Conselheiro Estadual pela APEOESP, professor Roberto Tofoli falou criticou a implementação das Escolas de Tempo Integral pelo governo de João Dória.
Nesta segunda-feira (26) durante o programa Análise da Semana, o professor e Conselheiro Estadual da APEOESP, Roberto Tofoli, criticou o fechamento de salas e a implementação de novas escolas de período de tempo integral em Ribeirão Preto pelo Estado de São Paulo. Para Tofoli, o governo de João Dória está acabando com o ensino noturno na periferia.
Durante a entrevista, o professor de História
afirmou que o governo estadual pretende que 50% das escolas sejam integrais até
2025. Entretanto, para o Conselheiro Estadual, a transformação de escolas
regulares em integral está excluindo os alunos, uma vez que muitos não se
adaptam ao modelo por necessidades várias, como trabalho doméstico, trabalho
externos entre outros. Escolas como...
“Hoje, em Ribeirão Preto, nós temos 9 escolas de tempo integral. Na escola de tempo integral o aluno entra às 7:00 e fica até às 16:30, tanto do Ensino Fundamental II como o do Ensino Médio. Este aluno tem 3 refeições. No período da manhã, o aluno segue o currículo normal de disciplinas e no período da tarde ele tem aulas de reforço. Este é o discurso do Dória e do Rossieli1: mil maravilhas, que a escola de tempo integral é a salvação da Educação Pública do Estado de São Paulo. Agora, nós temos de saber qual é a realidade.
Cadê o restante?
Roberto afirmou que o discurso do governo João
Dória é de que até 2025 50% das escolas se tornarão integrais.
“Por que ele fala em 50%? Porque tem aquele aluno que trabalha, que não se adapta à escola de tempo integral”
Tofoli fez um recorte das salas que foram fechadas
e quantos alunos debandaram de escolas como Fernandes Palma, Eugênia Vilhena,
Cid de Moreira Leite, Vicente Teodoro, Pedreira de Freitas e seus respectivos
paradeiros.
“Para vocês terem uma ideia, o (Sebastião) Fernandes Palma tinha 32 salas de aula, manhã, tarde e noite. Hoje, a realidade é de 13 salas com aulas só na parte da manhã. Não funciona à tarde e à noite é ETEC”.
“A escola Eugênia Vilhena de Morais que fica aqui na Vila Virgínia tinha 900 alunos antes de virar integral. Ela funcionava de manhã, à tarde e à noite. Em 2020, ela virou integral. Hoje, ela tem, exatamente, 390 alunos. Cadê o restante? Se é uma escola tão interessante, cadê? Para onde foram estes alunos do noturno? Foram para a escola José Lima Pedreira de Freitas, que é a escola mais perto, só que das 13 salas que existiam no noturno do Vilhena, vieram só 7. O que aconteceu? Hoje nós temos 170 alunos, de 7 salas. De 13 ficaram 7. Cadê o restante? Para onde foram estes alunos? Para a escola Otoniel Mota. A escola Otoniel Mota, no total, tem 54 salas sendo que no noturno são 21. Só que ela não suporta mais.”
Outro exemplo apontado pelo professor foi a EE
Professor Cid de Oliveira Leite, onde encerrou-se o noturno.
“Hoje o Cid de Oliveira Leite está com 360 alunos. Ele tinha mais de 900 alunos. Se a escola de tempo integral é tão boa assim, por que o aluno não fica, não se adapta, por quê? Esta é a questão”.
Complexo da Vila Virgínia
Outro ponto levantado por RF é a ação do governo
estadual de transformar as escolas localizadas na Vila Virgínia e arredores em
escolas de tempo integral, mandando os alunos que não se adaptarem para E.E.s
distantes, o que pode gerar abandono escolar.
“O que o governo está fazendo? Aqui no complexo da Vila Virgínia se tem Eugênia Vilhena, que é integral, do Ensino Médio; Vicente Teodoro, que é do 6º ao 9º ano; Monte Carlo, que é Ensino Médio e agora que transformar o Pedreira em integral, do 1º ao 9º ano. Porque a partir de 2022 nós vamos ter o integral, também, do 1º ao 5º ano. O que vai acontecer com estes 170 alunos da noite? Não sabemos. Ou eles vão jogar para a Glete de Alcântara, mas a maioria mora aqui, não mora lá (Parque Ribeirão Preto) ou para o Otoniel Mota. Eu tenho uma aluna que trabalha com reciclável e certa vez ela me disse que não teria dinheiro para ir ao Otoniel Mota e nem para a Glete”, disse.
Sucateamento do Ensino Noturno
“O noturno é uma dificuldade muito grande. O que o governo está fazendo? Ele está acabando com o noturno nos bairros da periferia e está jogando todo mundo para o centro. O Otoniel Mota recebe todos os alunos de todos os bairros. O Thomaz Alberto (Whately) recebe alunos de todos os bairros. Tinha que ter um estudo de logística na periferia, um censo nos bairros, nas periferias. Por exemplo, o nosso aqui (José Lima Pedreira de Freitas) possui uma demanda muito grande. A demanda tem. Se o Otoniel Mota tem 21 salas noturnas é porque tem demanda de alunos. Não precisa fazer o aluno sair do bairro dele para estudar no centro. Que se faça um senso para saber quantos alunos estão precisando. Por exemplo, a região do Complexo do Simioni, no Quintino Facci II, não tem uma escola noturna. Eles são obrigados a irem estudar ou no Thomaz Alberto ou no Otoniel Mota.”
Então, se vê a dificuldade. Muitos dos alunos já
trabalham, muitos não têm condições de pegarem o ônibus. Ano passado eu tive
aluno que tinha de ir a pé do Thomaz Alberto para o Simioni3 porque
não tinha condição de pagar a passagem. Esta é a realidade da escola pública do
Estado de São Paulo, do PSDB”, encerrou.
Foto ilustrativa do percurso que uma pessoa leva da E.E. Prof. Thomaz Alberto Whately até a entrada do bairro Adelino Simioni. O tempo de caminhada gira em torno de 90 minutos. Foto: Google Maps |
Por uma Escola Integral, mas integrada
O Conselheiro Estadual afirmou que a APEOESP não é
contra o modelo de escola de tempo integral, mas contra o modelo de escola de
tempo integral implementada pelos governos do PSDB no Estado em suas
administrações. De acordo com o professor, o modelo apresentado pelo governo de
João Dória é excludente e antidemocrático.
“Nós não somos contra a Escola de Tempo Integral. Nós lutamos por uma escola integrada. Nós somos contra este modelo de escola de tempo integral do PSDB, que é uma farsa. Nós somos a favor de uma escola em que a criança, o adolescente receba 4 refeições por dia, que tenha aulas, realmente, aonde o aluno vai aprender a ler, a escrever, a pensar. Uma escola integrada, com qualidade, democrática. Nós lutamos para isso. Nós lutamos para que a escola seja integral, mas integrada, não esse modelo que representa a exclusão do aluno e do professor.
Veja a participação de Roberto Tofoli no programa "Análise da Semana", na íntegra, clicando no link abaixo:
Participação do professor Roberto Tofoli no programa.
Notas
1. Rossieli Soares da Silva, atual Secretário da
Educação do Estado de São Paulo.
2. E.E. Nair Guilhermina Pinheiro Nogueira
3. Bairro Adelino Simioni, Zona Norte da cidade.
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