No
dia 06 de agosto último, o mestre do samba paulista João Rubinato completaria
106 anos de vida.
Ao iniciar sua carreira musical, adotou o
nome artístico de Adoniran, emprestado do amigo de boemia, e Barbosa herdado do
sambista Luís Barbosa, ídolo do mestre, que batucava de maneira original no
chapéu e cantava de forma sincopada, introduzindo o breque no samba.
Cantando a música Filosofia de autoria de
Noel Rosa em um concurso de calouros no rádio, Adoniran se livrou do gongo e
foi classificado, o que lhe rendeu um contrato com a emissora. Ao ser indagado
sobre o assunto, ele sempre dizia: tenho certeza que o homem do gongo estava
distraído e esqueceu de me gongar.
Apesar de compor desde a década de 1930, o
primeiro sucesso de Adoniran foi a música Saudosa maloca, gravada no início dos
anos 1950 pelo Conjunto Demônios da Garoa.
Adoniran é considerado um dos grandes
cronistas da cidade de São Paulo, pois suas músicas retratavam o cotidiano da
cidade, a vida dura das pessoas simples, além de colocar em evidência as
mazelas que a metrópole produzia naquela época. Utilizando-se do tema maloca,
favela ou morro, o sambista compôs, além da música Saudosa maloca, Abrigo de
vagabundos, No morro da Casa Verde, No Morro do piolho, O casamento do Moacir e
Despejo na favela. Essa última foi proibida pelos censores durante a ditadura
militar, pois não gostaram do final da música, que dizia: pra mim não tem
problema, em qualquer canto eu me arrumo, de qualquer jeito eu me ajeito,
depois o que eu tenho é tão pouco, minha mudança é tão pequena que cabe no
bolso de trás, mais essa gente aí hein, como é que faz! (censurado).
Aproveitando as músicas compostas por
Adoniran e o seu grande talento teatral, o produtor, roteirista e compositor
Osvaldo Moles criou o programa humorístico História das malocas na Rádio
Record, tendo como personagem principal o Charutinho, incorporado pelo nosso
querido Adonis (apelido ganho do amigo Nicola).
Osvaldo tinha um grande talento para a
comédia e soube criar personagens e histórias populares, além de ser muito
irônico e engraçado ao construir frases como: tragédia de pobre, quando não dá
morte...dá samba.
Antes de cada faixa do programa História
das malocas, os dois personagens principais, Terezoca e Charutinho faziam um
diálogo introdutório como esse:
Terezoca – Charutinho, cê podia dá uma ispiculação pra mim? Charutinho – Fala, véia, que teu bafo tem ferrugem!
Terezoca – Charutinho, cê podia dá uma ispiculação pra mim? Charutinho – Fala, véia, que teu bafo tem ferrugem!
Terezoca
– Quem é esse cara chamado Chico Lingüiça?
Charutinho
– É o rei da preguiça. Nunca trabaiô. Um dia arresolveu trabaiá e deram uma
surra nele.
Terezoca
– Ué? O cara vai trabaiá e em lugá de ganhá dinhêro ganha lenha, ganha pancada?
Charutinho
– É que ele arresolveu trabaiá no dia Primeiro de Maio, o dia do trabáio, o dia
que ninguém faiz nada.
Terezoca
– Mi sigura...É aquele que o emprego dele é percurá emprego?
Charutinho
– Pois é...Ele é tão preguiçoso que ele tem um cachorro, viu véia...É o
cachorro que fala, e ele é que late!
Adoniran levava muito a sério essa história
de falar errado e quando foi criticado por Vinícius de Moraes por sua maneira
de falar, respondeu: eu falo o linguajar do povo. O povo fala arrresolveu,
pobrema, trabáio, lugá e ispiculação, então eu falo igual.
Como disse Antônio Cândido, o nosso querido
Adoniran falava a língua
ítalo-caipira-paulista, que exprimia a linguagem da maioria esmagadora
dos paulistas daquela época, daí a enorme popularidade do artista.
A vida de Adoniran como de vários artistas
populares foi cercada de mitos. Um dos principais é a história de que ele foi
ao médico reclamando de uma dor profunda na barriga. Depois que o médico o examinou
com cuidado, disse: seu Adoniran, o senhor está bebendo muito álcool? Adoniran
olhou para o doutor, deu uma pausa e disse: só quando não tem pinga doutor.
Para mim é um grande prazer escrever sobre
o nosso querido Adoniran, mas tudo tem o seu fim e receio que esteja na hora de
eu acabar, explicando o significado do título do texto.
No dia 12 de julho de 1965, o sambista foi
convidado para participar do Programa O Fino da Bossa, apresentado pela nossa
grande intérprete Elis Regina, a Pimentinha.
Durante os dez minutos em que participou do programa, o compositor
respondeu perguntas da apresentadora e cantou algumas músicas, tais como, As
mariposa, Um samba no Bixiga e Prova de carinho, mas quando Elis perguntou com
quem ele teria feito a música Luz da Light, o mestre respondeu imediatamente:
essa eu fiz comigo mesmo.Sandro Cunha é professor e amante do samba e das histórias do samba.
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