Quando completei 16 anos, em
2001, minha primeira atitude foi tirar o título de eleitor. O motivo seria, um
ano depois, votar em Lula. Faria tudo novamente, sem dúvida. Não me interessei
por política por achá-la divertida, me interessei por compreendê-la necessária.
O país das opressões só pode ser transformado pelo poder de quem as sofre.
Hoje, me pergunto: o Brasil
mudou? As reformas estruturais não aconteceram, a espinha dorsal das
desigualdades está viva. A transformação real não aconteceu, os dominantes são
os mesmos, os feridos também. Um golpe foi dado para reordenar o processo
histórico hegemônico das elites brancas e as lideranças populares foram
novamente escanteadas do poder.
Vinícius Barros é colaborador do Memorial da Classe
Operária - UGT, conselheiro de cultura, historiador e fotógrafo.
Vejo os lados da polarização
manifestarem suas idolatrias na atualidade. Uns lamentáveis pelo juiz parcial e
midiático, uma marionete do poder que está por trás da "justiça
brasileira". Outros pelo presidente mais popular que o Brasil já teve, mas
que hoje mostra claramente os limites do humano: cansado, defensivo, óbvio,
superexposto e superestimado.
Por que não me insiro nessa
narrativa de defesa desesperada por Lula, ainda que veja como injusta a sua
caçada? Produzir mártires às vezes pode ser a única saída de quem se vê
massacrado por um poder absoluto, porém mostra a falta de respostas de fato
representativas. Depõe sobre o entendimento que temos sobre a política e suas
demandas, ao depositar em um homem nossas necessidades, ao personificar a
salvação.
Propor uma nova eleição a
Lula somente interessa porque ele ainda manifesta um sonho não realizado, não
obstante tenha desperdiçado as oportunidades.
A história tem seus
processos, seus tempos, seus fins e seus começos. Lula seria muito mais
interessante, produtivo e sábio participando da elaboração do novo,
colocando-se como referência e inspiração para aquilo que precisa se
desenvolver nesse momento na sociedade brasileira. Até empolga esse
“cala-a-boca-burguesia” que seria uma nova eleição sua, porém como saída
concreta às nossas mazelas, não empolga e não convence.
Acredito que as respostas
políticas do nosso tempo serão muito mais difíceis e não tão óbvias como
parecem. Está numa posição complicada quem detém muitas certezas baseadas em
experiências passadas. Prefiro esperançar que “o novo sempre vem”, com respeito
e consideração pela história, sem medo, com força.
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