O SR. CARLOS NEDER - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, por razões desconhecidas - mas que devem ser investigadas - o Grupo Bandeirantes de rádio e televisão resolveu atritar-se com o Movimento dos Sem Terra, que realizou a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca.
O espaço foi regularmente cedido pela Secretaria do Meio Ambiente do Governo do Estado. Por ali, passaram, durante quatro dias, mais de 170 mil cidadãos. Foram comercializadas mais de 280 toneladas de alimentos saudáveis. Ao lado disso, mais de 250 artistas populares, e pequenos agricultores vindos de praticamente todos os estados da Federação ali estiveram para resgatar a cultura brasileira, a produção vinda de assentamentos da reforma agrária e o debate sobre o papel do Estado.
Havia, inicialmente, a ideia de que seriam 800 participantes. Entretanto, acabaram sendo cadastrados mais de 1.100 trabalhadores rurais, que atuam na agricultura familiar, combatem o uso de agrotóxicos e colocam em discussão o latifúndio e o pouco empenho do Estado brasileiro em dar condições adequadas para que possam produzir em escala, embora partindo de propriedades de pequenas dimensões.
Qual não foi a nossa surpresa quando a Rádio Bandeirantes e a TV Bandeirantes abriram suas baterias contra o MST, fazendo uma contraposição desse movimento social ao agronegócio e outras modalidades de agricultura em escala, dizendo que o movimento pretende destruir a agricultura brasileira. Disseram que o MST seria um movimento não institucional e, portanto, não poderia ter tido autorização do governo Geraldo Alckmin e da Secretaria do Meio Ambiente para realizar a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária.
É interessante observar a trajetória da família Saad. Se nós olharmos como foi constituído esse patrimônio, começando por uma rádio, expandindo a sua presença na radiofonia brasileira e, posteriormente, recebendo mediante concessão pública a possibilidade de se constituir, também, como TV Bandeirantes em um conglomerado, é importante ressaltar que a família sempre atuou no agronegócio, buscando fortalecer a ideia de que movimentos sociais como esse não têm apoio na sociedade e não atuam em benefício dos cidadãos.
Entretanto, sabemos por pesquisas fidedignas feitas por órgãos sérios que a maioria dos alimentos que chega hoje à mesa, para consumo nas cidades e nos grandes centros urbanos, é proveniente desses pequenos negócios e dos agricultores familiares, que fazem a defesa de uma produção orgânica, sustentável e sem uso de agrotóxicos. Exatamente por acreditarem nisso, nós vimos que foram realizados debates pelo MST durante esses quatro dias de feira, como é o caso da plataforma “Chega de Agrotóxicos”, lançada na 2ª Feira Nacional com grande participação, e de outra atividade com o lema “Saúde se conquista na luta e com a produção de alimentos saudáveis”.
Em todos os momentos, houve a denúncia da concentração de renda, dos meios de produção, da falta de fomento e de apoio do governo federal, do governo estadual e de muitos governos municipais à expansão da reforma agrária e da falta de condições mais adequadas para que possam produzir e comercializar alimentos sem o uso de agrotóxicos.
Eu quero, nesse pronunciamento, abrir um diálogo com o Movimento dos Sem Terra, com o site “Viomundo”, que, corajosamente, trouxe à luz esse problema e com o Governo do Estado de São Paulo sobre as reais intenções da Rede Bandeirantes. Ao que tudo indica, o secretário Ricardo Salles, que foi indicado pelo Partido Progressista, também vinculado ao agronegócio, e o governador Alckmin estão sendo provocados a impedir que se realize uma 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária no Parque da Água Branca. É preciso dizer que nós não aceitaremos essa prática odiosa de tentar jogar a opinião pública contra o Movimento dos Sem Terra e seu compromisso com a reforma agrária.
Muito obrigado.
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