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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

JUNHO DE 2013, ELEIÇÕES MUNICIPAIS E A CONSTRUÇÃO DE UMA ALTERNATIVA DE ESQUERDA PARA RIBEIRÃO PRETO! Por Cassiano Figueiredo

Estamos passando pelo primeiro processo eleitoral municipal depois do Levante de Junho de 2013, que sem dúvida alguma foi o maior movimento de massas no Brasil na última década e meia. Sem dúvida alguma, junho de 2013 é uma importante marca para a reformulação da esquerda e sua capacidade em fazer movimento de massas.

Não menos importante, estamos também diante de uma desfavorável conjuntura política e econômica nacional, onde as elites concluíram outra manobra reacionária, afastando Dilma Rousseff do governo, que já não acumulava apoio no Congresso para, sequer, passar o ajuste fiscal. Essa manobra veio para instituir um novo governo ilegítimo e reacionário, que cumpre o papel de autêntico representante das elites econômicas e fazer o ajuste fiscal contra a classe trabalhadora e da juventude, de forma geral.


A agenda reacionária de Michel Temer e seus comparsas no Congresso Nacional tem como eixo os cortes nos direitos trabalhistas, aumento na idade da aposentadoria, um plano de congelamento de gastos sociais por 20 anos, a redução dos direitos políticos dos partidos de esquerda, especialmente contra o PSOL, como o caso da cláusula de barreira, são apenas algumas das marcas daquilo que vem pela frente. Estamos certos de que para enfrentar isso é preciso que esquerda reinvente sua habilidade de dialogar de forma ampla com as massas.

Nosso grande desafio enquanto esquerda é o de impulsionar as lutas sociais e também de servir como fonte de organização política para resistir aos ataques do governo Temer. Agora mais do que nunca é papel da esquerda defender que a única saída desta crise é a luta por mais direitos.

Sabemos que a principal trincheira para apresentar essa resistência contra o governo Temer é ocupar as ruas, com atos cada vez maiores, e também ocupar os prédios públicos, como nos ensinou o movimento de mulheres e o movimento secundarista, que respectivamente derrotaram Eduardo Cunha e Geraldo Alckmin. Mas essas não são todas as trincheiras das quais dispomos. Nesse momento também é preciso retomar a tradição da luta sindical, reorganizar grandes frentes e unidade contra a agenda de Temer, como fizemos no ato do dia 17 de setembro. Estas são vias fundamentais no processo de luta contra o Temer.

E ainda não podemos descartar as vias institucionais e o processo eleitoral. Em nossa cidade, salvo as candidaturas do PCdoB/PT e do PSOL, todos os demais candidatos apoiaram o processo de impeachment conduzido por Cunha, Renan e pela rede globo.

Porém, nesse processo que exige uma reorganização da esquerda, em Ribeirão Preto estamos muito fragilizados. O PSOL, com o companheiro Dr. Hermenegildo não acumula enraizamento suficiente para fazer um debate com real inserção de massas ou mesmo na classe trabalhadora, isso para não apontar os problemas financeiros e de estrutura que inviabilizam uma campanha de massas. A construção de uma nova esquerda ainda é muito incipiente em Ribeirão Preto, mas aponta alternativas interessantes no que diz respeito ao movimento de juventude.

Se o PSOL possui tantos problemas que inviabilizam uma campanha como deve ser a de um partido de esquerda por questões estruturais, a outra candidatura não acumula legitimidade para defender o discurso da esquerda e dos movimentos sociais. Wagner não pode botar o dedo na cara do candidato A ou B e cobrar o desvio de verba da merenda, não pode perguntar se o irmão do candidato golpista toma café com os corruptos pois o Wagner e seu modo falido de condução do movimento sindical também estão envolvidos no “esquemão” de corrupção que revelou a podridão de toda a casta política de nossa cidade, por isso a candidatura não pode ter o tom combativo que muitas e muitos companheiros da base desses dois partidos, dos quais discordo em muitas questões, mereciam. O tom tem que ser da "paz e amor".

Juntos, Hermenegildo e Wagner acumulam três por cento das intenções de voto. E Hermenegildo ainda aparece à frente de Wagner, ainda que com menos estrutura, tempo de televisão e dificuldades técnicas. Esse fato por si só representa que entre os poucos militantes convictos que somos nesta cidade tão conservadora, já há um começo de reorientação eleitoral da esquerda.
Nós não poderíamos deixar de falar de outros tantos candidatos a vereadores, dentre os quais alguns que possuem uma falsa imagem "progressista", como é o caso do vereador Marcos Papa (REDE), que se somou com muitos outros às manifestações organizadas pela direita. Estes demonstraram um oportunismo ideológico com seu discurso fajuto, outros mostraram uma grande demagogia. Alguns desses vereadores que foram às ruas contra a corrupção estão agora sendo acusados justamente de corrupção.

No Brasil todo a esquerda passa por uma reorientação eleitoral. Em Porto Alegre, Luciana Genro aparece nas pesquisas à frente de Raul Pont, o mesmo ocorre em Belém do Pará com Edmilson Rodrigues liderando. No Rio e em São Paulo, a força de Freixo e Erundina têm sido campanhas que têm empolgado a militância, e também demonstram uma possibilidade de reorganização eleitoral da esquerda, ainda que as hipóteses de vitória do PSOL, no Rio ou em São Paulo estejam menos clara que nos outros casos.
Fica evidente quais são nossas tarefas para a cidade. Precisamos, nestes últimos dias de campanha, fazer um grande esforço para que vereadores e vereadoras com firmeza ideológica, vindos da luta sejam eleitos. Precisamos reorganizar a esquerda em Ribeirão à partir de mandatos de uma esquerda combativa.

Combinado com isso, é preciso canalizar toda a repulsa à podridão política da maioria da população para eleger mandatos verdadeiramente populares e comprometidos com as causas sociais, mas também para a construção do movimento de massas para botar abaixo o governo Temer.

Neste processo, com todo respeito às divergências que evidentemente muitos dos companheiros e companheiras que constroem ou acompanham o blog, e longe de fazer aqui uma análise meramente panfletária, o PSOL é quem aparece com chances interessantes de catalizar o sentimento geral de repulsa com os partidos que aparecem envolvidos em esquemas de corrupção em todos os níveis. Sabemos que a reorganização da esquerda e a construção de um novo projeto, que supere o programa “democrático e popular” construído por mais de duas décadas em torno do PT, não será uma tarefa levada a cabo somente pelo PSOL. Será um processo construído a muitas mãos, com a participação dos diversos movimentos sociais que têm surgido desde 2013, ou não será.

Precisamos construir um novo horizonte para a esquerda brasileira (e ribeirão pretana), que aposte em uma superação de nossa institucionalidade e um aprofundamento dos mecanismos democráticos. Que se coloque claramente contra os interesses da casta política e econômica, uma esquerda que “não tenha medo de dizer seu nome”, como diria Vladimir Safatle. O processo de construção dessa alternativa se dará nas lutas e nos enfrentamentos que virão e este processo eleitoral é parte fundamental deste processo, pois a conquista de mandatos a serviço dessa construção pode ser determinante para o nosso sucesso.

Cassiano Figueiredo é militante do PSOL RP, Diretor Estadual da UEE e Coordenador do Juntos

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