente da República. A mobilização visava a deposição do governo constitucional do Presidente João Goulart, liderança esquerdista forçosamente identificada com o bloco soviético naqueles tempos de bipolarização mundial.

Em 1o de abril – e não foi mentira – o golpe de Estado era fato consumado. João Goulart e outros brasileiros partiriam para o exílio sendo que o primeiro só voltaria anos mais tarde na obscura condição de cadáver. Para as elites civis, o 1º de abril é insistentemente classificado como golpe militar na intenção de se eximirem de sua parcela de responsabilidade pela quebra da constitucionalidade democrática e o posterior regime de exceção instaurado.

Para frear os avanços que a classe trabalhadora brasileira vinha galgando, sobretudo a partir da Revolução de 30, violar a ordem constitucional foi a saída e isso certamente não se faria sem o recurso da força. Se o golpe de 1964 inaugura um Estado militarizado, este não pode ser compreendido apenas como uma edificação intrínseca dos círculos militares.

As elites civis brasileiras já davam indícios de seus descontentamentos quanto aos rumos populares que o Brasil tomara. Reconhecer a conquista do direito à cidadania do nosso povo trabalhador, em grande parte negra e mulata, deixara de ser caso de polícia e passara ser caso de política. Isso para as nossas elites, fundamentalmente a liberal e capitalista, herdeiras de um recente passado escravocrata, era uma tarefa mais que indigesta. Mesmo com a morte do presidente Getúlio Vargas, 1954, movida por fortes pressões de seus implacáveis opositores, a UDN (União Democrática Nacional), agremiação político-partidária liderada por Carlos Lacerda, não se inquietou na tentativa de varrer do país o legado nacional-trabalhista de Vargas ainda que para isso fosse necessário recorrer a um estado de beligerância militar com improváveis consequências. As elites nacionais se associando ao imperialismo estadunidense, apoiadas por setores da sociedade civil, a Igreja Católica e tendências conservadoras das Forças Armadas, há tempos confabulavam nesse sentido.

Mas a materialização da intenção golpista ocorreria somente 10 anos após a morte do presidente Vargas, época de nossa história republicana em que o acirramento das contradições de classe e ideológicas parecia chegar na sua plenitude.

Portanto seria errôneo classificar apenas de militar o golpe de Estado concretizado em 1964, haja vista a intensa participação civil naquele evento. Em uma simples designação é possível ocultar intenções com nefastas consequências, principalmente para aqueles que pretendem se aventurar na compreensão de nossa história. Exemplo emblemático desta situação é o termo “populismo” amplamente utilizado na historiografia que – como atualmente admitem consagrados autores - mais prejudicou a classe trabalhadora do que a ajudou. Portanto fica a advertência quanto à titulação do movimento ocorrido no ano de 1964: civil-militar  parece ser a maneira mais precisa de se adjetivar o contexto histórico aqui tratado e que completa hoje 53 anos.


*Bacharel, licenciado e mestre em História pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, autor de vários títulos acadêmicos, entre eles o livro “FALN, a guerrilha em Ribeirão Preto” publicado pela Holos Editora. 

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