15 de março era o dia da posse de presidentes-militares, 13 de dezembro foi a decretação do AI5 e 13 de março o dia do Comício da Central, onde Jango se comprometeu a avançar com as reformas de base e enfureceu o golpismo, o que terminaria no golpe em 1o de abril de 1964.
Seria impossível imaginar até alguns anos atrás políticos que combateram a ditadura participarem de atos realizados em datas que fizessem referência a 64 de mãos dadas com ex-Arenistas e grupos que pregam a volta do regime de força financiados não se sabe por quem.
Mas vivemos tempos bicudos onde tudo é possível, até marcha anti-corrupção ser convocada por Aécio Neves e ter a garantia de segurança da polícia de Geraldo Alckmin (com catraca livre no metrô).
Neste 13 de março teremos mais um capítulo no interminável processo de crise política que o país se enfiou desde quando o grupo político derrotado se negou a aceitar o resultado eleitoral de 2014.
Mais uma vez veremos a classe média branca brasileira sair às ruas em uma data escolhida por grupos como o Revoltados Online, que disseminam a seguinte lógica: Eduardo Cunha é corrupto mas é anti-petista então "somos todos Cunha".
Outros têm outra lógica formidável: "primeiro nós acabaremos com o PT, que é o mal maior, depois vamos pegar um por um e limpar esse país". É incrível a quantidade de pessoas, inclusive já pessoas experimentadas, passadas dos 40 anos, que repetem essa lógica política de cunho infantil e autoritário.
Descobrimos tristemente que o Brasil é composto por milhões de pessoas que não têm apreço pela democracia porque não têm a menor ideia do que seja um Estado Democrático de Direito. Não à toa, Jair Bolsonaro e Moro são os heróis das 'marchas' de amanhã.
Bolsonaro é o Enéas moderno, o objeto de fetiche de quem sonha com um salvador da pátria, um troglodita proto-fascista que vai resolver todos os problemas por ele. Já Moro é o xerife criado na mídia, como um mocinho da novela das 9, com script bem determinado.
Chamado às marchas por grupos que mal conhece e por um sistema golpista que mal compreende, o coxinha vai com ódio e disposto a investir contra qualquer um que se atreva a se vestir de vermelho.
O coxinha é um ser carente e é uma presa fácil para um sistema de mídia golpista que coloca fogo no país e bota milhões de pessoas odiando um espantalho, uma caricatura de inimigo.
Há lideranças petistas envolvidas em corrupção? Há e precisam ser investigadas e, se culpadas, punidas, mas dentro da lei. E assim deve ser com todos, pois a corrupção não é exclusividade de petistas. Mas a existência do PT é fundamental para nossa democracia e para a realização das lutas dos movimentos populares em busca de direitos (espero que o Brasil não descubra isso da forma mais dolorosa).
Mas tem lógica ir em uma manifestação que se diz anti-corrupção sem debater e refletir a postura tucana com relação à máfia da merenda em São Paulo? Tem lógica aceitar a liderança de Aécio Neves, citado quatro vezes na mesma operação que dizem estar 'limpando o país'? Tem lógica ir numa manifestação anti-corrupção onde não há sequer uma referência a Cunha?
Tem, porque as manifestações de amanhã não são para combater a corrupção, são para derrubar o PT. Serve até uma condução coercitiva ilegal de Lula ou um pedido de prisão patético feito apenas para aquecer o movimento. É preciso ser honesto: amanhã não é anti-corrupção, é anti-PT.
Aí entram os oportunistas. O primeiro oportunista é o sistema de mídia que tem os seus interesses políticos e econômicos. Nossa mídia vive de verbas públicas e a disputa pelo poder central é crucial à sua sobrevivência. O segundo e o terceiro são o empresariado paulista e o sistema político tradicional, liderados por PSDB e PMDB.
Assim que o PT for retirado do páreo, pensam, tudo estará livre para voltar ao normal. A proibição de doações empresariais, verdadeira raiz da corrupção no país, será revogada, a política neoliberal, derrotada nas urnas 4 vezes, será retomada e os avanços sociais dos últimos anos entrarão no rodapé dos livros de história.
Continuaremos a ser o país da sonegação fiscal (500 bilhões anuais) e o país que empurra a corrupção e a desigualdade social para debaixo do tapete, como tanto gostam os tucaninhos brasileiros.
Não podemos aceitar que a nossa democracia e o Estado Democrático de Direito sejam golpeados em nome de uma vendeta elitista. A Casa Grande quer de novo colocar os grilhões no país acabando com um patrimônio de 200 bilhões de barris de petróleo do pré sal que podem alavancar de uma vez a indústria nacional e nossa soberania.
Eu não irei às manifestações de amanhã porque a minha manifestação é outra, é em defesa do Brasil, da democracia, do seu povo trabalhador e do nosso futuro. Não coaduno com golpistas.
Ricardo Jimenez
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